Triste sina dos canadenses…
O Harem Scarem é um dos maiores casos de injustiça do meio musical. Não apenas por conta de seu excepcional (e criminosamente ignorado pela mídia) primeiro disco, mas por ter uma carreira sólida e regular (o maior intervalo entre um disco e outro foi entre 2014 e 2020, com Thirteen e Change The World respectivamente). O novo disco atende pelo nome de Chasing Euphoria e provoca um “efeito AC/DC” nos ouvintes, afinal quem é fã vai continuar amando, quem não curte vai continuar não gostando e lamentavelmente quem não conhece vai continuar sem conhecer (espero estar errado).
Com o advento da internet e dos streamings, há uma nova geração de consumidores de música surgindo e o Harem Scarem parece estar indo bem ao surfar nessa nova onda. Tenho visto garotos de 16 anos descobrindo a banda e emitindo opiniões coerentes e concisas sobre a banda e seu novo trabalho. Eu não disse isso a toa, pois dentro da minha família se encontram os 2 maiores fãs dos canadenses que eu já vi : minha esposa, que gritou um “EU JÁ ERA FÃ DESSES CARAS BEM ANTES DE TE CONHECER” em alto e bom som quando eu decidi resenhar o novo disco. E meu filho que, parece ter descoberto o Brasil ao escutar a discografia dos caras e os novos singles. Dito isso, deixei de ter o direito de admirar a banda sozinho e agora fui relegado a terceiro maior fã dos caras (kkkkk).
Falando do novo álbum, o primeiro single, Reliving History, tem riff deliciosamente clichê, para nossa alegria. A faixa título, a mais melodic hard dos 3 singles lançados, remete a era clássica das bandas hard, ainda que o Harem Scarem carregue o estigma de ter chegado atrasado na festa, assim como Tyketto e tantas outras boas bandas que não desfrutaram do reconhecimento merecido. Vale mencionar uma música chamada Undertsand It All, possuidora de um ritmo que lembra um cruzamento de Joe Cocker com Danger Danger e refrão marcante. Aliás, os refrões são um show a parte nesse disco.
Os timbres de guitarra de Pete Lesperance (outro monstro da guitarra extremamente subestimado) estão agradáveis e melodiosos, com forte lirismo e carregados de emoção. Não se trata de pseudoemoção à la Coldplay, com guitarrinhas “cintilantes” tocadas por coçadores de barriga disfarçados de guitarristas, utilizando toneladas de chorus e delays e frequências cuidadosamente pensadas pra provocar sensações numa juventude carente de experiências reais fora da internet e dos tik toks da vida. Se trata de algo genuíno, com solos que rasgam a alma, melodias que arrancam sorrisos e grudam na mente feito chiclete. O terceiro single, Better The Devil You Know, que possui uma vibe gospel estilo Newsboys, parece feito pra garota mais popular da escola, aquela mesmo que você nunca iria conquistar por ser roqueiro na adolescência e consequentemente “estranho” aos olhos dos amigos de sala.
O disco todo traz essa sensação de ser um lugar seguro para os tímidos, onde todos nós (um dia fui assim também) poderíamos imaginar cenários onde resolvíamos nossa timidez em um mundo particularmente mais fácil, criado por nós mesmos. Slow Burn é animada, sem muita firula, e até mesmo comum, porém longe de ser ruim. Como dito anteriormente, o Harem Scarem soa moderno sem perder as raízes. World On Fire tem refrão explicitamente chupado da inglesa Ellie Goulding em Love Me Like You Do, algo que parece pensado propositalmente para conectar gerações, afinal qual outro instrumento tão poderoso quanto a música pra criar laços e estreitar relacionamentos? A tônica desse disco é a nostalgia e a emoção. Se recordar é viver, esse álbum é uma bela máquina do tempo que nos leva direto aos anos 80.
Ouvir um disco assim, em pleno 2025, é uma benção e eu espero sinceramente que quem ler essa resenha faça sua parte e apresente a alguém, especialmente da geração mais nova, pois só assim os mais novos poderão experimentar um pouco da magia da década mais incrível da música mundial, os anos 80. Esse disco terá relevância extrema e impacto afetivo imediato em quem deseja atravessar uma ponte que leva direto a um passado musicalmente rico e marcante.
Você não precisa viver de saudosismo, pois o Chasing Euphoria está aí, esperando ser apreciado pelos amantes de boa música. Abra um refri bem gelado, ponha uma carne pra assar e dê o play nesse disco com o volume no talo. Se essas pequenas atitudes não te arrancarem um sorriso despretensioso, ao menos vão te fazer lembrar do garoto ou garota de 16 anos que se esconde aí dentro. E te lembrar que um garoto tímido também pode conquistar a menina mais popular da escola, nem que seja em 2025.
TEXTO POR DIOGO FRANCO
NOTA: 4,5 / 5