Em 1995, o Resgate lançou o disco que marcaria um ponto-chave em sua carreira. On The Rocks é o ápice da inspiração — musical e literária — de uma banda que, até então, não abria mão da velha fórmula de fazer rock n’ roll de forma crua e direta, com vocais ora melódicos, ora agressivos, temperados por riffs absurdamente inspirados nos grandes nomes do Hard Rock Setentista.
Doutores da Lei abre o disco com um riff arrasa-quarteirão, bateria pesada de Jorge Bruno e vocal destruidor de Zé Bruno, que também assume a guitarra ao lado de Hamilton Gomes. Em seguida, vem Acusador, com Zé Bruno mandando seu recado ao próprio diabo de maneira direta e incisiva. A letra da música declara: “Eu sei, fui comprado por um alto preço… Eu sei, você tá debaixo do meu pé…” — com tanta raiva que lembra o clima explosivo de bandas como o Guns N’ Roses. O riff é um show à parte, presença certa nos shows da banda para agitar o público.
Tudo continua em alto nível com o blues Papo de Loki, onde a banda faz uma divertida comparação entre suas vidas antes e depois da conversão. 5:50 AM é uma balada queridinha dos fãs, narrando parte do processo de conversão de Zé Bruno. Já Tempo é uma pedrada na orelha, com letra baseada na conhecida passagem de Eclesiastes, acompanhada de um riff espetacular e arranjo que exala rock n’ roll por todos os poros. Destaque também para o pesadíssimo baixo de Marcelo Bassa, que constrói a base perfeita para o hipnótico riff.
Príncipe talvez seja a faixa mais direcionada às igrejas, já que sua letra fala exclusivamente sobre Isaías 53, uma profecia sobre o nascimento de Cristo — tudo isso sem abrir mão do peso característico do disco. Sobre a Rocha e Fogo (com o divertido grito “Fogo no Cãooooooo!”) não estão ali apenas para preencher espaço; ao contrário, cumprem bem seu papel e contribuem para que este seja um dos maiores discos de White Metal já lançados.
Solidão, o maior hit do disco ao lado de 5:50 AM, ganhou notoriedade com seu premiado e bem-produzido clipe, tornando-se presença obrigatória nos shows e uma das preferidas dos fãs. Palavras é mais uma linda balada — ou seria uma declaração de amor? — na qual a banda fala diretamente a Deus. Encerrando o disco, temos He’ll Come Again, uma versão um pouco mais suingada e em inglês da música Ele Vem, lançada no primeiro disco e revivida no álbum anterior, o poético Novos Rumos, de dois anos antes. A inspiração era tanta que o novo arranjo ficou incrível, conquistando também muitos fãs.
O Resgate é uma banda que continua ativa até hoje, sempre com letras extremamente reflexivas e atemporais. Na época deste álbum, sua criatividade estava a todo vapor. Ouvir a banda é diversão garantida, mas também uma chance de refletir a partir de visões sinceras e práticas sobre o mundo atual e o evangelho. Do ponto de vista musical, deixar de ouvir algo apenas pelas temáticas das letras é como se recusar a comer em um restaurante por causa da nacionalidade ou da cor do chef — ou seja, puro preconceito. Posso afirmar com convicção: isso aqui é rock n’ roll puro, simples e direto, com o diferencial de trazer um conteúdo literário saudável em suas letras.
Nota: 4,5 / 5