E depois de uma longa espera, finalmente Parasomnia, 16º álbum de estúdio do Dream Theater, é lançado. Esse é o primeiro álbum desde o anúncio da volta do baterista e membro fundador, Mike Portnoy, reunindo novamente a formação clássica composta por James LaBrie (vocais), John Petrucci (guitarra), John Myung (baixo), Mike Portnoy (bateria) e Jordan Rudess (teclados).

O que é perceptível já de cara é o quanto o estilo característico de bateria de Portnoy faz parte do som do Dream Theater. O primeiro single, Night Terror, que foi a primeira música em que trabalharam juntos para o álbum, já tinha dado uma excelente prévia disso. Com seus fills característicos já na introdução, deixa claro para os fãs que não era apenas um sonho! E prova disso é que Parasomnia está cheio de suas inconfundíveis linhas de bateria.

Mas o que é Parasomnia, afinal? Em português, parassonia é definido como transtornos comportamentais do sono, como sonambulismo, terrores noturnos, bruxismo, pesadelos e transtornos de movimento, que podem ocorrer em várias fases do sono. Daí você pensa: uma banda que se chama teatro dos sonhos levar mais de 40 anos para fazer um álbum que explora muitos dos comportamentos e emoções incomuns vivenciados durante o sono?  Segundo o próprio Petrucci, é uma loucura eles não terem pensado nisso antes!

Então você pensa: estamos falando de um álbum conceitual? Sim, o álbum é, de certa maneira, conceitual. Os temas das músicas são todos sobre distúrbios relacionados ao sono. Além disso, as músicas também estão sonoramente conectadas já que muitos trechos musicais se repetem em diferentes músicas.

Quer saber mais? Então vem ler nossa análise faixa a faixa desse álbum que já tem nosso coração!

“In the Arms of Morpheus”: faixa de abertura que serve como uma introdução quase que cinematográfica ao álbum (Portnoy trazendo a influência do seu lado cinéfilo talvez). Essa música estabelece o tom para o tema central, como se estivéssemos fazendo uma transição do estado de vigília para o sono, preparando os fãs para o que vem a seguir. À medida que a música avança, ela incorpora elementos de jazz fusion e rock progressivo, uma bateria dinâmica e um teclado que nos coloca totalmente imersos na música. Tenho a impressão de que Petrucci usa uma guitarra 8 cordas aqui.

“Night Terror”: a segunda faixa do álbum se tornou o maior sucesso comercial da banda nos tempos atuais. Serviu como um ótimo aperitivo para o que estava por vir com o álbum. Night Terror tem um tom mais pesado do que aquele que a banda geralmente coloca em suas composições. Portnoy cria uma base sólida para os riffs mais pesados de Petrucci ao mesmo tempo que a linha de baixo de Myung é precisa e complementa as harmonias criadas pelos teclados de Rudess.

“A Broken Man”: um dos momentos mais sombrios e emocionais do álbum. Essa faixa se destaca pela profundidade psicológica da letra e pela musicalidade intensa que caracteriza a luta interna e a dor do Broken Man. A música começa com uma introdução mais pesada, com o riff de Petrucci criando uma sensação de opressão, construindo uma tensão crescente. Os riffs pesados desempenham um papel central na ambientação temática da música enquanto os solos trazem uma sensação de desespero com o baixo de Myung dando uma base sólida, mas igualmente sombria e imponente.

“Dead Asleep”: para mim é a música mais densa desse álbum. A letra é baseada em fatos reais, e conta a história de um galês sonâmbulo que em 2009 acidentalmente mata sua própria esposa estrangulada enquanto ele é atacado em um sonho. A música começa com uma introdução suave criando uma atmosfera de sonho e vai transicionando lentamente para um som mais angustiante e sombrio. Petrucci reproduz com sua guitarra a sensação de transição entre o sono e a confusão ao acordar de um estado de sonambulismo, a desorientação de não saber onde termina o sonho e começa a realidade. Um dos momentos mais marcantes para mim é o solo que parece tornar o desespero do personagem palpável. Por muitos momentos, a combinação da guitarra e do baixo com a bateria me remetem a um coração batendo acelerado, o que reforça o tema central da música sobre o pavor e desorientação do personagem.

“Midnight Messiah”: a música começa de maneira mais lenta e sombria e aos poucos se transforma em uma música mais intensa e pesada, seguindo a temática e a musicalidade do álbum. A letra foi escrita por Portnoy e tem várias referências a antigos sucessos da banda, como Strange Déjà Vu, Home, Constant Motion, This Dying Soul. Nas palavras de Portnoy, é uma das poucas músicas da banda que apresenta um compasso 4/4 na maior parte do tempo além de uma estrutura musical bastante tradicional, mas ainda assim extremamente bem construída.

“Are We Dreaming?”: uma vinheta instrumental que serve como transição para a próxima música e traz acordes de teclado e vozes etéreas, criando uma atmosfera onírica.

“Bend The Clock”: uma das faixas mais envolventes do álbum. A transição suave a partir de “Are We Dreaming?” é seguida por riffs cativantes de Petrucci e harmonias vocais que complementam a melodia. Já a letra aborda o desejo de manipular o tempo para escapar de pesadelos recorrentes. Essa música tem uma qualidade ambiental que me fez sentir como se eu estivesse sendo transportada para um espaço atemporal, onde a percepção do tempo é distorcida. Destaque para o vocal belíssimo de LaBrie e o solo final de Petrucci, o mais bonito do álbum.

“The Shadow Man Incident”: faixa épica do álbum que mistura elementos de rock progressivo, hard rock e metal, criando uma experiência auditiva intensa e quase que cinematográfica (mais uma vez o lado cinéfilo de Portnoy aparecendo). Na minha opinião, uma das melhores épicas da banda. E então o alarme toca, hora de acordar! Wake up!

Indiscutivelmente, a banda exibe uma energia e alegria de tocar no Parasomnia e que também ficou muito clara na primeira parte da tour comemorativa de 40 anos. Indiscutível também a habilidade da banda em mesclar complexidade técnica com profundidade emocional, oferecendo uma experiência intensa e reflexiva há 40 anos.

Um destaque final, os backing vocals de Portnoy e Petrucci. Muito presentes e de excelente qualidade, mostrando a evolução nesse quesito, que, convenhamos, não era o ponto alto da banda.

Com certeza um retorno triunfal de Portnoy!

Welcome home, Mike!

RESENHA ESCRITA POR TATHY GIANOTTI

NOTA: 5 / 5