O álbum Inverted World marca o retorno da lendária banda britânica de death metal Cancer, sete anos após seu último lançamento (Shadow Gripped, 2018). Sob a liderança do guitarrista/vocalista John Walker, agora o único membro remanescente da formação original, a banda mantém sua essência brutal ao mesmo tempo em que insere temas contemporâneos e históricos em sua música.

Gravado por Simón Da Silva no The Empty Hall Studio e mixado por V. Santura (Triptykon, Pestilence), o álbum possui uma produção densa e clara, que valoriza tanto os riffs pesados quanto as nuances das composições.

  1. Enter the Gates
    Uma abertura instrumental atmosférica e ameaçadora. As guitarras criam camadas densas e arrastadas com dissonâncias que estabelecem o clima sombrio do álbum. Os timbres são carregados e secos, sugerindo o início de uma jornada pelo horror e decadência.
  2. Until They Died
    Um ataque direto de death metal old school. Riffs serrilhados, andamento acelerado e um baixo que acompanha com peso e definição. A bateria alterna entre blast beats e grooves mais lentos. O solo de guitarra quebra a brutalidade com uma pegada melódica sombria, mas ainda suja.
  3. Inverted World
    A faixa-título se destaca pelo contraste entre riffs lentos, quase doom, e explosões de velocidade. As guitarras dobradas acrescentam uma atmosfera mórbida, enquanto os vocais de Walker são cavernosos e ríspidos. O instrumental sugere um mundo de desordem e manipulação, refletido nas mudanças de andamento.
  4. 39 Bodies
    Guitarras de afinação baixa, riffs sincopados e uma bateria que investe em levadas secas e diretas. Há um groove arrastado que remete ao death metal dos anos 90, com destaque para a ponte instrumental mais lenta e opressiva. Uma música pesada tanto liricamente quanto instrumentalmente.
  5. Test Site
    Faixa que mescla riffs thrashados com atmosferas sombrias. A bateria mantém um andamento firme com viradas bem posicionadas. As guitarras variam entre tremolos e riffs palm-muted, criando tensão constante. O uso de pausas estratégicas aumenta o impacto dos riffs seguintes.
  6. Amputate
    O single de estreia tem um instrumental denso e direto, com riffs de guitarra secos e repetitivos que reforçam o peso da letra sobre os horrores coloniais. O solo é curto e atonal, intensificando a sensação de desespero. A bateria martela com precisão, sustentando o clima opressivo.
  7. When Killing Isn’t Murder
    Uma faixa que começa com um riff arrastado, quase sludge, e explode em velocidade logo depois. O baixo é mais presente aqui, com linhas que acompanham o riff principal e acrescentam profundidade. A guitarra usa dissonâncias para acentuar o desconforto da temática.
  8. Covert Operations
    Ritmicamente complexa, com seções entrecortadas e mudanças de tempo. Riffs angulares e secos lembram o death metal técnico sem perder o espírito direto do Cancer. O refrão tem uma estrutura mais tradicional, mas o instrumental flerta com o caos em várias partes.
  9. Jesus for Eugenics
    Provavelmente a faixa mais provocativa do álbum, tanto em letra quanto em construção musical. Começa com um riff ameaçador em mid-tempo, seguido por ataques rápidos com pedal duplo. O solo é atonal e sujo, reforçando o tom caótico da composição. Há também momentos em que o instrumental desacelera drasticamente, evocando um peso quase ritualístico.
  10. Corrosive
    Encerrando o álbum, essa faixa retoma uma temática clássica da banda: o horror psicológico e real. O instrumental é direto, com riffs memoráveis e uma batida consistente. As guitarras dobradas criam tensão, enquanto a seção final traz um fade-out angustiante com distorções prolongadas.

Inverted World é um retorno brutal e focado, com instrumentais que alternam entre a força bruta do death metal clássico e nuances sombrias que refletem as temáticas sérias abordadas. Os riffs são memoráveis, as baterias eficientes e os vocais mantêm o padrão sujo e feroz que os fãs da velha guarda esperam. Embora não quebre barreiras no gênero, o disco reafirma o Cancer como um dos nomes respeitáveis do death metal britânico.

Nota: 4/5