Álbuns conceituais são discos construídos em torno de um tema central, seja uma história, uma ideia filosófica ou uma mensagem unificadora, com músicas interligadas para criar uma experiência imersiva, onde cada faixa funciona como um capítulo dessa narrativa.

Ao longo da história do metal, esse formato deu origem a verdadeiros clássicos, como “Seventh Son of a Seventh Son” do Iron Maiden, “Operation: Mindcrime” do Queensrÿche, “Abigail” do King Diamond, “Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory” do Dream Theater, entre tantos outros.

No entanto, existem diversos álbuns nesse formato no cenário nacional que também merecem sua atenção não somente pelo seu conceito, mas também pela sonoridade que acompanha a experiência. Para esta matéria, selecionamos 10 discos icônicos do Metal Nacional no formato conceitual. Confira:


Angra – “Temple of Shadows”

Ano de Lançamento: 2004
Integrantes: Edu Falaschi (Vocal), Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt (Guitarras), Felipe Andreoli (Baixo) e Aquiles Priester (Bateria)
Faixas em Destaque: “Spread Your Fire”, “Angels and Demons”, “Waiting Silence” e “The Temple of Hate”

Um dos maiores clássicos do Angra, tido por muitos de seus fãs como o melhor disco da banda, “Temple of Shadows” narra a jornada de The Shadow Hunter, um guerreiro das cruzadas do século XI que questiona os dogmas da Igreja e busca um novo sentido para sua fé. A história aborda temas como fanatismo religioso, intolerância e liberdade de pensamento, explorando diferentes perspectivas filosóficas e culturais ao longo das faixas. Musicalmente, o álbum mescla Power Metal com influências de música brasileira, progressiva e clássica, resultando em uma obra épica e diversificada.

Sepultura – “A-Lex”

Ano de Lançamento: 2009
Integrantes: Derrick Green (Vocal), Andreas Kisser (Guitarra), Paulo Xisto (Baixo) e Jean Dolabella (Bateria)
Faixas em Destaque: “Moloko Mesto”, “What I Do” e “The Treatment”

Apesar de se tratar de um dos álbuns menos celebrados da discografia do Sepultura, “A-Lex” carrega um conceito profundo e elaborado inspirado no livro “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess. A história acompanha Alex, um jovem delinquente que passa por um experimento governamental de reabilitação forçada, levantando questões sobre livre-arbítrio, violência e controle social. Musicalmente, o álbum apresenta uma abordagem agressiva e experimental, misturando Hardcore, Thrash, Death, Groove Metal, e até mesmo elementos de música progressiva e experimental.

Edu Falaschi – “Vera Cruz”

Ano de Lançamento: 2021
Integrantes: Edu Falaschi (Vocal), Diogo Mafra e Roberto Barros (Guitarras), Raphael Dafras (Baixo), Fábio Laguna (Teclado) e Aquiles Priester (Bateria)
Faixas em Destaque: “The Ancestry”, “Land Ahoy” e “Face the Storm”

No primeiro álbum de sua carreira solo, Edu Falaschi apresenta uma história ambientada no Brasil do século XVI, explorando a jornada de um cavaleiro chamado Jorge em meio a conspirações, batalhas e descobertas. A história envolve a busca por um artefato sagrado, a luta entre o bem e o mal e elementos históricos e fictícios que remetem à colonização e à Inquisição. Musicalmente, o álbum combina Prog e Symphonic Power Metal com influências da música brasileira, criando uma atmosfera épica e cinematográfica que acompanha a narrativa.

Vocifer – “Jurupary”

Ano de Lançamento: 2023
Integrantes: João Noleto (Vocal), Lucas Lago (Baixo), Pedro Scheid e Gustavo Oliveira (Guitarras) e Rich Rodrigues (Bateria)
Faixas em Destaque: “The Voice of the Light”, “We Are”, “Pleasure Paradise” e “Life”

“Jurupary”, segundo álbum de estúdio da banda tocantinense, Vocifer, explora as lendas por trás de uma controversa figura do folclore amazônico. Orientados pelos relatos coletados pelo folclorista e explorador Ermanno Stradelli, a Lenda de Jurupari foi adaptada pela Vocifer, traçando paralelos com o nosso tempo acerca de questões cruciais para a humanidade. Na lenda de Jurupari, conta-se que a indígena Ceuci comeu o mapati, uma fruta proibida para mulheres quando se encontravam no período fértil. O suco da fruta escorreu pelo seu corpo até suas partes íntimas e assim foi concebido um menino. Como punição, Ceuci foi expulsa da aldeia. Na realidade, o pai da criança era o próprio Sol, conhecido entre os indígenas como Guaraci. Quando chegou a hora do nascimento, seu filho revelou ser uma criatura sabia que viria ao mundo trazer novos costumes e leis para os homens, assim como a dança e a música. Este menino era Jurupari.

Manger Cadavre? – “Como nascem os Monstros”

Ano de Lançamento: 2025
Integrantes: Nata Nachthexen (Vocal), Paulo Alexandre (Guitarra), Marcelo Kruszynski (Bateria) e Bruno Henrique (Baixo)
Faixas em Destaque: “Como Nascem Os Monstros”, “Insônia” e “Obsolescência Programada”

Em seu recém lançado quarto álbum de estúdio, a Manger Cadavre? aborda o medo como fonte primária de neuroses, aprofundando por vezes de forma direta ou subjetiva, a causa de paralisias, comportamentos nocivos para o indivíduo e como ele nos torna algozes para o outro. Na esfera política, a banda fala sobre seu uso como fonte de persuasão para manutenção de poder e desmobilização de coletivos de resistência. Eles também abordam a influência dos aparatos das mídias sociais como ferramentas de manipulação e estímulo de comportamentos calcados sobretudo no medo. Por fim, o medo transforma-se em terror para aqueles que vivem em zonas de conflitos e guerras financiadas por abutres que estão no alto.

Clan of Crows – “The Crypt”

Ano de Lançamento: 2024
Integrantes: The Lord (Vocal), The Doctor e The Gravedigger (Guitarras) e The Professor (Bateria)
Faixas em Destaque: “Black Mass”, “The Waltz of the Undead”, “My Last Breath” e “Blood of Thy Blood”

O álbum de estreia da banda com identidade misteriosa, Clan of Crows, conta a história de Peter O’Crowley – um viúvo atormentado pela morte de sua esposa, que se vê arrastado para um mundo de trevas e imortalidade – “The Crypt” apresenta uma verdadeira experiência cinematográfica através da música. Inspirados por mestres do horror como Bram Stoker, Edgar Allan Poe e Anne Rice, “The Crypt” conduz o ouvinte por uma narrativa macabra e envolvente, criada pela própria banda, onde amor, tragédia e condenação se entrelaçam em uma história de vampiros e maldição. Musicalmente, a banda transita entre o metal tradicional e o extremo, incorporando elementos sinfônicos e dramáticos que celebram suas influências de Iron Maiden, Ghost, Cradle of Filth e King Diamond.

Agathos – “The Red Storm, Pt. I”

Ano de Lançamento: 2024
Integrantes: Renan Collatto (Guitarra, Baixo, Teclados), Ricardo Janke (Vocais) e Alessandro Kelvin (Bateria)
Faixas em Destaque: “Holy Knight”, “Last Hope” e “War Machine”

“The Red Storm” é um álbum conceitual de Renan Collatto’s Agathos inspirado no clássico jogo de RPG da Trilogia da Tormenta, de Leonel Caldela. A obra traduz em música a grandiosidade e o terror do universo de Tormenta, combinando metal progressivo com atmosferas épicas e narrativas imersivas. A primeira parte, “The Red Storm Pt. 1”, captura a desesperança de O Inimigo do Mundo, enquanto “The Red Storm Pt. 2”, ainda a ser lançado mergulha nos eventos de O Crânio e O Corvo em uma jornada musical de 30 minutos, dividida em nove capítulos. Com riffs intensos, melodias marcantes e arranjos dinâmicos, o álbum busca transportar o ouvinte para o coração da tormenta, sentindo-se como parte da aventura durante a audição do disco.

Torture Squad – “Esquadrão da Tortura”

Ano de Lançamento: 2013
Integrantes: André Evaristo (Vocal e Guitarra), Castor (Baixo e Backing Vocals) e Amilcar Christófaro (Bateria)
Faixas em Destaque: “No Escape from Hell”, “Pull the Trigger” e “Pátria Livre”

“Esquadrão da Tortura” é o único álbum do Torture Squad como um trio e aborda de forma direta e brutal os horrores da ditadura militar no Brasil (1964-1985), expondo os crimes cometidos pelo regime, como censura, repressão, perseguição política e tortura. O disco denuncia as atrocidades praticadas pelos órgãos de repressão e faz um resgate histórico da luta e resistência daqueles que enfrentaram a violência do Estado. Musicalmente, a banda combina death e thrash metal, com maior ênfase nesta segunda vertente, criando um som agressivo e sufocante, refletindo o clima de opressão e desespero da época.

Innocence Lost – “Oblivion”

Ano de Lançamento: 2024
Integrantes: Mari Torres (Vocal) Aloysio Ventura (Teclado), Ricardo Haquim (Baixo), Gui DeLucchi (Guitarra) e Heron Matias (Bateria)
Faixas em Destaque: “Dark Forest”, “The River”, “Oblivion” e “Fallen”

“Oblivion”, o álbum de estreia da banda de Prog/Power Metal, Innocence Lost, nos apresenta a uma jornada de busca por esperança e auto conhecimento influenciada pelas obras clássicas, “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, e o “Paraíso Perdido”, de John Milton. O disco desenrola sua narrativa central em torno do Pecador, um personagem que atua como o fio condutor da perspectiva da banda em uma jornada pelos círculos do inferno. Acompanhado pelo Guia, um poeta que o orienta em sua jornada, o Pecador recebe a missão de absorver as lições dos condenados e enfrentar seus próprios demônios interiores. Essa exploração, às vezes literal, às vezes metafórica, é empregada pela Innocence Lost para desvelar um paralelo entre essa incursão pelas sombras mais profundas do mundo e as questões existenciais que permeiam nosso próprio cotidiano. Em “Fallen”, por exemplo, testemunhamos um diálogo entre o Pecador e o demônio, desvendando as complexidades da natureza humana e o verdadeiro significado do inferno.

Dorsal Atlântica – “Pandemia”

Ano de Lançamento: 2021
Formação: Carlos Lopes (Vocal e Guitarras), Cláudio Lopes (Baixo) e Braulio Drumond (Bateria)
Faixas em Destaque: “Pandemia”, “Burro” e “Terra Arrasada (Treva Que Nunca Acaba)”

“Pandemia”, álbum mais recente do Dorsal Atlântica, é um disco que reflete sobre os impactos sociais, políticos e psicológicos da pandemia de COVID-19, abordando temas como isolamento, colapso do sistema de saúde, negacionismo e a fragilidade da humanidade diante de crises globais. Com uma abordagem crítica e provocativa, o disco traça paralelos entre a pandemia e outros momentos de instabilidade histórica, destacando como o medo e a desinformação podem ser usados como ferramentas de controle.

TEXTO POR LUIS FERNANDO RIBEIRO