Resenha: Cathedral – The Ethereal Mirror (1993)

“Um mundo invertido onde todas as formas de excesso são, não apenas permitidas, mas também, apreciadas.”

NOTA: 5/5.

Banda fundada na cidade de Coventry (Inglaterra) por Lee Dorrian (ex-vocalista do Napalm Death), juntamente com Mark Griffiths (ex- roadie do Carcass). Ao longo de cerca de 24 anos, o grupo estabeleceu-se como uma das melhores bandas da história da Grã-Bretanha. A banda anunciou a separação em 2011 e após o lançamento de The Last Spire em 2013 oficializou o fim das atividades. Desde então Dorrian passou a comandar a Rise Above Records, pequena, mas respeitada gravadora independente especializada em Doom Metal.

Por falar em Doom, algumas fontes citam o grupo como um dos criadores do estilo, o que não é verdade, já que bandas como Trouble e Saint Vitus faziam isso há muito mais tempo. O mérito do grupo é o de saber usar os elementos fornecidos por estas e levar o estilo para o estágio seguinte de evolução.

Neste álbum, os músicos conceberam uma experiência que, para este que vos escreve, só é possível absorvê-la pela fruição das canções no sentido mais amplo da palavra. A música que aqui fizeram, não é apenas para os ouvidos, mas também para a mente. Ouvir The Ethereal Mirror, para mim, foi como fazer uma espécie de jornada subjetiva em que fui afetado de três formas: 1) estranhamento, 2) aceitação e 3) admiração. O Espelho Celestial é uma metáfora para um mundo invertido onde o céu é representado por um universo em que todas as formas de excesso, são não apenas permitidas, mas também, apreciadas. A capa do disco antecipa detalhes que poderão ser vislumbrados mais adiante. De toda forma, é através da audição do disco que todos esses elementos se conectam e passam a fazer sentido… mesmo que intuitivamente.

1) The Violet Vortex, a faixa de abertura, é uma “intro” que tem como finalidade última colocar o ouvinte no clima do álbum. 2) Ride, tem uma harmonia realmente simples, mas liricamente é um passeio psicodélico difícil de interpretar. 3) Enter The Worms, com riffs em estacatto, aqui as coisas ficam mais pesadas e arrastadas. 4) Midnight Mountain, aqui é facilmente reconhecível a influência de Budgie; interessante notar as como as palmas se integram aos instrumentos. 5) Fountain Of Innocence, é a mais bela canção escrita pela banda; destaque para a interpretação de Dorrian. 6) Grim Luxuria, até aqui tem sido difícil penetrar no universo lírico conceitual do álbum, em contrapartida, a música se torna mais viciante. 7) Jaded Entity, é o momento mais Iommiano do álbum e reflete de forma mais palpável a energia letárgica do Doom. 8) Em Ashes You Leave a banda profetiza o Black Sabbath de “13” e parece falar através da voz do criador. 9) Phantasmagoria, é mais uma em que o sentimento Doom se mostra mais presente.10) Imprisoned In Flesh, fecha o álbum com melancolia. Nela, o veneno começa a ser absorvido pelo organismo e, à medida que causa agonia, liberta.

Apesar de Lee Dorrian (vocal) e Mark Ramsey Wharton (bateria) haverem sido fundamentais para a sonoridade da banda neste álbum, é possível notar que a força motriz estava nas mãos de Garry Jennings e de Adam Lehan. Ambos tocaram o baixo no disco e, juntos, conseguiram fazer um trabalho extraordinário. Todavia, quem também contribuiu para que esta obra fosse um sucesso foi o produtor David Bianco ((1954 – 2018) Fleetwood Mac, Ozzy Osbourne, Danzig), que participou do processo de composição em 3 músicas. A capa foi produzida pelo artista David Patchett que, entre outras, concebeu a arte de Dance of Death (Iron Maiden) e Electric Wizard (Electric Wizard).

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo