Com produção do baixista Nenel Lucena, que também ficou a cargo da engenharia de som, além de acompanhá-los na turnê brasileira de 2024, o Bride anunciou em março o primeiro disco duplo de sua carreira, intitulado Vipers And Shadows. A banda contou com o também brasileiro Alexandre Aposan na bateria, consolidando de vez a parceria dos irmãos Dale e Troy Thompson com o músico. Com a mente de Troy responsável pela direção musical do grupo, o álbum mais recente parece expandir seu leque de influências, alcançando um saldo extremamente positivo, especialmente por se tratar de um disco duplo.
Com uma sonoridade que transita com maestria entre a modernidade de bandas como Imagine Dragons (calma, isso não é algo ruim nesse caso), Audioslave, Alice In Chains, entre outras, o Bride conseguiu unir o passado e o futuro num disco pra lá de interessante. O primeiro disco, a parte “Vipers” abre com Million Miles, um hardão nervoso com vibe perfeita pra abrir os shows da nova turnê que estará por aqui em breve.
A linha vocal lembra um pouco o Velvet Revolver, especialmente no refrão. O riff, totalmente inspirado em Sammy Hagar (se duvida escute Three Lock Box do disco homônimo do ruivo, de 1982 e comprove). Com a cozinha coesa e afiada, o clima de pergunta e resposta permeia toda a canção, despertando curiosidade sobre como a canção deverá soar ao vivo. O disco segue com Anytime I Call On You, um blues/heavy cadenciado com acordes cheios e refrão bacana, quebrando um pouco a correria inicial. Fall To Pieces é o velho Bride até a medula: pesado, heavy metal e com clima apocalíptico. Destaques para as guitarras de Troy, com efeitos inspirados em Tom Morello na fase Audioslave, o que com certeza é um ponto positivo.
Beginning Of Sorry tem uma cadência interessante, parecendo um cruzamento do Motley Crue na fase Saints of Los Angeles com o Faith No More e ecos do Skid Row em Thickskin. A energia incrível dessa canção a torna uma das melhores do disco, O solo lembra mais uma vez Tom Morello, porém dessa vez com frases mais cortantes e limpas. No Better Time tem cara de clássico e poderia facilmente estar no disco mais famoso deles, o lendário Snakes In The Playground. Há pontos menos interessantes no disco, como em In One Life (uma tentativa pretensiosa de soar moderninho demais, com resultado previsível e tecladinho mala no meio), a cansativa Take It Out On Me, que mais parece um Whitecross sem inspiração, além do enjoativo refrão que repete incessantemente e a terrivelmente chata Black Kiss, claramente inspirada em Without You do Motley Crue, com vocal parecendo um Rob Halford bêbado. Wrath encerra o primeiro disco do jeito que se espera da banda: cozinha pulsante, pancada na orelha, vocal fantasmagórico e clima sombrio.
Os vocais de Dale estão mais contidos nesse disco, o que é muito bom, pois torna tudo mais pesado e avassalador, encerrando a primeira parte com saldo positivo e despertando vontade de partir logo pra segunda parte. Dito isso, a parte Shadows abre com Watcha Doin’ Out There, canção forte, pesada e agressiva, dando o tom do que é o Bride atualmente. A bateria e o baixo estão absurdamente pesados, fazendo dela uma das mais aguardadas ao vivo. Higher vem na sequência, com um clima hard e riff Zeppeliano encantador. Live And Love tem baixo pesadíssimo e riff ensandecido de Troy no início. Refrão poderoso lembrando Alice In Chains, uma pedrada direta e reta com solo impecável e técnico de Troy, mostrando por que é um dos melhores guitarristas do estilo, e um dos mais criativos também. Essa segunda parte faz jus ao título, pois é mais pesada e agressiva que a primeira, o que parece ser algo proposital para capturar a atenção dos fãs. Deliver Us From Evil é mais uma demonstração do peso e da agressividade presentes no disco, com vocal que lembra demais o saudoso Layne Staley, e aqueles backings assustadores que tanto amamos.
No geral, os 2 discos tem pouquíssimas escorregadas, o que prova que a criatividade do Bride está em alta e Nenel Lucena e Alexandre Aposan se encaixaram perfeitamente com a banda a ponto de influir na sonoridade final sem contudo alterar a essência dos caras. Alguns destaques geram curiosidade como uma espécie de baião antes do solo de Can You Stoke The Fire e a participação de Jean Carllos, tecladista do Oficina G3, na música Rescue Me, que mostra o quanto o Imagine Dragons seria uma banda decente caso resolvesse distorcer mais suas guitarras. Essa canção tem alguma similaridade com Bang, clássico da banda Shotgun Messiah, principalmente por conta do excelente refrão.
Esses discos valem cada segundo de audição, se você gosta da sonoridade clássica mas tem a mente aberta para a modernidade surgida no rock n’ roll de 20 anos pra cá. As referências citadas nessa resenha não atestam nenhuma falta de originalidade por parte da banda, ao contrário, são apenas comparações pontuais para que quem não conhece o trabalho da banda tenha uma idèia da sonoridade que os espera e assim desperte a curiosidade do público, visto que o White Metal ainda é algo nichado e desconhecido do mainstream. Ao ouvir esse disco, você irá perceber que o Bride não fica devendo em nada em peso e qualidade, a nenhuma banda de heavy metal no mundo.
Nota: 4,5 / 5
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Shadows: