Fala galera, Biel Furlaneto na área, e eu posso assegurar que poucos (ou nenhum) Além do Óbvio serão sobre alguém tão grande quanto O BEATLE.

Essa semana, o eterno Beatle completou 83 anos de vida, e nada mais justo do que falarmos sobre a riquíssima carreira dessa lenda que, há mais de 60 anos, entrega uma infinidade de letras lindas, músicas simples e também profundas.

Eu sempre tive respeito pela dimensão que Paul tem na história, mas tive a HONRA de presenciar com meus próprios olhos o quão sagrada é a dádiva de estar no mesmo local que esse ser quase celestial, no ano passado em São Paulo (Se quiser ler a resenha desse show, é só clicar AQUIAQUI).

Hoje vamos além de “Hey Jude”, “Yesterday”, “Band on The Run” e “Live and Let Die”.

Bora lá então?

For No One

Álbum: Revolver (Beatles, 1966)

Começando com uma balada lindíssima, cantada e composta pelo Sir. Uma letra triste e melancólica, com a simplicidade que só os gênios conseguem dominar. Minimalista, direta e destruidora.

Darkroom

Álbum: McCartney II (Solo, 1980)

Uma viagem eletrônica minimalista, quase hipnótica, com repetição de versos, batida estranha e uma atmosfera que parece saída de um filme cult experimental. Paul grava, distorce, sussurra e te prende num loop esquisito que é, ao mesmo tempo, dançante e desconfortável. É como se ele estivesse testando os limites do que ainda pode ser chamado de canção pop. Um som que parecia estranho demais em 1980, mas que hoje cairia fácil em playlists de música alternativa ou eletrônica underground.

Dear Boy

Álbum: Ram (Solo, 1971)

Contextualizando, é uma belíssima letra atribuída a Paul e sua esposa Linda McCartney, mas que gerou alguma confusão, já que em certo ponto seu parceiro John Lennon achou que era um ataque a sua esposa, Yoko Ono. Na verdade, como Paul já disse em entrevista, a letra é sobre o ex-marido de Linda, que não a valorizou o suficiente, o que a fez se separar e então começar a história que dura até hoje.

Sobre a música: uma parede de harmonias vocais complexas, com uma melodia que te prende na primeira audição, uma verdadeira aula de sutileza.

Arrow Through Me

Álbum: Back to the Egg (Wings, 1979)

Um groove delicioso, arranjos de sopro com pegada soul e aquele baixo “McCartneyano” que dança sozinho. Parece aquelas músicas que tocam em consultório de dentista, sabe? Traz uma calma inexplicável.

Calico Skies

Álbum: Flaming Pie (Solo, 1997)

Gosta de Blackbird? Quem não gosta, né? A faixa em questão é uma prima distante (para não dizer irmã) dessa. A voz inconfundível, o violão praticamente te abraçando, uma letra absurdamente linda. É Paul na sua mais pura essência, um dos maiores poetas da música.

Nineteen Hundred And Eighty Five

Álbum: Band on The Run (Wings, 1973)

Essa música é o grand finale perfeito de um dos discos mais celebrados dos Wings. Ela começa de forma contida, com um piano simples e a voz de Paul soando quase melancólica, como se ele estivesse contando um segredo. Mas a calmaria dura pouco — porque o que vem a seguir é uma escalada sonora impressionante. Entram os metais, as cordas, a bateria cresce, os vocais se multiplicam… e de repente, você está no meio de um clímax grandioso, quase como se estivesse assistindo ao encerramento de um musical de rock sinfônico. Genial.

The Night Before

Álbum: Help (Beatles, 1965)

Típica música pop dos anos 60 que foi a marca característica dos quatro garotos de Liverpool, porém com uma letra menos feliz do que seu instrumental. A faixa trata de forma sutil um distanciamento repentino de uma pessoa amada, porém sem exageros, evidenciando mais uma vez o dom de Paul para escrever com classe até sobre temas que, por vezes, precisam ser carregados por algum drama. Musicalmente, a faixa é um exemplo brilhante de harmonia vocal clássica, com John e George criando as camadas de backing vocals enquanto Paul assume o vocal principal.

Dominoes

Álbum: Egypt Station (Solo, 2018)

Mostrando que o tempo não passa para nosso Beatle, te pega pela atmosfera suave e reflexiva. A guitarra limpa, meio lo-fi, abre o caminho como quem convida para uma conversa calma — quase como se Paul estivesse dizendo: “Senta aí, vamos falar da vida”. Nada é forçado aqui, Paul não tenta ser jovem, e talvez essa seja a beleza de tudo, pois ele soa verdadeiro. A prova de que não importa quão longe estejam os álbuns da fase clássica, o maior músico vivo deste planeta sempre vai ter algo relevante para dizer.

Listen To What The Man Said

Álbum: Venus and Mars (Wings, 1975)

Não é exatamente um lado B de Paul, e apesar de ter chegado ao topo das paradas americanas em 1975, Listen to What the Man Said acabou ficando meio esquecida entre os hinos maiores. Mas ela é um lembrete perfeito de como o McCartney sabe fazer música com alma leve e mensagem profunda ao mesmo tempo. Musicalmente, ela tem aquele pop sofisticado com pitadas de jazz que o Paul explorava nos anos 70 com os Wings. É alegre sem ser boba, refinada sem ser arrogante. Destaque para o saxofone maravilhoso. Uma das faixas mais positivas e contagiosas do catálogo de Paul, sem sombra de dúvidas.

You Won’t See Me

Álbum: Rubber Soul (Beatles, 1965)

Lembra que mencionamos há pouco a classe que Paul tem para falar dos temas mais sensíveis? Pois então, aqui ele retrata novamente problemas de um relacionamento cada vez mais frio. É um dos primeiros sinais do Paul compositor maduro, vulnerável e dono de si. Ele não precisava mais escrever só sobre “ela me ama, eu a amo”. Ele estava disposto a mostrar quando ela não respondia, e isso doía.

O baixo nessa música é uma estrela à parte. Em vez de só acompanhar os acordes, ele “dança” em volta da melodia, dando movimento e emoção. Mesmo sendo uma música que fala de frustração, o baixo traz vida e energia — como se o Paul estivesse tentando disfarçar a mágoa com um sorriso. O órgão de fundo entra de forma bem discreta, mas ajuda a dar uma textura mais cheia e melancólica, mesmo com a batida animada. É como se tivesse uma névoa emocional por trás de tudo.

No geral, essa música é o típico exemplo de Paul fazendo algo triste soar bonito, ou melhor — algo frustrado soar elegante.

BÔNUS TRACK

Paul McCartney Carpool Karaoke – The Late Late Show with James Corden

Vamos fazer um exercício rápido: você está bebendo em um bar e, de repente, o maior nome da coisa que você mais ama na vida entra. Sem avisos, sem parafernália, sem nada. Só ele e a aura sagrada dele. Foi o que as pessoas que estavam no Pub Philharmonic, em Liverpool, puderam presenciar em 2018, quando Paul fez um pequeno set no local para os sortudos que estavam ali (e para mais alguns que entraram ao entender a magnitude do que acontecia naquele pequeno espaço).

Dá para ver nos olhos das pessoas a emoção, a incredulidade e até a alma brilhando através deles. No palco, o Deus mais humano de todos, mostrando que não importa se é um pub com 200 pessoas ou um estádio com 200 mil, o maior músico vivo da história tem nome, sobrenome e título: Sir Paul McCartney.

Link da matéria completa (momentos do show a partir de 15:50):

Você pode não gostar dos Beatles e de Paul, isso é puramente pessoal. Mas não se pode negar o fato da importância desse senhor de 83 anos para a música que tanto amamos. Fato é: se Paul não é seu ídolo, ele provavelmente seja ídolo do seu ídolo, e até mesmo ídolo do ídolo do seu ídolo…

Vida Longa, Sir Paul McCartney!!!!!
Semana que vem a gente volta, pessoal!
Valeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu

FOTO DE CAPA POR MARCOS HERMES