Resenha: Orphaned Land – Unsung Prophets and Dead Messiahs (2018)

“PROFETAS NÃO LIDOS E MESSIAS MORTOS”

NOTA: 4/5.

Um dos nomes de banda mais poéticos e originais que já vi em toda a minha história de fã de rock/metal.  Orphaned Land exprime de forma única todo o sentimento de um povo expatriado e condenado a vagar em busca de um lugar com o qual pudesse estabelecer o mínimo de identidade. Debruçar-me sobre esta banda trouxe à tona toda a carga documental que adquiri vendo filmes e documentários sobre este povo pelo qual tenho respeito e admiração.

Não é somente sobre heavy metal que estamos falando. É sobre política, antropologia e o que você, leitor, mais puder imaginar. No entanto, para que não nos perdamos em divagações (pois o tema exige uma pesquisa cuidadosa), vamos nos manter no campo da música.  Orphaned Land, banda de Israel, empresta muito dos estilos musicais do Oriente Médio para o mundo, ao mesmo tempo que também pega uma miscelânea de referências emprestadas do mundo. Explora vários estilos musicais, ideias e conceitos universais combinando-os numa visão filosófica particular e diferente. A música é cheia de camadas e dinâmicas baseadas na música Heavy Metal, mas que o extrapolam em vários sentidos.

Combinação de músicas folclóricas e instrumentos antigos – saz, kanun, oud, bouzouki etc. – dezenas de diferentes instrumentos de percussão, seis idiomas e uma abordagem vocal amplamente variada que relaciona culturas à imagens que geralmente estão impregnadas dos símbolos das principais religiões monoteístas (judaísmo, islamismo e cristianismo) do oriente.

A música da banda está em constante mudança. Partindo de The Beloved’s Cry (1992), sua primeira demo, até o momento em que chamaram atenção da mídia com Sahara (1994), e, posteriormente com El Norra Alila (1996), os músicos conseguiram criar um som único misturando os elementos do Rock Progressivo, do Metal e das várias sonoridades do Oriente Médio. Esse som foi oficialmente reconhecido pelo mundo através do popular Mabool (2004) e reforçado com o The Never Ending Way de ORwarriOR (2010), produzido por ninguém menos que Steven Wilson, que talvez se compare apenas pelas performances ao vivo.

Unsung Prophets & Dead Messiahs foi produzido e mixado por Jens Bogren (Sepultura, Kreator, Angra, etc) e na edição de luxo trás um trabalho em dois atos: o primeiro composto de 13 canções de média e longa duração; o segundo, de 8 músicas que são o registro de performances acústicas no qual figuram convidados especiais (Steven Wilson, Yehuda Poliker, Erkin Koray e Moran Magal). Musicalmente, é inegável que a banda apele para muitos clichês do Heavy Metal, mas de um modo geral, de posse de um bom plano e contando com uma execução nada menos que excelente, a experiência funciona e não tira o brilho do trabalho criacional da banda. Profetas não lidos e Messias mortos se anuncia como um mapa histórico através do qual são levantadas denúncias de fatos encobertos pela mídia e manifestos baseados nas leituras pessoais dos músicos. Se você não é fã da banda, aqui está um bom exercício de cunho pessoal: ouvir, analisar as mensagens e formular sua própria crítica.

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo