O pessoal da Headbangers Brasil tem um pensamento em elevar o Underground Nacional, de uma forma completa, então por isso não iremos focar somente nos músicos, mas sim em quem faz a cena acontecer e estamos começando isso hoje, com esse bate papo incrível com o Luis Carlos “Carlinhos”. Produtor da cena carioca, ele fala com a gente sobre todo o cenário. 

HEADBANGERS BRASIL: “Carlinhos”, primeiro, valeu pelo tempo. Vamos pelo início. Apresente-se e nos fale o seu caminho até o atual momento de sua vida.

Luis Carlos: Como todo moleque que estava curtindo Rock e Metal, comecei curtindo o estilo através dos discos, mas antes, um programa foi muito importante na minha vida: BB Vídeo. Esse programa misturava entretenimento oe passava diversos clipes, e dali me apaixonei ao conhecer bandas como Kiss, Quiet Riot, Iron Maiden, Van Halen, entre outras. Isso foi por volta de 1982, 83…Daí adquiri um primeiro disco, que aliás, é referência para muita gente da mesma geração que eu. O “Creatures of the Night”, e daí eu não parei mais. Também conheci bandas nacionais e passei a assistir shows da época que rolava no Circo Voador, Caverna 2, por aí…Antes de me tornar um músico, já que hoje as pessoas começam a curtir e já viram um, eu comecei a me meter com esse lance de escrever cartas, e sendo assim trocava informações com diversas pessoas, bandas, e fazia troca de demos, release, etc. Comecei a escrever fanzine, e assim, passei a conhecer mais e mais bandas nacionais. Quem diria que hoje teria sido esse meu primeiro passo no Jornalismo. Isso por volta de 92, 93…

Influenciado por alguns amigos, comecei a me arriscar na bateria, e daí começou a essa coisa de ter uma banda aqui e ali, fazer alguns shows pela cidade, lançar demos, cd´s, sendo que isso se tornou realmente mais sério quando eu criei a Statik Majik, e daí a música entrou de forma mais profissional na minha vida. Tanto que foi com a Statik é que eu gravei cd`s mais relevantes, fiz shows fora do Rio e até por alguns estados do Brasil, assim como fazendo shows por alguns países da América do Sul e também da Europa. Quanto a produzir shows, eu já fazia algumas coisas na década de 90, mas foi a partir do fim da Statik Majik que eu montei a produtora e comecei a me meter seriamente com isso. A Be Magic tem hoje 5 anos de atividade e certamente já muita história para contar. Estou feliz com ela, pois acredito que nosso trabalho esteja sendo reconhecido, e melhor, como algo sendo feito de coração e honesto, de quem realmente ama o Metal. Paralelo a isso, eu criei a Arte Condenada, antes um blog e agora uma page nas redes sociais. Ali, eu coloco um pouco do meu Jornalismo em prol da música, abrindo o espaço para novas e velhas bandas.

Carlinhos segurando o cartaz de sua produção com o clássico Raven.

Vamos ver o que será 2020, já que eu ainda tenho planos de lançar um livro de poesias, guardadas há bastante tempo e que ainda não saíram do papel.

HB: Vou falar da sua vida como baterista, você tocou em diversas bandas e todas elas tiveram um certo renome no cenário Underground, porquê resolveu parar de tocar?

LC: Não há nada que me estimule hoje, estar numa banda nessa coisa de sair de casa com equipamento, ir para lá e para cá toda hora, brigar com integrante (risos), perder boas amizades, enfim…pode parecer estranho para quem produz e acaba trabalhando pessoalmente com elas, mas é assim que eu me sinto em relação a isso. Eu admiro quem esteja numa banda hoje, e melhor, que consiga sair ileso disso. Talvez eu seja muito intenso para tal coisa (risos) Eu cheguei a me envolver em um projeto de Progressivo um ano atrás, mas, acabou não indo em frente. A ideia era ser uma banda de estúdio, o que me conforta um pouco (risos) Não digo que eu nunca vou tocar bateria, mas estar numa banda, acho pouco provável. Sou melhor produtor do que músico. (risos)

HB: Depois dessa vida atrás das peles, você começou a produzir eventos, sob o nome “Be Magic”. Como foi à mudança?

LC: Foi me sentir mais leve e bem mais feliz, mas, principalmente porque eu passei a poder fazer as coisas com mais liberdade e amor. É bom fazer o que quiser na hora que quiser sem ter que dar satisfação para alguém, ou, se sentir pressionado por algo ou alguém em prol de algo que pode não ser coletivo como deveria. Pior, fazer o que não gosta ou ter que fazer aquilo que os outros deveriam fazer.

HB: Nesses anos de produção e com diversas bandas, algumas histórias surgem. Tem como você dividir algumas que você achou as mais legais e as mais chatas?

LC: São muitas, mas foi legal, por exemplo, ter conhecido o Andre Matos mais de perto, ter ouvido algumas de suas histórias e dividido muitas piadas. Assisti o cara no Viper em 1989, quando ambos éramos moleques, e agora eu estava ali fazendo um evento com o cara. Fiquei muito triste quando ele faleceu. Ruim foi ter que aturar gente de equipe de alguns artistas que mais aporrinhava do que ajudava, aquela gente que parece mais estrela do que o artista. Teve um que passou perto de levar uma surra (risos)

HB: A história da Be Magic é marcada por idas e vindas. Por que isso?

LC: Porque se ficar fazendo toda hora as pessoas enjoam da minha cara (risos) É bom deixar esse espaço e bater aquela saudade boa. Eu vi isso acontecendo com bares e eventos de amigos. Se ficar martelando a mesma coisa toda hora, as pessoas param de ir. Se eu manter esse espaço equilibrado, a coisa fica mais saudável e com certeza mais durável. Faz muito bem pra mim inclusive, fazer desse jeito.

John Connelly e Carlinhos, depois de mais uma produção Be Magic no Rio.

HB: As suas produções sempre contaram com um cast muito variado e de qualidade extrema. Como você chega no cast desses eventos?

LC: Primeiro por me aliar a pessoas que tinham e tem mais conhecimento de causa nessa questão de produção do que eu, como o Rodrigo Scelza e o Marcelo Mendes (Rato no Rio). Fora muita gente que eu fiz parceria, ótimas por sinal. Além, das pessoas que trabalharam e trabalham comigo, toda elas, sem exceção, me ensinaram muito.

É sempre um aprendizado. Elas me mostraram como chegar. Depois, com mais experiência, eu fui chegando e descobrindo melhor os caminhos, fora que, muito do que acontece acaba vindo até a mim por intermédio da rede social, de músicos que tocam em banda e sabem do meu trabalho e querem tocar. Com experiência a gente acaba tendo um olhar mais clínico sobre a coisa de cena, bandas, etc. Tem coisas que eu orgulho demais nessa trajetória de produção, como ter ajudado alguém doente durante um evento, como o de ter feito bandas e depois vê-las tocando em grandes festivas, esse tipo de coisa. Quem sabe um dia, além de ter aprendido um pouco, poder também mostrar para algumas pessoas sobre como fazer.

HB: Das casas que você já produziu pelo Rio, acho que o mais icônico foi o Espaço Kubrick (antigo Teatro Odisséia). Os eventos ali, foram positivos para a Be Magic?

LC: Foram sim. A casa, as pessoas que trabalham lá, sempre me trataram muito bem. Eu só lamento que ainda hajam poucas casas de shows para eventos de médio porte no Rio de janeiro, onde tudo parece relegado a algo muito grande ou algo pequeno demais. Fora que, isso só tem do Centro para Zona Sul. Zona Norte e Oeste não têm nada. Se não fossem algumas lonas culturais pela região, estaríamos ferrados. (risos).

Prika Amaral(Nervosa) com Carlinhos.

HB: Me responde uma coisa. Você vê diferença do púbico de quando você faz um evento no Kubrick pra um evento na Areninha Carioca?

LC: Sim. Não sei por comodismo ou pela violência, o público já não se desloca mais como antes. Dificilmente se via gente da zona oeste nos meus eventos do Centro, e agora, dificilmente se vê alguém de Centro ou Zona Sul nos eventos em Bangu. É uma pena, mas fazer o que, cada um é que deve saber o melhor para si. Poucas pessoas fazem isso hoje, incluindo doidos como eu (risos)

HB: Um lance que eu sempre achei muito legal da Be Magic são os eventos de final de ano, destinados a ajudar abrigos a animais. Como você teve esse lampejo e fala a repercussão deles, pra você?

LC: Eu cresci em um ambiente com bastante animais, tanto que numa época em que eu morei em apartamento e acabei não tenho nenhum cachorro, foi a pior época da minha vida. Convenhamos, é melhor ter qualquer animal do que vizinhos idiotas (risos). Sendo assim, é uma consequência natural esse elo de ser um produtor de evento e fazer um evento que possa ajuda-los nessa causa. Repercutiu muito bem, ainda que

eu ache que deveria existir mais sensibilidade de quem está participando desses eventos quanto as questões financeiras, mas enfim, de qualquer forma em todos eles eu pude ajudar bastante os abrigos pelos quais os eventos estavam envolvidos e tudo correu super bem.

 

HB: Você agora tem produzido os seus eventos em Bangu (bairro da Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro), na Areninha Carioca Hermeto Paschoal, como você conseguiu acesso a esse espaço?

LC: Marcelo do Rato no Rio foi esse elo. É um espaço muito bacana, a administradora tem a sensibilidade e o entendimento quanto a importância de se ter eventos de Heavy Metal no local assim como acontece com outros estilos. Digo isso, porque eu já fui ignorado por alguns deles no passado, e certamente por preconceito com o Heavy Metal.

Além do mais, foi bacana demais por ser também o bairro onde resido, e ter apostado no projeto de que havia um público aqui que gosta e quer ver shows de Metal. Tem dado certo, todos meus eventos ficaram ótimos. Bem, eu acho que sim (risos)

HB: O espaço é de uso público. Isso facilita a produção dos eventos?

LC: Não, pelo contrário, as vezes pode rolar mais burocracia do que o normal, já que se você paga por algo, pronto, está pago e vai em frente. Sendo público, acaba tendo mais regras no caminho, e você tem que cumprir para que dê certo.

Be Magic e Edu Ardanuy.

HB: Agora, vamos falar do seu novo projeto, “Ascensão do Metal Carioca”. Como surgiu essa idéia?

LC: De perceber há um bom tempo que existem muitas bandas boas que não estão tendo o devido espaço e reconhecimento que merecem, e como o Rio de janeiro é e sempre foi um celeiro de boas bandas, resolvi montar esse projeto e valorizar essa galera. Pela primeira vez eu estou tendo bandas cariocas como headliners nos meus eventos, e, bandas que eu vejo que tem obtido reconhecimento ao longo dos anos gravando excelentes discos, obtendo boas críticas nas mídias e tocando nos mais importantes festivais do país. Por que não dar a elas esse espaço? Acho inclusive, que por questões de justiça, elas deveriam estar fazendo isso bem antes. Bem, alguém tem que meter o pé na porta e se esse alguém sou eu, que seja (risos)

Ascensão do Metal carioca” traduz tudo isso. O anúncio do Hatefulmurder, Dark Tower e todas as bandas que estão fechadas no cast refletem esse título. Aguardem, serão eventos bem variados, nada muito segmentado em um estilo. Boto fé que as pessoas vão curtir bastante !

HB: Você pensa em expandir a área de atuação da produtora?

LC: Vontade não falta e convites já aconteceram, só que falta é mais estabilidade financeira para se fazer algo maior, pois não seria conveniente produzir algo que estivesse além do meu alcance. Fazer por fazer, megalomania midiática, são coisas fora dos meus planos. Quem sabe algum dia. Eu já fiz dois eventos fora do estilo, que foi um evento de Folk e um de dança e música flamenca, e foram experiências incríveis.

HB: Carlinhos, muito obrigado pelo tempo, deixa aí pros leitores do Headbangers Brasil um recado e um convite, pra conhecer as suas produções. Abraço!

LC: Eu é que agradeço o espaço, e desde já, na torcida para que o Headbangers Brasil cresça cada vez mais, já que todos nós somos uma parte de um todo em comum, e que se um dá certo, acaba dando certo para todo mundo. E bem, tenho dois eventos marcados e espero que as pessoas encham a lona ! Dia 18 de Julho e 15 de Agosto.

Parabéns, Augusto, pelo trabalho que vem fazendo em prol do Metal Nacional e de fora. Seu trabalho é de suma importância para todos nós !

André Matos e Luis Carlinhos, depois de um Workshop produzido por ele.