Com certeza você já ouviu o Toto. Seja por algum disco da banda propriamente dita ou suas incontáveis participações nos discos alheios, dos mais variados gêneros e estilos, o certo é que alguma canção dos caras ou com a mão criativa deles já passou por você. Quer um exemplo: Beat It do rei do pop Michael Jackson, os discos de Richard Marx ou Stevie Nicks, ou com o megahit Africa, a poderosa Rosanna ou a baladinha I’ll Be Over You, até mesmo na música brasileira com a rainha Rita Lee e seu discaço Bombom de 1983 o Toto esteve presente.

Com comparações aos brasileiros do Roupa Nova, o caldeirão do Toto é bem mais denso. Apesar das baladinhas temas de novela e de programas de flashback, ao contrário dos brasileiros, o Toto explora com maestria do pop ao progressivo, batidas étnicas, pop rock, Aor Westcoast ou Hi-tech, power ballads, funk, disco e tudo mais que der na telha. O resultado dessa mistura é algo agradável aos ouvidos, técnico ao extremo e com uma produção dificílima de reproduzir. Ao vivo então, a coisa fica ainda mais estarrecedora, pois soma-se a essa diversidade de influências uma boa dose de improviso, dando frescor e sensação de novidade a canções com mais de 40 anos.

Não importa a formação que está no Brasil, a qualidade e força de sua apresentação é indiscutível e ao mesmo tempo inacreditável. A formação atual é composta pelo tecladista Greg Phillingannes (Ex Michael Jackson, Stevie Wonder, entre outros) o baixista John Pierce (Huey Lewis and The News), o baterista Shannon Forrest, os multi-instrumentistas Dominique “Xavier” Taplin (Ex Prince) e Warren Ham (Ringo Starr), além é claro do estupendo vocalista Joseph Williams e o guitar hero Steve Lukather, líder incontestável e “dono” do Toto. Com esse time, em pouco mais de 2 horas de show, a banda deu seu recado e lavou a alma do público presente na Arena Jockey no Rio de Janeiro.

Começando pontualmente às 20hs, a abertura ficou por conta da climática Girl Goodbye, com suas cadências irresistíveis e o ar de suspense que a canção proporciona. Logo em seguida o primeiro arrepio na espinha: o ataque na caixa de bateria seguido do emblemático teclado de Hold The Line, cantada a plenos pulmões pelo público, num dos primeiros momentos emocionantes do show. Após cumprimentar o público, Lukather (dono de uma simpatia e um bom humor surpreendente) anunciou a única canção do disco Hydra (1979) presente no setlist: a radiofônica 99, que com certeza agradou uma parte do público que ouve as JBS e Antena 1 Light FM regularmente.

Pamela veio na sequência mostrando porque lembramos do Roupa Nova ao ouvi-los. Uma baladinha contagiante com ritmo delicioso e refrão fácil e pegajoso. Jake to The Bone, chegou com seu instrumental arrasa quarteirão, ritmos quebrados e pitadas de fusion mostrando todo o virtuosismo dos músicos. Aliás, músicos que foram ao show se deleitaram, o próprio Lukather em determinado momento perguntou se havia muitos músicos no local. A banda introduz a balada Burn, quebrando um pouco a agitação e deixando o público respirar para em seguida arrancar suspiros dos muitos casais presentes ao tocar I’ll Be Over You, seguramente uma das baladas mais lindas já escrita  por uma banda de rock.

No Toto, todos cantam muito bem além de serem virtuosos em seus instrumentos, e a voz rouca de Steve Lukather ainda hoje soa uma das coisas mais emotivas, especialmente nessas baladas típicas das Rádios FM´s e seus programas de flashback. A primeira surpresa no set veio com Stop Loving You, surpreendemente cantada por todos ali presentes. Ao mostrar sua cerveja falsa, já que hoje abraçou a sobriedade, Lukather anuncia Little Wing, cover de Jimi Hendrix, tocada com lirismo impressionante e recheada de improvisos guitarrísticos. Não deixa de ser impressionante o quanto o fraseado do guitarrista é versátil, seja em convenções muitas vezes simples, de 3 ou 4 acordes ou em ritmos intrincados em compassos 7/8, 3/4, 6/8, ou outros ainda mais cabulosos.

Após o solo de bateria de Shannon Forrest, I’ll Supply The Love, do primeiro disco reacendeu a galera preparando o caminho para a segunda grata surpresa da noite: a soturna A Thousand Years, dedicada a David Paich e Bobby Kimball, levando os fãs às lágrimas, tamanha a emoção e força da interpretação vocal de Joseph. Georgy Porgy veio com andamento mais lento que o normal, sem contudo perder a malemolência envolvente, tendo até seu instrumental cantado pelo público em determinados momentos. Dying On My Feet surge na sequência após breve apresentação da banda com direito a trechos de canções das ex bandas dos integrantes e de suas participações em estúdio. Pouca gente sabia que Joseph Williams era a voz por detrás da icônica canção Hakuna Matata por exemplo.

Já se encaminhando pro fim, Home Of The Brave puxou o clima lá pra cima de novo, abrindo caminho para os momentos mais aguardados do show: a enérgica e pulsante Rosanna, onde Joseph mostrou que não havia ninguém mais qualificado na atualidade para ocupar o posto de vocalista na banda. Potência vocal e carisma fizeram dessa canção um momento apoteótico, onde era possível ver amigos da imprensa especializada como Marcelo Vieira, perdendo a linha dançando e cantando junto com a banda.

Com certeza uma canção eterna e que marcou a vida de muita gente presente ali. O outro momento é aquele que vocês já sabem: o encerramento com Africa, canção eleita por cientistas como a mais perfeita já composta. Realmente, é difícil imaginar outro refrão tão potente como esse, executado com maestria e cantado a plenos pulmões por gerações diversas ali no show. Nem os improvisos inseridos nas 2 últimas canções tornam o show uma experiência maçante. Aliás, todos ali ficariam muito satisfeitos se houvesse mais 2 horas de show.

O fato é que o Toto fez um show espetacular, recheado de hits, onde o único erro foi ter sido curto. E olha que foram 2 horas e 9 minutos de show. O público saiu de lá extasiado, com a certeza de que um show desse não pinta por aqui todo dia, por isso valeu cada centavo do ingresso e cada minuto no local. Pessoalmente, realizei um sonho ao vê-los. Obrigado Lukather e companhia por esse momento. Obrigado por nos arrepiar a cada solo, a cada convenção, a cada acorde e a cada canção. Não tenho palavras pra descrever o que foi essa experiência pra mim.

Há muita gente nova fazendo música por aí e todos merecem espaço e respeito (bem, quase todos né?!), mas se isso aqui é música de tiozão, seja bem vindos a terceira idade!!! Obrigado Toto, por nos emocionar e nos marcar pra sempre com esse show. I Bless The Rain Downs In My Heart…

TEXTO POR DIOGO FRANCO e FOTOS ABAIXO POR MIDY CRIS