Evergrey. É sempre uma empolgação inigualável quando esse quinteto sueco anuncia que está trabalhando em um novo trabalho! E é sempre um prazer imenso viajar pela primeira vez em cada riff, cada linha de voz, cada harmonia de cada composição enquanto ouve um trabalho deles.
A Heatless Portrait (The Orphean Testament) surge pouco tempo depois do bom Escape of The Phoenix (2021) e do ao vivo Before The Aftermath (2022), provavelmente em decorrência da falta de shows durante os períodos mais intensos da pandemia de COVID-19 e também em meio a uma troca de gravadora. Hoje o Evergrey tem contrato com a Napalm Records e já chegou mostrando que foi uma excelente adição à galeria de artistas representados pela gravadora.
Este cenário e o fato de que Escape Of The Phoenix se apresentou como um álbum inferior aos geniais The Atlantic (2019), The Storm Within (2016) e Hymns For The Broken (2014) fez com que muita expectativa (e muita desconfiança) surgissem em torno do novo álbum.
Por que um álbum tão próximo de outros lançamentos? Seriam músicas criadas/gravadas às pressas? Sobras de trabalhos anteriores? Estaria o auge da banda passado e estariam em queda?!
Poucas bandas, em toda a história do metal, conseguiram uma sequência de lançamentos tão consistentes quanto o Evergrey entre 2014 e 2019, principalmente se considerarmos que a banda já havia passado por um auge técnico, criativo e de popularidade entre as também obras-primas Recreation Day (2003), The Inner Circle (2004) e o também ao vivo A Night To Remember (2005), então ouvir qualquer trabalho novo com grandes expectativas se torna ao mesmo tempo inevitável e extremamente arriscado.
Muito se especulou na comunidade em torno do Evegrey, mas o que se ouve em A Heartless Portrait é um trabalho coeso, forte, potente e inspirado.
De antemão, gostaria de destacar um integrante que, quando passou a fazer parte do Evergrey, a banda claramente subiu de patamar e, mesmo assim, sinto que não recebe os devidos méritos: o tecladista Rikard Zander dá um show à parte ao longo de TODAS as faixas, explorando timbres, arranjos e solos extremamente bem feitos, musicais, técnicos, cheios de sentimentos e bom gosto.
Sempre gosto de exaltá-lo, mas esse álbum parece ser a obra ideal para servir de cartão de visitas. Parabéns, Sr. Zander.
A primeira impressão com a faixa Save Us, que já havia sido lançada como single, não havia sido muito boa àquela época. Apesar de ser uma boa música, apresentava muitas similaridades com a sonoridade de Escape Of The Phoenix o que levou a muita especulação: “Seria um álbum de sobras?”
Mas começar o álbum com essa faixa, ao se ouvir tudo em sequência deixa muito claro: Save Us é uma ponte, uma conexão entre a sequência de seus 4 antecessores e o que está por vir, nessa nova fase da banda. E, ouvindo dessa forma, Save Us cai como uma luva e passa ser uma música muito mais interessante do que ‘solta’ em seu single.
Midwinter Calls, outra faixa liberada anteriormente empolga muito mais, ela realmente mescla tudo o que o Evergrey fez nos 4 álbuns anteriores e o que está por vir nas músicas seguintes, finalizando essa parte de ‘transição’ entre épocas da banda com uma verdadeira obra-prima. Eu poderia escutar essa música 10 vezes no repeat e daria nota máxima para o álbum.
Em Ominous as coisas começam a ficar interessantes, quase como se a banda falasse “Bem Vindos ao Heartless Portrait“. Tanto que a música tem um início que poderia, tranquilamente ser uma abertura de álbum, com instrumental em ‘fade in’ e Tom Englund explorando linhas vocais extremamente carregadas de emoção (sempre um destaque quando o assunto é Evergrey) antes da música de fato começar.
Um riff forte, pesado que dá o tom do que vem em seguida por todo o álbum: mais peso do que os fãs estão acostumados, teclados mais imponentes, cozinha elaborada e os vocais que são a assinatura da banda.
A música tem muitas mudanças de clima que se amarram sempre em volta do refrão, um toque genial que evidencia o lado mais progressivo da banda.
Call Out The Dark tem um comecinho que eu, particularmente adoro quando as bandas exploram, quando tudo começa ‘pra valer’ é impossível não sentir arrepios. A cozinha da banda funciona muito bem com os teclados dando ‘pitadas’ de destaque para os versos e um refrão extremamente genial, pesado, moderno, mas com influências dos anos 70. Simplesmente genial. Talvez essa seja a melhor música do álbum e que melhor resume essa nova fase do Evergrey.
Esqueçam o que falei, The Orphean Testament virou a minha favorita agora (rsrs). Que riff inicial! A rítmica mais agressiva, essa música tem um pulso muito forte! Riffs agressivos e um refrão sublime! É legal como o metal nos permite sensações únicas de agressividade e beleza misturados em um turbilhão de emoções que se sobrepõem! E poucas bandas conseguem atingir isso como o Evergrey!
Reawakening começa se contrapondo à agressividade da música anterior e dialogando mais com Call Out The Dark. Mas aos poucos vai crescendo e criando uma identidade própria. As guitarras são pesadas, mas a música não tanto, criando um ‘conflito’ que se resolve na voz de Tom Englund de maneira sobrenatural e com um solo de guitarra que, sem desprezar os outros do álbum, merece destaque. Pura obra de arte!
The Great Unwashed é um prenúncio de algo grandioso, a introdução cadenciada abre espaço para melodias vocais bem trabalhadas, mas também para prestarmos atenção nos timbres utilizados nesse álbum. Quero destacar toda a produção desse álbum. Ao longo de todo o álbum é possível ouvir todos os instrumentos de forma cristalina, com timbres de incrível bom gosto e que, ao se mesclarem na música, tornam tudo muito “maior” para o ouvinte. É possível perceber o grau de esmero que foi dado à produção e sentir, de fato, a vontade com a qual a banda tocou cada nota!
E isso fica muito evidente ao longo do riff principal no meio de The Great Unwashed, com a guitarras dobrando seguidas por um maravilhoso trecho de voz e teclado, clássicos do Evegrey!
Heartless é diferente, mas ao mesmo tempo, soa familiar. Os teclados prenunciam um riff poderoso que vem acompanhado da voz de Tom cantando com uma melodia otimista, uma música mais ‘pra cima’ e, de repente, muito mais agressiva do que o que o Evergrey costuma fazer e, em seguida, um refrão “clássico Evergrey“
A música Blindfolded encaminha a audição para o final, muito mais sombria e pesada do que a anterior, um dos pontos altos do álbum. O clipe lançado antes surpreendia, mas escutá-la ao longo da audição do álbum causa um impacto diferente. A experiência é altamente recomendada. Que refrão! Que riffs! Que solo de teclado espetacular!
Wildfires é simplesmente linda. A voz de Tom Englund se destaca em músicas como essa, sempre soube explorar muito bem suas técnicas. Tom sempre se destaca pela emoção que coloca em cada palavra que canta e por seu timbre bonito, diferente e único. Em Wildfires isso fica muito evidente. Após toda a potência da faixa anterior Wildfires é a música perfeita para encerrar uma jornada magnífica que fazemos por A Heatless Portrait (The Orphean Testament). A sensação é de curtir os créditos finais de um filme de tirar o fôlego visto na sala de cinema mais impressionante disponível enquanto você tenta se localizar de volta na realidade em que vive pensando “como eu gostaria de ver esse filme de novo”.
Em A Heartless Portrait (The Orphean Testament), o Evergrey explorou novos horizontes, músicas mais empolgantes, mais pesadas e mais ousadas, mas sem nunca se desconectar do que faz com que o Evergrey soe como Evergrey!
A banda dá um passo além e mostra que mesmo com uma história sólida pode, e deve, evoluir sempre!
Facilmente um dos 10 melhores lançamentos de 2022 e um dos álbuns mais interessantes dos últimos 2 ou 3 anos. Mas eu sou suspeito para falar. Vida longa ao Evergrey!
NOTA: 5/5
A Heartless Portrait (The Orphean Testament)
01. Save Us
02. Midwinter Calls
03. Ominous
04. Call Out the Dark
05. The Orphean Testament
06. Reawakening
07. The Great Unwashed
08. Heartless
09. Blindfolded
10. Wildfires