O ano de 1993 foi basicamente o último suspiro do hard rock farofa como o conhecemos. A saturação do estilo e a ascensão do grunge obrigaram muitas bandas a “dar um tempo” e repensar suas carreiras, enquanto outras se viram obrigadas a deixar sua sonoridade mais “madura” para tentar se manter relevantes e pagar suas contas. Foi em meio a este cenário que o Winger lançou Pull, um disco que apesar de diferente, revelava facetas interessantes ainda não vistas/ouvidas pelos fãs.

Já sem o tecladista/guitarrista Paul Taylor (que saiu alegando exaustão e desejo de trabalhar em outros projetos), Kip Winger e sua trupe imprimiram uma sonoridade pesada e dark (para os padrões cintilantes característicos do hair metal) que causou estranheza em muitos fãs, o que não é justo já que a qualidade do Winger segue intacta e Kip sabia muito bem o que estava fazendo.

Por exemplo, músicas como No Man’s Land tem uma vibe pra cima, solo arrasa quarteirão de Reb Beach e vocais absurdos de Kip, mostrando que ainda dava pra fazer farofa da boa, enquanto Like A Ritual é um hard rock do bom, pesado e cadenciado com groove pulsante e instrumental primoroso, com final de bateria em fade out lembrando The Unwritten Law, do Deep Purple. A força das canções é inegável, mostrando urgência sonora jamais vista na banda até aqui.

Prova disso é a clássica Down Incognito, cuja junção do instrumental com a linha vocal do início lembra um pouco o Faith No More. Com refrão forte, riff pesado e violões estonteantes, ainda causa surpresa com seu inusitado solo de gaita dando um toque bluesy á música, um belo contraponto ao peso inicial proposto.

Desde a abertura com Blind Revolution Maid (com sua intro lentinha, cadência pesada e ótimo refrão pra variar e aquele flerte progressivo característico), a banda já mostra que não tem intenção de se render ao movimento noventista, ainda que algumas adaptações sonoras tenham sido necessárias, como em In For The Kill, a letra mais política, desesperançada e infelizmente atual do disco.

Sem medo de abraçar o lado negro da força surge Spell I’m Under. Depressiva, daquela de cortar os pulsos, com clima lento e arrastado, e harmonias que fariam inveja ao Alice In Chains, além de solo emotivo e intenso, cheio de nuances e climas. Outra que merece atenção é Junkyard Dog, uma espécie de hard/progressivo com solos em escalas exóticas, riff quebrado, soando como se o Queensrÿche ensaiasse com o Whitesnake e ambos recebendo dicas do Rush e do Styx. Who’s The One tem belos violões, letra madura e arranjo primoroso parecendo querer dar o tom do que seria o hard rock dos anos 90 até o meio dos anos 2000, ao passo que The Lucky One é uma balada pesada, com violões brilhantes, ritmo envolvente, bom solo e mudanças de andamento surpreendentes.

A verdade é que o fatídico clipe de Nothing Else Matters do Metallica, lançado um ano antes, (onde um certo baterista dinamarquês que nem vale mencionar o nome, movido por pura inveja da cena hard da época, atirava dardos na foto de Kip) além do infame desenho Beavis and Butt-Head (que foi lançado no mesmo ano do disco e mostrava o personagem Stewart Stevenson sofrendo Bullying por usar uma blusa da banda), fez com que o disco fosse um fracasso comercial e acabou destruindo a imagem da banda. Nem mesmo o sincero pedido de desculpas de James Hetfield livrou o Winger de ser injustiçado, levando-a a um hiato que perdurou até 2006.

O que temos aqui é uma banda coesa, madura e pesada, tentando sobreviver ao voraz mercado capitalista fazendo música de rara qualidade, numa época em que solos de guitarra e vocais técnicos já não atraíam tanta atenção. Mesmo diferente, ainda é Winger, e seu mentor nunca perdeu a mão na hora de compor.

Nota 5/5