Para quem teve o privilégio de estar presente em qualquer uma das duas datas feitas pelo Iron Maiden aqui em São Paulo (ou nas duas), sinta-se especial, porque o que aconteceu ali, senhoras e senhores, foi catártico! Sabe quando você entra num estado de transe, misturado com choque, êxtase e muitas descargas de adrenalina + dopamina + endorfina + qualquer outra enzima capaz de gerar prazer no seu corpo? Essa foi a sensação.
Essa história, blood brothers, começa (na verdade) em dezembro de 2023 quando o Iron Maiden anunciou sua vinda para o Brasil em data única com abertura de venda de ingressos para duas semanas depois. Um misto de desespero com revolta com uma venda tão distante da data tomou conta de mim, mas vamos lá, se os caras decidiram assim, não sou eu quem vai fazer motim. Com o ingresso em mãos, 2024 foi um ano tenso para os fãs, e ele já começa com “será que o Nicko estará bem para a tour?” pois eles tinham acabado de anunciar o AVC que ele havia tido. Óbvio que com o tamanho do problema, a tour era a última preocupação, afinal, quando se é fã há tantos anos, o Iron Maiden é praticamente da família, logo, nos preocupamos como tal (muitas vezes até mais que determinados parentes).
O ano correu e muita água passou por debaixo da ponte. Outra data foi anunciada, Nicko mostrou evolução, mas tanto ele quanto Steve Harris faziam questão de mostrar que certas músicas seriam simplificadas, para que ficasse mais fácil executá-las na bateria, ou seja, a banda mostrava aos seus súditos, em doses homeopáticas, que seu coração estava envelhecendo. E é o que eu digo sempre: “você, exigiria o mesmo que exige do seu ídolo, do seu avô de 72 anos?” Eu acho que não. McBrain está velho, mais frágil, mais lento… com a diferença de que não o encontramos na frente de alguma casa varrendo uma calçada, ou pegando o ônibus de manhã, para dar uma volta.
A medida em que o show se aproximava, as horas dormidas diminuíam, o nome desse efeito? TPM: Tensão Pré Maiden. Todo fã tem!
E a sexta chegou, e com ela um calor senegalês. Estava bem quente mesmo, 31°C quando Volbeat subiu ao palco (escuro, apenas com as luzes principais e sem telão) às 19h. Pelo menos era o que marcava no celular. Confesso que com a temperatura que estava somada à ansiedade em ver a Donzela, não prestei tanta atenção nesses simpáticos dinamarqueses, lembro apenas de achar que o show não terminava, e que muitas pessoas estavam muito felizes, pois dançavam bastante com suas músicas, que até então pareciam um shuffle esquizofrênico do Spotify, quem iria de Metallica a No Doubt numa fração de segundos. Sim, eu consegui encontrar Creeping Death e I’m Just A Girl na mesma música. Depois de se despedirem, muitos roadies entraram no palco para desmontar o espaço que foi destinado ao Volbeat, e tirar toda a cobertura do equipamento da Donzela. Rod Smallwood entrou em cena para a típica conferência. Foi aplaudido. Griffin Dickinson, filho de Bruce Dickinson e carpinteiro responsável pelo palco, também subiu para conferir a estrutura onde estava a metralhadora da briga épica entre Eddie e Bruce.
O P.A tocando o “pendrive” do Chefe, como os fãs costumam dizer, já que temos apenas bandas inglesas. Thin Lizzy, Whitesnake, Deep Purple, Led Zeppelin… e antes que entrasse a sequência DEEP PURPLE – RAINBOW – DEEP PURPLE, Kashmir foi cortada pela metade. Luzes amarelas já anunciavam que o início estava próximo. Um sino dispara suas badaladas e os primeiros acordes de Doctor Doctor começam. E ela já está no mesmo volume dos instrumentos da banda, então a diferença de som é brutal, comparada ao que estava tocando antes. O show já começou ali. “Doctor Doctor, please…” e os fãs cantando e pulando, como se essa música não fosse um clássico do U.F.O.
Embora eu ainda estivesse consciente, já estava chorando muito. Não estava perto, como um dia antes no British Lion, na verdade acho que nem os seguranças ficam tão perto como naquele show, mas estava numa distância boa. Conseguia enxergar tudo, o que para mim é uma dádiva, já que qualquer um é capaz de ser mais alto que eu.
Vou fazer um resumo geral dessa sexta, porque senão essa resenha vai se tornar uma eterna lista de música tal chorei muito, música tal chorei de soluçar… e ninguém quer ler uma coisa assim.
Uma homenagem ao Nicko já era combinada entre os fãs, através da internet. Mesmo sem saber de sua saída anunciada horas após o show, todos sabíamos da sensibilidade da situação de McBrain, e de como ele se sentia mal por não conseguir fazer da forma que fazia, o que sempre fez com maestria. Hoje, depois de tudo mais frio e racional, consigo entender seu choro junto aos fãs ao final do show. Eu nunca o tinha visto daquela forma. Todo o show foi incrivelmente emocionante, mas com erros que não costumamos ver. Iron Maiden que sempre foi sinônimo de precisão, estava com engrenagens desreguladas. Guitarras desencontradas, Janick fazendo o riff inicial de Hell On Earth fora do tempo… Bruce atravessando Caught Somewhere in Time logo depois da volta do solo, Dave e Adrian não acertando as dobras de harmonia… tenebroso. Não sou de passar a mão na cabeça de ninguém, mas parecia muito falta de atenção devido ao calor extremo. Sabe quando você fica prostrado? Era isso que parecia. A cada música os roadies davam ao Dave uma garrafa com canudo, que eu acredito ser isotônico, o semblante de todos era de muito desgaste. Dickinson até diz: “wow, é a primeira vez que eu encaro um calor tão grande aqui! E olha que eu venho bastante pra cá!”. O clima não estava para brincadeira mesmo.
O que eu posso garantir é o fato de que o show do dia 6, sexta, foi excelente, um ótimo fechamento de turnê. Mas o que aconteceria no dia seguinte, não haveria precedentes.
Para não perdermos o contexto, Nicko encerrou o show de sexta sendo ovacionado e, para quem o conhece bem, emocionado mais que o normal. Nicko sempre foi alegre, o tirador de sarro da banda, o mais aplaudido e sempre o último a sair do palco. Nesse show ele estava chorando, dando pistas de que realmente estava chegando a hora de um adeus final. Mas o fã nunca espera, mesmo que esteja ali, escancarado. Na manhã deste último sábado, o anúncio oficial nas redes sociais da banda trouxe o que seria a despedida do membro mais querido e incrível. Nicko McBrain estava nos dando tchau, e por mais que essa fosse a atitude mais sensata, ainda mais em se tratando de um senhor de 72 anos, como isso era possível? Por que Nicko deveria parar? E o que era para ser um segundo show em São Paulo, seria a maior celebração dos 42 anos de atividade (no Maiden) do baterista mais amado desse mundo.
“Após muita consideração, é com tristeza e alegria que anuncio minha decisão de dar um passo para trás da rotina do estilo de vida de turnês extensas. Hoje, sábado, 7 de dezembro, em São Paulo, será meu último show com o Iron Maiden. Desejo muito sucesso à banda daqui para frente. No entanto, continuarei firmemente como parte da família Iron Maiden, trabalhando em uma variedade de projetos que meus empresários de longa data, Rod Smallwood e Andy Taylor, têm em mente para mim. Também estarei trabalhando em uma variedade de projetos pessoais diferentes e me concentrando em meus negócios e empreendimentos existentes, incluindo The British Drum Company, Nicko McBrain’s Drum One, Titanium Tart e, claro, Rock-N-Roll Ribs! O que posso dizer? Fazer turnê com o Maiden nos últimos 42 anos tem sido uma jornada incrível! Para minha devotada base de fãs, vocês fizeram tudo valer a pena e eu amo vocês! Para minha devotada esposa, Rebecca, você tornou tudo infinitamente mais fácil e eu amo você! Aos meus filhos, Justin e Nicholas, obrigada por entenderem as ausências e eu amo vocês! Aos meus amigos que sempre estão lá por mim, eu amo vocês! Aos meus companheiros de banda, vocês fizeram um sonho se tornar realidade e eu amo vocês! Olho para o futuro com muita animação e grande esperança! Vejo vocês em breve, que Deus abençoe a todos e, claro, ‘Up the Irons!’
Nicko”.
Em resposta, Rod Smallwood escreveu em nome do Iron Maiden:
“Nicko,
E todos nós amamos você também!!
Obrigado por ser uma força irreprimível por trás da bateria do Maiden por 42 anos e meu amigo por mais tempo ainda. Falo em nome de toda a banda quando digo que sentiremos imensamente sua falta! Desde o Rock in Rio em 1985, temos um relacionamento especial com o Brasil, então encerrar uma turnê na frente de 90.000 fãs aqui em São Paulo por 2 noites é poético e você merece todos os elogios que tenho certeza que esses fãs maravilhosos lhe darão neste último show. O Phantom está ansioso por muito mais anos trabalhando com você nos projetos que você mencionou e tenho certeza de que podemos encontrar mais alguns especiais em torno da família Maiden e do FC! A banda e eu temos mil ótimas memórias dos últimos 42 anos, grandes shows, muitos discos de platina e ouro e prêmios, amor dos fãs e uma cerveja a mais em muitas ocasiões! Esse vínculo é para sempre! E, como Steve Harris diz, ‘Nicko é e sempre será parte da família Maiden’.
Rod, Andy, Steve, Bruce, Davey, Adrian e Jan
P.S. O Maiden sempre escolhe seus homens e nosso novo baterista já está escolhido e será anunciado muito em breve.”
Muito se especulou sobre a saída do coração da banda e mais ainda sobre seu sucessor.
Cogitou-se Joe Lazarus, sobrinho de Steve Harris, que já posta vídeos seus reproduzindo a bateria de grandes clássicos da Donzela há muitos anos, alguns chegaram a mencionar Bruno Valverde, talvez pela proximidade dele com Adrian Smith… esse show de sábado já começava com um “quê” de incerteza que há muito o Maidenverso não sentia.
Fim de tarde e o sábado já se pintava num clima mais ameno que o dia anterior. A ansiedade que batia para assistir ao show era diferente. Eu não veria a apresentação derradeira da turnê, mas a de uma era. A última batida de Nicko em sua bateria, seria em solo brasileiro e eu estaria presente. Isso é mais que privilégio. Isso é histórico. Hoje, mais do que nunca, fazemos parte da história. Estádio cheio, pessoas se acomodando onde ficariam o resto do dia. Finalmente consegui prestar atenção no Volbeat. E que bom, porque eles merecem. Uma boa banda, divertida, com um som festivo. E por mais que eles parecessem o meu Spotify quando está no random (completamente sem pé nem cabeça), com riffs marcantes que pareciam ter saído de um dos grandes discos iniciais do Metallica, ou até Testament, passando por uma bateria, às vezes vezes meio “Last Friday Night”, da Katy Perry, e encerrando com “I’m Just A Girl”, do No Doubt. Isso é ruim? Não. De forma alguma, mas é engraçado.
E por mais que todos estivessem numa vibe “melancólica”, esses dinamarqueses souberam levantar bem a moral do público. “Sad Man’s Tongue” trazia trechos de “Folsom Prison Blues”, do homem de preto, Johnny Cash. Já “Fallen” fez o estádio todo cantar e “For Evigt” iluminou o Allianz com as lanternas de todos os celulares. Emocionante.
Nos dois dias de shows, Michael Poulsen, vocalista e guitarrista, subiu ao palco homenageando o Brasil através de suas camisetas: na sexta com Sepultura e sábado, Cavalera’s Conspiracy.
Volbeat fora do palco. Mais um dia em que Smallwood entra para conferir se está tudo ok. Griffin testando a armação da metralhadora. Bateria descoberta. Sooty à mostra uma última vez. Tudo estava certo. No PA, as músicas dos nossos ídolos e dos ídolos dos nossos ídolos. Luzes amarelas no palco. E mais uma vez meu coração na boca, não só pela ansiedade de assistir àquele espetáculo, mas para a cada música, eu ter coragem de me despedir de Nicko McBrain. Será que eu consigo? Será que é possível? Eu nunca passei por isso. Pelo menos não vivi isso. Quando Adrian, Bruce e Nicko entraram, eu ainda não tinha nascido; quando Janick entrou eu era pequena; quando Blaze entrou, eu nem entendi. Quem tinha MTV em casa acompanhou bem, eu não, na minha casa esse canal só pegava quando “queria”. Vi a volta de Smith e Dickinson, mas não tinha vivido tanto a baixa da Donzela. Essa é a primeira vez que eu estou vivendo tudo isso e é muito esquisito. Enquanto tudo isso turbilhava minha mente, um barulho ensurdecedor quebrava toda a monotonia da espera: se iniciava o primeiro riff de Doctor Doctor. Para todo fã de Iron Maiden esse é o começo do show. Em todo show ela é cantada com a mesma dedicação em que cantamos Aces High, por exemplo.
As luzes amarelas se apagam, Vangelis começa a tocar com o palco todo piscando, mostrando um cybertrance tirado direto de Blade Runner. O sino dá sua última badalada e a introdução de “Caught Somewhere in Time” começa. Hoje com uma surpresa: Nicko é filmado se acomodando uma última vez no comando de sua máquina. Ele foi ovacionado de cara. Simpático como sempre, senhor Michael McBrain, mandou beijos e tchauzinhos a todos. A iluminação em barra, característica da Somewhere On Tour, de 1986, brilha e corre como se pudesse se mexer. Aqueles mesmos tons, aquelas mesmas cores. É como se elas tivessem saído daqueles VHS de qualidade duvidosa, que tanto assistimos.
Quando eles entram no palco, é uma explosão de euforia. Mesmo enxergando melhor pelo telão, faço questão de olhar para o palco e constatar que são eles que estão ali novamente. E eu estou – sim – vendo todos em cima daquele palco lindo.
A cada pausa entre uma música e outra, “OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, NICKO, NICKO!”. “Stranger in a Strange Land” começa e para quem decorou cada frame do clipe, sabe que Bruce Dickinson, num ato de ousadia, joga seu pedestal para o alto e bate duas palmas. Assim foi esperado, assim foi feito! O primeiro Eddie aparece. Aquele forasteiro. E que pose incrível. Ele pára no canto do palco, como um cliente com o cotovelo apoiado no balcão de um bar. Simplesmente cinematográfico!
Tudo se acalma e o comandante faz um pequeno discurso, incentivando todas as homenagens prestadas ao baterista, dizendo inclusive, que o show daquela noite é uma celebração de sua carreira e totalmente dedicado a ele. Os fãs deliram, muitos choram. Eu chorei (aliás, chorei quase o show inteiro – os dois). “The Writing on the Wall“, single do último disco, Senjutsu ensaia seus primeiros acordes com Adrian no violão. Outro sucesso de audiência, com todos cantando a plenos pulmões. “Days of Future Past” entra já agitando. O público canta, mas não é unânime. Mais um discurso sobre o tempo e como eles seriam capazes de voltar para onde quisessem, graças à sua “Time Machine”, essa, muito esperada pela audiência por conta do coro “PARARARA PARARA PAPA” feito aos pulos, no meio da música. A primeira trinca do último álbum de inéditas havia se encerrado com sucesso. Partiríamos agora para a clássica irretocável de 1982, “The Prisioner”. Sem surpresa nenhuma, todos sabiam até o trecho do episódio da série homônima, de 1967, que introduz a música.
Mais uma inédita em território nacional: “Death of the Celts”, que faz Steve Harris tocar um baixolão simplesmente lindo, diferente do que ele usava em Clansman. E como foi bom ouvir essa música ao vivo. Uma marcha com orações repetidas como num mantra, relembrando a história de quem morreu por sua terra. “Can I Play With Madness?” é mais uma garantia de sucesso em tudo, não é mesmo?
Uma situação que eu acho peculiar em shows do Iron Maiden é a diversidade de idade na pista. Crianças nos ombros de deus pais, com certeza assistindo ao seu primeiro concerto, e senhores que devem ter sido muito felizes em 1985, durante a World Slavery Tour no Rock in Rio. E todos com os olhos cheios de lágrimas, como quem agradece por estar vivo e capaz de participar de uma celebração assim.
“Heaven Can Wait” começa e dessa vez não teria uma galera pulando ao lado do chefe, porque era chegada a hora do segundo Eddie: o Cyber Hunter. E era hora também de Bruce e Eddie protagonizarem a luta mais esperada, o duelo de armas. Dickinson com sua metralhadora e Eddie com sua pistola. Gers correndo em torno do mascote e batendo com a guitarra nele e todo o teatro que o público ama ver. Até os mais céticos e sérios e anti-Janick que eu conheço, apreciam. Maiden é Maiden e isso faz parte do show. Toda euforia acaba. O palco apaga e a cortina mostra o tema a ser tocado. O Rei Felipe da Macedônia começa sua mensagem ao seu filho querido, àquele temido e que todos os fãs, no mundo inteiro, esperaram ver por décadas: “Alexander the Great”. Que catarse! Eu que sempre fiz questão de “bater no peito”, dizendo que eu não entendia essa mística toda em torno dela, caí do cavalo lindamente. Como foi incrível presenciar a história de Alexander ao vivo. Mais tocante ainda assistir ao Nicko tocando ela e tantas outras pela última vez. Depois que Bruce fazia aquela brincadeira com o gongo e o começo do solo entrava, o Allianz não seria capaz de drenar a quantidade de água que as lágrimas daqueles 45 mil fãs soltaram. Aliás, acho que o jogo Palmeiras e Fluminense, que aconteceu no dia seguinte, deve ter sido prejudicado, porque foram lágrimas de 90 mil pessoas (nos dois dias).
Palco escuro – estádio iluminado. Era hora de “Fear of the Dark“, que todo mundo reclama, mas todo mundo ama (ou ama odiar). Grito mais famoso da história do heavy metal: “SCREAM FOR ME… THE IRON MAIDEN!” O hino que carrega o nome da instituição começa. Tudo acontece nessa hora: Janick dança e joga sua guitarra para todos os lados, Bruce canta com a platéia, Steve Harris atira com o baixo, Dave e Adrian, presentes, mas mais contidos. E Nicko. Nicko sendo Nicko: o coração de tudo. Depois da volta do pequeno solo de baixo da música, a pausa: dois Eddies on stage!
O último walking Eddie entra para sua cena final. O Samurai luta com Janick, acena para o público… faz seu show, enquanto uma imensa cabeça de samurai é inflada atrás da bateria. É um desenho com traços japoneses do Eddie Samurai, presente no encarte de Senjutsu. Depois do espetáculo, Eddie pára em frente a Nicko McBrain e o reverencia. Ele fez o que todos gostaríamos de ter feito: agradecer por todos esses anos de alegrias e companhia. Foi uma das cenas mais emocionantes da noite. Eddie foi o resumo do sentimento de uma equipe, de uma banda, de uma nação de fãs…
Nicko sai de seu lugar pela primeira vez naquela noite. Agradece aos fãs, mas sem falar. Seus olhos diziam tanto: de “obrigado” a “desculpem pelo meu cansaço”. Distribui baquetas e peles de bateria e munhequeiras… ele sai. Todos até ensaiaram um “OLÊ OLÊ OLÊ OLÊ MAIDEN MAIDEN!” mas não dava. E o que aparecia na garganta era “OLÊ OLÊ OLÊ OLÊ NICKO NICKO!”… e assim foi feito.
A banda volta ao palco para a incrível “Hell On Earth” e como essa música disse tantas coisas que precisávamos ouvir naquela ocasião. As mãos levantadas quando Dickinson começa o mantra “You dance on the graves who bled for us…” e um grito que parecia preso no peito em “LOVE AND ANGER…” era como um transe. A volta ao planeta se deu com o clássico de 1983, “The Trooper” e se encerrou com a letra mais linda e filosófica que a música tem (minha opinião, ok?!) “Wasted Years“. Isso foi simplesmente a perfeição. Dickinson pede para que a platéia saúde McBrain uma última vez, avisando que ele estará fora da próxima turnê, mas deixa claro que ele não saiu da banda. Um “hip hip urra” é feito em glória ao baterista. Ainda deixa os fãs de orelha em pé ao avisar que a “Run For Your Lives Tour” vem para o Brasil em 2026. A turnê comemorando os 50 anos da Donzela (e os meus 40) promete trazer o puro suco da fase de ouro. Será que poderemos esperar por mais surpresas? Na lista de “mais pedidas”, Alexander sempre encabeçou, mas será que a banda seria capaz de atender os fãs mais uma vez? A prata desse podium sempre foi de “Judas Be My Guide”, inédita ao vivo, presente em Fear of the Dark, de 1992. É sentar e esperar o dia 27 de maio de 2025 para acompanhar as transmissões pela internet, diretamente de Budapeste, Hungria.
E, com certeza não vamos matar apenas a curiosidade pelo setlist, não é, blood brother?! Afinal, Simon Dawson, novo baterista do Iron Maiden (atual British Lion) fará sua estréia.
Quando eu fiquei sabendo que havia sido credenciada para trabalhar como repórter nesse show, pensei: “uau, vou assistir na sexta como fã (eu já havia adquirido o ingresso) e no sábado como profissional”. Ledo engano. Não consegui separar os dois lados. Sou fã antes de ser profissional. Amo esses caras antes mesmo de escrever meu primeiro texto na escola. Aprendi quem era o Eddie antes mesmo de saber o nome da minha professora do pré. Assistir a um show do Iron Maiden é como ver a história da minha vida passar pelos meus olhos. Meu pai sentado comigo na sala, eu pequena entre as pernas dele, vendo as capas do Deep Purple “esse é o das bolhas, filha” e eu me apaixonava por Who Do You Think We Are; “esse é o das velas” e eu amava Burn. “Sua avó tinha medo dessa capa, filha, falava que era o ‘bicho’!” e assim eu aprendi o começo da história com Sabbath Bloody Sabbath… A Donzela entrou na minha vida graças ao Eddie e a um primo que sabia do meu amor por caveirinhas… Esse amor infantil dura até hoje. E vai durar enquanto eu durar. Vai durar enquanto eu conseguir fazer alguém entender o que é isso e passar a amar também.
Eu ainda estou bem confusa com todos os fatos, pois é a primeira vez na minha história como fã e como estudiosa da banda, que eu não sei o que esperar. Muito se fala de Nicko continuar no estúdio com a banda e Simon apenas no palco. Harris nunca agiu assim, mas eles também nunca foram velhos, e nunca alguém saiu como Nicko saiu. Hoje eu não sei mais que qualquer fã, sei tampouco como qualquer um que não esteja dentro da administração da empresa Iron Maiden. Então, vamos esperar as cenas dos próximos capítulos. Up the Irons!
Setlist Volbeat:
The Devil’s Bleeding Crown
Lola Montez
Sad Man’s Tongue
A Warrior’s Call
Black Rose
Wait a Minute My Girl
Dead But Rising
Fallen
Seal the Deal
The Devil Rages On
For Evigt
Still Counting
Setlist Iron Maiden:
Caught Somewhere in Time
Stranger in a Strange Land
The Writing on the Wall
Days of Future Past
Time Machine
The Prisioner
Death of the Celts
Can I Play With Madness?
Heaven Can Wait
Alexander the Great (356 – 323bC)
Fear of the Dark
Iron Maiden
BIS:
Hell On Earth
The Trooper
Wasted Years
Texto por: Amanda Basso
Fotos por: Stephan Solon/Move Concerts Brasil e reprodução de Instagram
Agradecimentos especiais à Equipe Midiorama que possibilitou tudo isso.