Às vésperas de mais uma turnê em solo brasileiro, Dale Thompson, vocalista do Bride, conversou conosco em uma entrevista franca e sem rodeios — como já é de praxe. Com o Stryper e o Narnia como parceiros de palco, a banda retorna ao país trazendo novidades, entre elas o álbum duplo Vipers and Shadows. Falamos sobre o novo disco, o cenário atual do White Metal, o repertório dos shows e até sobre os rumores de uma possível entrada de Dale no Stryper, nos anos 90.

Se você ainda não conhece a força do Bride, ouça os discos e descubra por que a banda é uma das mais respeitadas do metal cristão. Com influências de peso como Deep Purple, Guns N’ Roses e Judas Priest, o Bride segue surpreendendo — mesmo nas fases mais experimentais. E atenção: essa “noiva” aqui nunca se atrasa. Nos vemos em agosto!

1 – Como foram seus primeiros anos na música?

Dale Thompson: Nosso primeiro ano na música foi muito produtivo. Tivemos grande apoio de amigos e familiares quando Troy e eu começamos a banda. Não havia muitos lugares para tocar ao vivo, mas encontramos alguns pequenos cafés e casas noturnas seculares para nos mantermos ocupados. Estávamos felizes tocando em pequena escala na época.

2 – O Bride tem uma relação muito próxima com os fãs brasileiros. Agora, essa relação parece ter se estreitado ainda mais com a chegada de Alexandre Aposan. Como vocês escolheram o Alexandre para a bateria?

DT: Nenel Lucina nos apresentou a Aposan, e somos gratos por isso. Consideramos os dois bons amigos. Eles entendem a Bride e trabalham bem conosco.

3 – Vocês acabaram de lançar Vipers And Shadows, o único álbum duplo de toda a carreira do Bride. Como foi o processo de composição? 

DT: Eu morava na Nova Zelândia na época; agora estou de volta aos Estados Unidos. Naquela época, morando na Nova Zelândia, gravei todos os vocais lá; depois, o Troy me enviava as músicas. Eu enviava os vocais de volta para o Troy, que fazia uma mixagem bruta e a enviava para o Brasil, para o Nenel, onde o Nenel tocava baixo e o Aposan, na bateria, gravava as partes. O Nenel então mixou e masterizou o álbum para nós. Eles tocaram conosco nos últimos quatro álbuns do Bride.

4 – Por que lançar um álbum duplo neste momento, quando a modernidade de alguma forma “contamina” a forma como o público ouve música hoje, através de cortes no Instagram, vídeos curtos no TikTok e reels?

DT: Troy e eu sempre temos músicas extras depois de escrever e gravar, e eu senti que, já que o Bride pode tomar uma direção musical diferente no futuro, deveríamos dar aos fãs todas as músicas em que trabalhamos.

5 – Às vésperas de desembarcar novamente no Brasil, quais são suas expectativas para esse próximo show?

DT: Nossos próximos shows serão com Stryper e Narnia, e não há dúvidas de que a turnê será muito bem recebida por nossos amigos e fãs brasileiros. Estamos honrados e abençoados por poder retornar, e esperamos que Deus faça grandes coisas.

6 – O que o público pode esperar de diferente do último show, quando vocês abriram para o Petra? O público poderá ouvir músicas do Vipers e do Shadows ao vivo?

DT: Ainda não decidimos o repertório do show ao vivo, mas podemos voltar no tempo e tocar algum material antigo ao vivo para o Brasil, as músicas que eles querem ouvir!

7 – Neste álbum, Troy ficou responsável pelo baixo e outros instrumentos, além das guitarras, é claro. Em que medida isso influenciou o resultado final do álbum?

DT: Troy compõe todas as músicas de Bride, e neste álbum sua influência foi monstruosa. Ele tocou baixo nas faixas iniciais, mas Nenel regravou o baixo depois. Além disso, Troy tocou piano, violoncelo, violino e outros instrumentos. Troy é o cérebro por trás do som.

8 – Desde This Is It (2003), o Bride parece ter retornado à fórmula antiga, e com o novo álbum isso parece ter se tornado ainda mais evidente. O que levou o Bride a optar por sons mais alternativos entre Drop (1995) e Fist Full Of Bees (2001)? 

DT: Estávamos simplesmente exercitando nossa criatividade e mudando deliberadamente nossos estilos por questões artísticas. Um artista deve ser livre para se expressar em qualquer formato que desejar, e concluímos que tínhamos feito heavy metal, então vamos criar um som diferente.

9 – Qual a principal diferença entre o cenário do rock n’ roll atual e o dos anos 80 para quem é cristão?

DT: Hoje em dia, há mais música, mais bandas, mas menos opções de shows, menos casas de shows, menos promotores, menos vendas de álbuns e menos turnês. É triste, mas o rock cristão não tem apoio algum. Anos atrás, na época do Snakes in the Playground, recusávamos shows porque estávamos muito ocupados. Hoje em dia, não é mais assim. Infelizmente, a comunidade não está sendo apoiada pelos fãs nem pelas gravadoras.

10 – Como você vê a evolução do White Metal dos anos 70 até hoje? 

DT: O metal e o rock cristãos acompanham de perto as tendências do mercado secular. Não acho que o rock cristão esteja ultrapassado, porque todos nós trabalhamos para permanecer relevantes.

11 – O Bride conseguiu se manter relevante por muito tempo, não apenas no mundo cristão. Como você encontra inspiração para continuar fazendo rock n’ roll pesado, mesmo que o estilo não seja mais o queridinho da mídia? 

DT: Não compomos mais músicas para vender álbuns, porque venderemos certa quantidade, independentemente dos nossos fãs fervorosos. Compomos músicas que gostamos de ouvir. É importante permanecer fiel a si mesmo, mesmo que ninguém esteja ouvindo.

12 – No início, muitas bandas cristãs sofreram preconceito de ambos os lados: os cristãos não aceitavam a existência de um grupo de pessoas de cabelos longos tocando e falando em nome de Jesus, e aqueles que não eram cristãos diziam que o rock não combinava com temas cristãos. Como é a aceitação do White Metal no mundo hoje? 

DT: É quase a mesma coisa: amado/odiado/aceito por alguns, desprezado por outros. A igreja é a pior inimiga do rock cristão.

13 – Qual foi o momento mais memorável na carreira de Bride e qual foi o momento mais difícil? 

DT: Ir ao Brasil é sempre o nosso ponto alto. Amamos o povo brasileiro, seu entusiasmo e apoio. Eles sempre nos receberam de braços abertos, e não tomamos isso como garantido.
O mais difícil foi provavelmente quando decidimos não assinar mais com nenhuma gravadora e nos tornar uma banda independente. Foi como começar do zero.

14 – Dale, houve um relato de que você foi considerado para substituir Michael Sweet no Stryper em 1991. Até que ponto esses rumores eram verdadeiros? 

DT: Voei para a Califórnia, ensaiei com o Stryper e fiz um show ao vivo com eles. Pensei seriamente nisso, mas, no fim das contas, não foi uma boa opção para mim. Depois de pensar um pouco, eu sabia que o Michael voltaria um dia e, quando voltasse, eu teria sido demitido. Então, era melhor eu voltar a ser o vocalista do Bride.

15 – Parabéns pelo novo álbum. Esperamos ver vocês aqui em agosto.

DT: Estamos mais do que entusiasmados com a experiência.

16 – Deixe uma mensagem para nossos leitores e também para aqueles que dizem que White Metal não é rock de verdade. 

DT: Alguns dos maiores músicos que já conheci pertencem à comunidade do White Metal. As bandas são sinceras e dedicadas, trabalham tão duro quanto qualquer outro gênero e só querem tocar música. A música não deve ser julgada; deve ser respeitada. Nenhum grupo de pessoas é dono do metal ou do rock. O metal está lá para os crentes e os descrentes.

ENTREVISTA CONDUZIDA E FOTOS POR DIOGO FRANCO