Origins of Aggression“, lançado pelo Onslaught em maio de 2025, é mais do que um simples disco comemorativo — é uma declaração vigorosa de que o Thrash Britânico, quando feito com convicção, permanece tão letal quanto em suas raízes. Comemorando os 40 anos do lançamento de Power from Hell, este álbum duplo se propõe a resgatar e reafirmar a identidade da banda, dividindo-se entre regravações de faixas clássicas e versões de músicas que moldaram a formação musical dos seus integrantes. O resultado é um trabalho que caminha habilmente entre reverência ao passado e energia renovada.

“Power from Hell”, que abre o disco, é provavelmente a faixa mais emblemática da carreira da banda. A regravação mantém o riff de abertura seco e direto, mas adiciona peso e nitidez ao arranjo. Os vocais de Dave Garnett são guturais e ferozes, sem perder a articulação — algo que ajuda a tornar a música ainda mais agressiva e clara em sua mensagem. O solo de guitarra vem mais polido, mas continua carregado de energia suja.

“Thermonuclear Devastation of the Planet Earth”, com seu andamento acelerado e pegada mais próxima do hardcore punk, soa como uma bomba relançada em 2025 com precisão cirúrgica. A faixa foi revitalizada com uma bateria que alterna entre o d-beat e o thrash tradicional, enquanto os riffs ganham textura mais pesada. Apesar da atualização, ainda soa primitiva — o que, nesse contexto, é um elogio, dado seu conteúdo apocalíptico e abordagem crua.

“Let There Be Death” permanece como um dos momentos mais brutais do álbum, com seus múltiplos riffs, viradas e mudanças de andamento. A nova versão traz o equilíbrio ideal entre a atmosfera caótica original e a clareza moderna da produção. As linhas vocais são um destaque — Garnett consegue manter o senso de urgência da versão original, mas com mais força e convicção.

“Angels of Death” é outro exemplo de como a banda consegue equilibrar passado e presente. O midtempo cavernoso da faixa é reforçado por guitarras mais encorpadas e uma linha de baixo mais presente na mixagem. É uma música menos veloz, mas que aposta na densidade e no peso contínuo — uma boa pausa entre as investidas de velocidade extrema.

O segundo disco traz um ângulo complementar: uma seleção de covers que mergulha fundo nas influências punk e metal do grupo. A escolha das músicas é precisa — não são apenas clássicos, mas verdadeiras declarações de princípios. Bandas como Motörhead, Discharge, The Exploited e Dead Kennedys aparecem com interpretações diretas, sem floreios, mas com o DNA do Onslaught impresso em cada riff.

“Iron Fist”, do Motörhead, é um dos pontos altos. A reinterpretação mantém o groove original, mas entrega o punch típico do thrash, com guitarras mais distorcidas e uma batida mais veloz. É uma releitura respeitosa, porém mais destrutiva — Lemmy aprovaria.

A versão de “California Über Alles” (Dead Kennedys) é talvez a mais ousada, já que a música original depende muito do sarcasmo e da teatralidade de Jello Biafra. O Onslaught transforma a faixa em um ataque direto e cortante, mantendo a estrutura, mas intensificando a raiva. O resultado é uma mescla curiosa entre o espírito punk de protesto e a fúria militarizada do thrash.

Já os covers de bandas como Discharge (“Protest and Survive”) e The Exploited (“Dead Cities”) mantêm o minimalismo do punk, mas com camadas mais densas de guitarra, dando a essas faixas uma pegada crossover que remete à sonoridade que o próprio Onslaught ajudou a definir nos anos 1980.

Em termos gerais, Origins of Aggression não é apenas uma celebração de 40 anos de história — é uma reafirmação de princípios. A banda mostra que permanece fiel ao seu espírito original, mas não está interessada em viver apenas do passado. É um disco pesado, direto, eficaz e comprometido com a essência do thrash metal em sua forma mais crua e engajada. Para quem acompanha o Onslaught desde os tempos de The Force, é um presente honesto. Para quem chegou agora, é uma aula prática de como o metal extremo britânico se construiu — e por que ainda merece ser ouvido com respeito.

Nota: 4/5