“Não é só “mais” ódio juvenil”
Nota: 3,5/5.
De vez em quando, pode ser revigorante fugir do lugar comum ouvindo um disco que quebre o marasmo de um cenário cuja maioria dos artistas busca chamar atenção simultaneamente. Tem sido assim no mundo da música e, especialmente no mundo do rock. Felizmente, não frequentemente, surge um nome que vem para desconstruir parte desse universo paralelo que ajudamos a criar com nossas preferências. Um monstro de regras e senhas instituídas que acabou virando modus operandi pra muita gente. Um movimento engessado que, inclusive, acaba por fortalecer os radicais.
São raros os artistas que vêm pra nos fazer pensar e questionar a existência de uma hierarquia segundo a qual um estilo determina outro. Considerando que esta hipótese seja verdadeira, acho justo também considerar que, para medir a importância de um ou de outro gênero, um critério plausível, seria aquele que conseguisse demonstrar com clareza o grau de independência ou de submissão do artista em relação ao “stablished”, visto que o rock deve ser, antes de tudo, rebeldia.
Nesse sentido, se você, assim como este que vos escreve, têm se sentido entediado com a postura clássica e trivial da maioria dos artistas, especialmente a dos “rosqueiros”, deve concordar que já faz tempo que nada de realmente relevante acontece. Não falo apenas no sentido criativo, mas de uma atitude genuinamente Punk no Rock ‘N’ Roll, que pode ser percebida pelo basicão “do it yourself”, que é a mãnha de se virar pra fazer as coisas acontecerem, e se estende até o fato de o cara se incomodar com questões sociais elementares como a fome e a miséria no mundo.
O Mastodon – pelo menos para mim – se apresenta como uma dessas bandas que têm rompido esse tipo de marasmo na música, não apenas por qualificar-se no critério básico da “rebeldia punk”, mas também por criar e executar uma música controversa, desafiadora e criativa.
Em Remission (2002), seu segundo disco, os caras se lançam na procura por um som que levariam tempo para se apropriar. Mesmo assim, moldando uma identidade ainda desfigurada, a banda foi capaz de criar algo que vai além do mero ódio juvenil. A abordagem é ríspida e os primeiros momentos do disco são difíceis de assimilar. Mas se você persistir e ouvir o álbum mais de uma vez, começará a perceber os detalhes. O prazer das descobertas iniciais vai te dando elementos pra continuar o exercício e antes que perceba, terá se convencido do quão inconvencional é o som dos caras. E o mais importante, poderá também haver conseguido quebrar um pouco do cimento que te impedia de pensar de uma forma crítica. A música do Mastodon se comunica com o ouvinte de uma forma estranha, mas viciante. Talvez, leitor, durante o sono você possa ter acessado imagens evocadas pela música do Mastodon. Talvez, após ter ouvido esse disco, algo se apresente pra você como uma reminiscência, que pode vir em forma de fúria ou de perdão.
> Texto publicado originalmente no blog Esteriltipo.