Sugestão do dia: King Diamond, In Concert 1987: Abigail

Um registro áspero e verdadeiro.

E começamos mais um mês com todas as incertezas que estamos enfrentando, o que só aumenta nossa ansiedade por dias mais normais. O negócio é continuar zelando pela nossa saúde. Aguentem as pontas, temos que acreditar que isso vai passar logo. Agora pare de pensar nos problemas, vamos falar de música.

Como vocês já se acostumaram, à ideia aqui é propor alguma coisa para que você ocupe um tempinho do seu dia conhecendo algumas curiosidades e o mais importante, preenchendo um pedaço do seu tempo com uma boa dose de música pesada. E a dica de hoje é o álbum do King Diamond, In Concert 1987: Abigail.

“In Concert 1987: Abigail” é um álbum ao vivo do ex-vocalista da banda MercyFul Fate, King Diamond, que foi gravado em 1987 durante a tour do disco “Abigail”. A data do lançamento do trabalho é incerta, pois existem registros contraditórios nos próprios releases da gravadora Roadrunner, responsável pelo lançamento, variando entre os dias 4 e 7 de dezembro de 1990, até 12 de janeiro de 1991. A referência no catálogo, RRD 9287, via Roadracer – um braço da Rodrunner – indica a data de 1991.

O próprio King Diamond já disse diversas vezes que “In Concert 1987: Abigail” não foi gravado com o propósito de ser lançado, e na verdade ele serviu apenas para cumprir o contrato com a gravadora da época, a Roadrunner. King diz que estava vasculhando algumas caixas velhas em um porão escuro de sua casa, quando encontrou três rolos de fitas não marcadas. Quando as ouviu, descobriu que eram gravações de sessões ao vivo de alguns shows da tour do álbum “Abigail”. E aproveitou o material para ‘pagar’ a pendência de lançar mais um disco pela gravadora Roadrunner. King deixou o selo devido à falta de suporte promocional que seu trabalho de 1990, o álbum “The Eye”, recebeu. Talvez por ser em tom de despedida, a Roadrunner fez mais divulgação para o álbum “In Concert 1987: Abigail” do que para o disco anterior. Certamente King não teve saudades dos últimos momentos desse relacionamento.

Apresentando a mesma formação que gravou “Abigail”, exceto pelo guitarrista Michael Denner que havia deixado à banda e foi substituído pelo sueco Michael Moon, “In Concert 1987: Abigail” capturou de forma crua momentos entre os mais de 70 shows que fizeram parte da tour do excelente segundo disco de King. “Abigail” foi lançado em 15 de junho de 1987 e vendeu mais de 175 mil discos só na America do Norte. No setlist usual de quinze músicas daquela época, nada mais e nada menos, que oito das nove músicas de “Abigail” faziam parte. Infelizmente “In Concert 1987: Abigail” não possui o set completo: das doze faixas, uma é da antiga banda de King; duas do seu primeiro disco,“Fatal Portrait”; solos de La Rocque e Dee; e seis faixas de “Abigail”. Além do bônus, “No Presents For Christmas”, que só saiu anteriormente em um single.

A respeito da qualidade do registro, que foi produzido por Roberto Falcão e King Diamond, é preciso lembrar que não havia a intenção daquelas fitas serem realmente aproveitadas. Naqueles dias não era muito frequente pequenos selos, ou mesmo médios, investir muito dinheiro em seus grupos. Para as gravações ao vivo geralmente a produção era limitada a alguns microfones bem colocados e um gravador na mesa de som. No final, você conseguiu o que conseguiu e segue o jogo.

Já li muitas críticas falando muito mal desse álbum. Reclamando da produção, do setlist, do som. Bom, no meu caso não encontro esses defeitos todos, pois eu já comemoro a existência desse registro de um período extremante importante na carreira de King Diamond. Quanto à produção, se é que ela existiu, fez o disco soar honesto do começo ao fim. Em quantos shows você já esteve em que o responsável da mesa de som precisou de umas duas ou três músicas pra equalizar tudo? E é isso o que mais me atrai em “In Concert 1987: Abigail”. Embora este lançamento tenha sido remasterizado posteriormente, eu não percebi grande diferença para essa versão original. E o que é muito bom, pois mantém a frase, “This album is LIVE in the true sense of the Word”, que está estampada no encarte sendo verdadeira.

Meu CD, importado americano, foi comprado em 25 de novembro de 1991 na loja da Hellion Records, na Galeria do Rock. Mesmo sendo um disco do selo Roadrunner, que era representado naquela época no Brasil pelo Estúdio Eldorado e tinha lançado grande parte das discografias do Mercyful Fate e King Diamond, os fãs tiveram mesmo que investir no produto gringo, pois o álbum não foi lançado aqui. E esse CD eu fiz questão de comprar no modelo ‘envelopão’ por causa do seu belo acabamento.

Um conselho, não ligue para esse pessoal que só gosta das coisas perfeitas demais e aproveite de verdade esse álbum. Coloque o volume no 11 e sinta-se em um show dessa banda fantástica. Michael Moon fez um bom trabalho no lugar de Denner, Timi Hansen constante como sempre e o brilho das estrelas Andy La Rocque e Mikkey Dee, esse sempre sendo monstruoso, garantem que vale a pena. Quanto ao Rei, não existe ninguém como ele. Até a próxima.