Não é possível ficar indiferente ao Alestorm. Ou você ama ou você odeia a música deles.
É fato, muitos torcem o nariz para o humor, para os elementos mesclados, para a temática ou mesmo o visual deles.
Mas isso é exatamente o que atraiu tantas pessoas em um sábado a noite para o Fabrique Club em São Paulo.

Outra coisa que não é possível é passar, em texto, todo o clima de bom humor e descontração que o Alestorm passa em seus shows então vou tentar não me ater a essas questões que são, sinceramente, bem indescritíveis e só podem ser vivenciadas in loco, e vou tentar comentar de forma mais “fria” sobre o excelente show apresentado em São Paulo.

Quando cheguei, reparei muitas pessoas do lado de fora fantasiadas de piratas bebendo nos bares em volta, não gosto da ideia. Por problemas logísticos já havia chegado atrasado para ver a primeira banda de abertura (os brasileiros da banda Matador), e estava frustrado com isso, mas a maioria queria beber e entrar apenas quando a atração principal subisse ao palco.
Outra coisa que reparei foi que as muitas pessoas do lado de fora eram, felizmente, minoria e a casa já estava quase completamente cheia. Melhor para os argentinos da banda Innerforce que tiveram a oportunidade de tocar para uma plateia empolgada de uma forma que é raro ver com bandas de abertura.
Sonoramente a banda é bem competente, porém muito diferente da proposta do Alestorm. Em 2017 quando tocaram em São Paulo com várias bandas temáticas junto, senti que havia funcionado melhor. Mas o Innerforce fez uma competente e sólida performance com seu repertório enxuto porém que funcionou muito bem.

TODAS AS FOTOS POR BELMISON SANTOS – CEDIDAS  PELO METAL NO PAPEL

Encerrada a apresentação, a plateia começou a ficar inquieta, o motivo que levou toda aquela gente para o Fabrique Club estava prestes a subir no palco e isso ficou claro quando posicionaram o já tradicional Pato inflável no palco, o público gritando a plenos pulmões “pato, pato”. O clima de um show do Alestorm é mais descontraído do que um show de thrash ou death, não é mesmo?

Em pouco tempo, às 20h em ponto, as luzes se apagam, uma batida eletrônica em 8 bits tradicional começa a tocar e banda sobe no palco.

Quando as primeiras notas de Keelhauled começaram a casa veio abaixo. Esse clássico vem sendo consistentemente a abertura dos shows da banda há algum tempo e nunca falha!
Pesada, direta e, ao mesmo tempo, cheia de elementos de teclado, temas bem folk metal, enfim, Alestorm em uma casca de noz.

As novidades viriam na sequência. Desde sua última apresentação em terras brasileiras, o Alestorm havia lançado dois álbuns muito bem recebidos, então o público claramente estava ansioso para vê-las executadas.
E a vontade do público foi saciada logo de cara com Treasure Chest Party Quest, single que abre o álbum Curse of the Crystal Coconut de 2020 e que mostrou-se muito empolgante ao vivo.

Com o público quente, a banda se mostrou afiada no palco ao lidar bem com adversidades como problemas técnicos na bateria, sem deixar o clima esfriar e sem deixar de entreter o público.

…E então soam as primeiras notas de Mexico, hit obrigatório em todas as apresentações do Alestorm desde No Grave But The Sea (2017). É, sem dúvidas, uma das melhores pérolas da discografia da banda.

E Mexico foi a música perfeita para anteceder a boa Magellan’s Expedition. Apesar de, em minha opinião, ser uma das mais fracas do recém lançado Seventh Rum of a Seventh Rum (2022), o seu refrão ao vivo é um momento marcante do show, não deixando ninguém parado.

A apresentação segue com os clássicos The Sunk’n Norwegian e todo o público berrando a plenos pulmões “one more drink!” seguida da também clássica Shipwrecked, que eu adoro, mas sempre sinto que o público dá uma ‘calmada’ nos shows.

A faixa título do novo álbum Seventh Rum of a Seventh Rum me pareceu ser o ponto mais baixo do show, um refrão muito bom, uma das mais gostosas de se ouvir no fone de ouvido, mas senti que o público estava guardando energias para outros tantos clássicos que nunca passam em branco nos setlists. Mas é sempre bom frisar como, mesmo com o público “se poupando”, como a banda consegue entreter!
São pouquíssimas as bandas que apresentam essa performance ao vivo. Todos na banda tem uma presença marcante e, apesar disso, todos os olhos sempre se voltam ao vocalista Chris Bowes. Um frontman invejável, que anda vestido com seu kilt, chinelo, keytar e boné, e sempre sabe aonde estar, o que fazer, quando interagir e como interagir com o público ou os demais membros da banda, Christopher tem a casa de show em suas mãos, durante as músicas, em seus comentários sem sentido (ou noção) e extremamente engraçados entre as músicas, quando a bateria apresenta problemas. Sempre.

E um desses clássicos veio na sequência com Alestorm, um dos momentos mais altos do show com todos pulando, gritando, bangeando nas partes com distorções vocais do tecladista Elliot, cantando o refrão. Essa música, além de espetacular, funciona muito bem ao vivo!

O show continua. Chris pega um xilofone (elétrico?) e começa a tão esperada Come to Brazil, do novo álbum, tocada exclusivamente em terras brasileiras e fazendo piadas com coisas típicas brasileiras (e paulistas) entendem, como problemas com a recepção do celular e o gosto por purê de batatas no cachorro quente! E ela foi muito bem recebida pelo público, talvez se torne obrigatória em todo show por aqui de agora em diante!

Mashed Potatos On Hot Dogs
Foto por Kito Valim

Hangover, cover inusitado de Taio Cruz é tocada com a participação de um roadie usando uma máscara de luchador. Sempre gosto e me impressiono quando bandas de metal fazem covers de músicas pop e a forma como o Alestorm ressignificou essa música, tomando-a para si é rara! Poucas vezes foi feita.

Zombies Ate My Pirate Ship era uma música que eu estava curioso e empolgado para ver, uma das minhas favoritas do Curse of the Crystal Coconut e que ganha muito ao vivo. E muito bem recebida pelo público também.

O Show continua com uma música que eu não entendo, Nancy the Tavern Wench está rigorosamente em todo setlist to Alestorm, não é uma música que me atrai muito, mas a reação do público é sempre muito, MUITO forte ao longo dela inteira, cantando cada parte a plenos pulmões. Mas ela nunca me cativou.

Rumpelkombo! Thank You”

Em seguida o single P.A.R.T.Y. do álbum novo, empolgante, cativante, um ritmo bom, um refrão fácil de cantar e a plateia foi à loucura! Realmente um dos pontos mais altos que eu já vi em todos os (muitos!) shows do Alestorm que eu fui. Essa música criou um clima inesquecível em um show que já era de altíssimo nível. Espero realmente nunca mais ver um show do Alestorm sem ela! Uma sensação sem igual

Chris pede para abrir o famoso e tradicional wall of death (com seu senso de humor diferenciado) para a clássica Captain Morgan’s Revenge, sempre um momento espetacular do show, seguida pela sensacional Shit Boat (No Fans) que também funciona muito bem ao vivo.

A banda se ausenta do palco para se preparar para o bom e velho encore com a excelente Drink seguida de Pirate Metal Drinking Crew (com toda a plateia batendo palmas sincronizadas de uma forma que só o Alestorm consegue!)

O Show se encaminha para o final com a hilária Fucked With an Anchor onde a banda xinga a plateia e é xingada de volta como uma grande despedida em família!

O Alestorm é uma daquelas bandas que sempre faz o público ir embora satisfeito. Nos muitos shows que vi do Alestorm, claro alguns melhores, outros piores, mas nunca vi a banda decepcionar. A banda mostra uma consistência invejável e sempre apresentando shows muito intensos, carregados de performance, interações, agitação, e muitas músicas executadas com rigor.

O fã do Alestorm chega sabendo o que esperar, raramente é surpreendido e NUNCA se decepciona. É como ir a um excelente restaurante, sempre pedir o seu prato favorito e ele estar sempre maravilhosamente bem-feito. É sempre exatamente o que você espera, mas o seu nível de exigência é alto.

É assim o Alestorm, uma banda que não é a mais técnica, a mais pesada, mas, com certeza, é uma das mais divertidas de ser ver ao vivo de todos os tempos. Uma verdadeira P.A.R.T.Y.

TODAS AS FOTOS POR BELMISON SANTOS – CEDIDAS  PELO METAL NO PAPEL