No último sábado, o histórico Garage Grindhouse recebeu um dos grandes nomes do metal brasileiro: o Papangu, que retornou à Cidade Maravilhosa para uma apresentação antes de seguir para mais um giro pela Europa, levando seu som completamente único e pesado.
E não tem como: chegamos à casa e já pegamos a banda começando sua apresentação intensa. Dessa vez em formato de quarteto — formado para esse show por Pedro Francisco (voz e baixo), Hector Ruslan (voz e guitarra), Rodolfo Salgueiro (voz e teclado) e Vitor Alves (bateria) — o Papangu desfilou suas canções em pouco menos de duas horas de um show que desafia qualquer um acostumado ao som pesado tradicional.

Viajando de Móveis Coloniais de Acaju a Jethro Tull, misturando Cordel do Fogo Encantado com Tangerine Dream, e ainda encaixando, no meio desse caldeirão, momentos de blast beats à la Cannibal Corpse e Deicide, o Papangu nos presenteou com ótimas canções durante a apresentação. O repertório foi um mix entre faixas do Holoceno e do mais recente Lampião Rei, disco que nos traz composições inspiradas e cuja execução ao vivo é simplesmente única. A variedade de instrumentos usados ao longo do show — em sua maioria tocados pelo baixista Pedro — inclui flauta, chocalhos (também usados por Hector), galinhas de borracha (sim, galinhas de borracha!) e até triângulo em algumas composições.

Dito tudo isso, o show do Papangu é uma verdadeira aula de bom gosto — especialmente nas variações de estilos e na fusão única entre música regional e prog metal. Com passagens que vão do baião ao extremo, a banda mostra como é bom ser inventivo e quebrar barreiras, provando que nossa cultura pode se encaixar em qualquer linguagem musical. Canções como São Francisco, Bacia das Almas, Oferenda no Alguidar, Boi Tatá e várias outras foram executadas e muito bem recebidas pelo público. Em alguns momentos, o vocalista Rodolfo anunciou que iriam tocar faixas do próximo disco da banda, pedindo ao público que não compartilhasse nem gravasse essas músicas, para não estragar a surpresa futura.
Aliás, Rodolfo é um frontman incrível — com um domínio de palco ímpar. As guitarras de Hector são um show à parte, com efeitos maravilhosos e solos envolventes. Os riffs da banda são certeiros, e o baixo de Pedro traz um timbre excelente, mesmo que o som da casa não estivesse ajudando tanto naquela noite. Mas não tem como não exaltar o baterista Vitor Alves. Parafraseando o próprio Rodolfo: “ele caiu num poço de baterias quando era bebê” — uma referência sensacional, quem pegou, pegou!
Antes do encerramento, uma participação especial: Chico Brown, filho de Carlinhos Brown e exímio guitarrista, subiu ao palco para uma pequena jam com o pessoal do Papangu, exaltando ritmos brasileiros e entregando passagens belíssimas.

Um show que comprova como estamos bem servidos de bandas que desafiam e quebram certas “regras” ainda enraizadas no metal. O Papangu é uma banda completa, que entrega tudo no palco com qualidade ímpar e composições que vão muito além do que entendemos como progressive metal. O Papangu é mais do que um simples rótulo — é uma experiência sensorial, intensa e desafiadora, que te transporta para outro nível. Um show simplesmente fenomenal.
FOTOS POR IAN DIAS