“Não apenas uma obra musical, mas também, literária”

Nota: 5/5.

A BANDA

Fundada em 1990 na cidade de Estocolmo/SWE, O Opeth tem o death metal em seu DNA. Mas por um capricho puramente humano rompeu com esta cadeia genética mudando sua música radicalmente. Em poucos anos a banda mudou sua música como da água para o vinho, saindo de uma música radical e para algo progressivo e melódico.

Entre as várias formações o vocalista, guitarrista e compositor, Mikael Åkerfeldt tem sido a única constante na banda. E, tal como Chuck Schudnder (Death), é a mente criativa a frente do grupo.

Watershed (2008) foi o último disco em que a banda se utilizou daquele qué é considerado o principal recurso estético do death metal: os vocais gulturais. Desde então, tem avançado continuamente num dos campos mais perigosos para músicos e ouvintes pouco experimentados, o rock progressivo.

 

Mesmo quando era considerada uma banda death metal, Opeth nunca obedeceu cegamente as convenções do estilo e, ao abandonar as vocalizações da música extrema, Åkerfeldt cometeu um dos atos de rebeldia mais arriscados do universo Metal nos últimos anos. Principalmente porque ocorreu livre de pressões por aumento de público e/ou de mercado.

In Cauda Venenum é um álbum conceitual e foi originalmente escrito na língua materna da banda durante um ano “sabático” para Åkerfeldt. Mas acabou sendo em duas versões, uma no idioma original (sueco) e outra no inglês. A expressão “In Cauda Venenum” tem orígem no latim e traduz-se por “cauda venenosa”, que significa algo como “surpresa indesejada no final”. Todas as canções giram em torno desse conceito que conta um drama do ponto de vista de alguém que presencia ou tem consciência dos fatos, mas sem neles interferir.

[1] Garden of Earthly Delights uma introdução composta de sons sinistros que criam o clima para que [2] Dignity adquira um brilho especial. A narrativa se inicia numa festa de final de ano, quando algo trágico acontece; [3] Heart in Hand é a primeira música de trabalho e, nela, surgem os primeiros elementos de uma trama que envolve inveja, luxúria e pacto de morte; [4] Em Next of Kin a história se desenrola nos levando a crer que tal tragédia – a mesma tragédia – se repente num círculo vicioso; [5] Lovelorn Crime revela que uma pessoa conhece o segredo. Para proteger os demais, ela sofre resignadamente todas as consequências; [6] Em Charlatan surgem os efeitos da culpa: a revolta, a negação e o desejo de vingança contra Deus. [7] Universal Truth é sobre a verdade oculta que perpetua a tragédia numa espécie de ritual maligno; [8] The Garroter é o momento exato da tragédia em que o escolhido é atingido com um golpe de faca na garganta; [9] Continuum o narrador onisciente fala em primeira pessoa e se assume como o protagonista da história. Ele tem uma decisão a tomar e ela pode mudar o destino de todos os envolvidos; [10] All Things Will Pass, que encerra o álbum, é o momento mais sublime de toda a audição. Para acabar com o círculo vicioso, ele decide dar cabo da própria vida. E assim o faz, ressignificando uma jornada de sofrimentos com a cura obtida por meio da própria morte. Por fim, Åkerfeldt, na figura de líder, foi sozinho, o responsável pela criação desta obra. Fazendo isso, confirmou uma hipótese que antes só existia em tese: “ele cria algo que primeiramente o agrade, e depois, que agrade aos interessados”. Ocorre que até o momento todas as suas decisões tem se mostrado acertadas o suficiente para manter, felizes, os fãs. Portanto, não acho apropriado julgá-lo por isso. Ao contrário, acho justo creditá-lo por fazer de In Cauda Venenum, não apenas uma obra musical, mas também, literária.

O QUE TEM DE BOM?

A construção foi idealizada de modo a quebrar os padrões métricos e estéticos da música comercial. Isto indica que: [1] além de não estar preocupado em agradar ao grande público, a banda conseguiu [2] fazer inovações relevantes musical e conceitualmente falando. Mas o melhor de tudo é que, de uma forma ou de outra, [3] nenhuma canção te deixará num estado de completa indiferença.

O QUE PODERIA SER MELHOR?

[1] Lovelorn Crime é uma música feita pra tocar no rádio e, apesar, de estar conectada ao conceito, musicalmente não acrescenta muito ao álbum; [2] Charlatan é uma grande música, mas o arranjo dos teclados é desnecessário.

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