Resenha: Cangaço – Inevitável (EP, 2020)

“Metal progressivo com influências da música regional do Nordeste brasileiro”

Nota: 3/5.

O trio surgiu em Recife/PE em meados de 2010 e  sua proposta é tocar Metal com influências de grandes nomes da música regional do Brasil, com ênfase em grandes representantes da música nordestina como Fred Andrade, Sivuca e Luciano Magno. Tendo lançado vários registros explorando o tema da cultura regional com base na estrutura do metal agressivo, a banda chamou a atenção de muita gente boa na mídia especializada.

O grupo se preocupa em incorporar texturas do metal e da música regional para criar algo novo e acaba por surpreender pela capacidade que demonstra ao misturar e organizar tais informações de uma forma coerente e inovadora. As atmosferas são áridas tal como as paisagens do sertão nordestino, mas sobre elas são aplicadas intervenções que simulam um contraste entre o sol escaldante e as flores que eventualmente surgem no trajeto. Normalmente essas intervenções se dão pelo uso do acordeon, que, na minha perspectiva remetem a um tipo de delicadeza presente nos sorrisos das crianças. Mas há ocasiões em que são usados como um paralelo à guitarra, reproduzindo climas de ação, ameaça ou de enfrentamento.

As letras demonstram aguçado senso crítico para as questões humanas e dizem muito a respeito das raízes da banda em sua terra natal. O estilo dos caras é muito híbrido (Baião, Maracatu, Forró, Thrash e Death Metal), por isso, podemos dizer que fizeram escolhas musicais difíceis de serem engolidas por parte dos “true bangers”, mas que certamente vai agradar a todos os que se elevarem ao seu nível. E quem assim o desejar, basta ouvir os discos de coração aberto.

1) Fati (intro) abre o disco com certa melancolia introdução de sanfona, mas emenda com 2) Abreu e Lima, que começa lenta e suave, mas vai se tornando rápida e agressiva e progressiva. 3) Farpado é mais linear e se dirige para os mais conservadores, exceto pelas intervenções do acordeon. 4) Ao Relento tem até mesmo uma aura Doom Metal que se transforma em Death Metal que me remeteu a outra grande banda Metal nacional, o Vulture (São Paulo). Destaque para a participação de Wilfred Gadêlha (Will2Kill) nos vocais. Pra fechar com chave de ouro, 5) Rachado, que é um thrash/death cheio de mudanças de andamento muito bem pensadas. Nesta, o convidado é o conterrâneo Antônio Araújo (Korzus), que faz solo principal.

Outros dados importante sobre o EP é que nele, todas as linhas de sanfona foram feitas por Vinícius de Farias, amigo e parceiro de trabalho do grupo. E a arte da capa, que foi concebida pela artista Ayodê França, cujos traços estabelecem identidade com a música e a visão de mundo dos músicos.

A formação que gravou o disco conta conta com Rafael Cadena (guitarra / vocal), Magno Barbosa Lima (baixo / vocal) e Mek Natividade (bateria / percussão).

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo.