Antes de mais nada, preciso dizer que já estava mais do que na hora de fazer um Além do Óbvio com bandas nacionais. Escolhi o Dr. Sin para reparar um erro histórico na minha vida.

Em 2009, vi pela primeira vez a banda da minha vida, o Kiss. Quem abriu o show foi justamente o Dr. Sin, mas na ânsia de ver a banda principal, tenho apenas um borrão na memória em relação à banda de abertura. Tanto que, quando falamos sobre esse show no meu PodKISS, minha resposta foi algo como:

Nem sei se o Dr. Sin é bom ou ruim, porque simplesmente não lembro.”

Pois bem, amigos, 16 anos se passaram e volto para dizer: sim, o Dr. Sin é um absurdo de bom. Tão bom quanto subestimado. A maioria das pessoas vai lembrar de Futebol, Mulher e Rock n Roll, uma das raras músicas cantadas em português, ou da clássica Emotional Catastrophe. A questão é que a banda é tão subestimada que até seus hits merecem mais atenção. Mas, para não fugir da essência do quadro, aqui vão dez canções que você deveria conhecer dos Doutores!

Bora lá?

Lady Lust

A primeira coisa que impressiona é como um som tão poderoso sai de um power trio. Andria Busic (baixo e voz), Ivan Busic (bateria e voz) e Edu Ardanuy (guitarra e voz) formam o núcleo dessa porradaria sonora. A música tem uma vibe meio Electric Funeral do Black Sabbath. Andria brilha com uma linha de baixo espetacular. Pedrada do álbum Animal (2011).

The Fire Burns Cold

Presente no álbum de estreia Dr. Sin (1993), traz uma pegada mais voltada ao hard rock tradicional. Tem uma vibe animada, lembrando faixas do Bon Jovi como Lay Your Hands on Me. Solo técnico de Ardanuy e Ivan brilhando nas peles. Sensacional.

Same Old Story

O trio clássico vira um quarteto com a entrada de Michael Vescera (vocal). O riff de Ardanuy guia a música enquanto um vocal dobrado aquece o coração. Enquanto isso, na cozinha, os irmãos Busic destroem tudo. Destaque para a letra, que é uma pedrada também. Presente no álbum Dr. Sin II (2000).

Child of Sin 

Quanto feeling! Uma guitarra quase bluesy dita o ritmo dessa “balada” do álbum Brutal (1995). Destaque para as viradas de bateria de Ivan, que ecoam de forma consistente durante toda a música, acompanhadas da criatividade de Edu na guitarra e do baixo marcante de Andria.

You Are My Love

Dessa vez, uma balada sem aspas, pois não tem o peso da anterior. Apesar de ser de um álbum de 2009 (Original Sin), remete totalmente às baladas oitentistas de bandas como Warrant e Firehouse. Destaque para os coros vocais, que remetem à melhor era do hard rock. Se você curte esse tipo de som, achou o seu lugar.

Sometimes

Uma música com uma levada bem diferente. Quase um AOR no estilo Toto no começo, com baixo e guitarra acústica dialogando enquanto um vocal em estilo coral prepara o terreno. Depois, a voz potente de Andria se sobrepõe e a música ganha mais peso. Ivan e Edu brilham com a intensidade certa para um refrão marcante. A faixa mostra a versatilidade da banda ao unir estilos distintos em uma mesma canção. Mais pro fim, Ardanuy mostra por que é um dos melhores guitarristas brasileiros com um solo cheio de sentimento. Presente no álbum Insinity (1997).

See Me Now

No álbum Back Home Again, já sem Edu Ardanuy (substituído com maestria por Thiago Melo), temos mais uma balada. Impressiona como a voz de Andria continua impecável, mesmo quase 30 anos após o primeiro disco. Thiago mostra seu cartão de visitas com um belo solo.

The Reflection of a Conflict Mind 

“Pô, Biel, a banda ainda é versátil?” — A resposta está aqui. Essa música vem logo depois de See Me Now e mostra outra faceta da banda. Tem momentos que lembram até o Rush, se você prestar atenção. Ivan mostra por que é considerado um dos melhores bateristas de sua geração, com uma bateria cheia de groove e personalidade.

Drowning in Sin

Sabe o que eu escrevi sobre o Ivan ali em cima? Multiplica por dois. Uma bateria brutal, acompanhada de um conjunto de cordas que sabe como entregar um show. Ritmo alucinante do começo ao fim — não há tempo pra respirar quando você está “se afogando no pecado”. Pecado é deixar essa paulada passar despercebida na discografia. Está no álbum Bravo (2007), ainda com o trio original.

Without You

Quem acompanha o Além do Óbvio sabe da minha queda por baladas. Então não dava pra fechar sem essa maravilha do álbum Intactus (2015), o último com a formação original. Sentimental ao extremo, mas com o peso certo. Essa é pra derreter de chorar: seja pela lembrança daquela pessoa amada, seja pelo solo magnífico de Edu, pela voz de Andria rasgando o peito ou pela precisão cirúrgica de Ivan do começo ao fim.

Bônus – Listen to the Doctors

Para o bônus eu escolhi um projeto ousado. O album de covers lançado em 2005 que apresenta só músicas de “Doutores”. Para começar, nota 10 só pela criatividade de pensar nisso. Depois, outra nota 10, agora pela execução. Músicas como Calling Dr. Love (Kiss), I Dont Need No Doctor (que originalmente é do Humble Pie, mas é mais conhecida pela versão do W.A.S.P), Doctor Doctor (UFO) e todas as outras misturam seus riffs clássicos com uma boa pitada do “pecado” dos brasileiros. Fazem o suficiente para deixar clara a sua releitura, mas não a ponto de descaracterizar a música original.

Bom ter representantes do nosso Brasil por aqui né? O Dr. Sin merece muito mais reconhecimento, pois eles são muito mais do que futebol, mulher e rock n roll…

E aí, qual banda você quer ver por aqui semana que vem? Conta pra gente aqui nos comentários!

Valeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu!

TEXTO POR GABRIEL FURLANETO