Resenha: illumishade – Eclyptic Wake of Shadows (2020)

Uma viagem a um novo mundo.

Quando soube que Fabienne Erni tinha a intenção de lançar um novo projeto com seu companheiro de Eluveitie, o guitarrista Jonas Wolf, eu fiquei curioso sobre qual seria o direcionamento musical que esse trabalho iria tomar. Fabienne tem uma voz incrível, e poderia se arriscar a interpretar diferentes estilos musicais. Então procurei acompanhar algumas entrevistas da cantora concedidas antes do lançamento do álbum, a fim de descobrir mais a respeito do que seria o illumishade.

A temática, que é conceitual, se baseia no princípio da existência de guardiões que tem o dever de proteger o coração de cada um dos seus mundos. Cada membro da banda illumishade representa um desses guardiões com seus próprios atributos. O álbum narra o conflito do último desses guardiões, enquanto seu mundo caminha para o fim. O universo de illumishade é povoado por diferentes tribos: Hallusia, Faeva, Yagun, Vaiyna e Teshay. Isso já nos dá uma dimensão do quanto esse enredo ainda pode ser explorado para futuros projetos.

Outro fato relevante é que fica claro que os membros do illumishade tiveram a intenção de fazer algo diferente do Eluveitie, garantindo que não se trataria de uma cópia. Como Chrigel Glanzmann participa de uma das canções do álbum, o desafio de fazer essa faixa soar diferente do Eluveitie deve ter sido bem interessante. E por falar em participação, temos a de Anna Murphy nos backing vocals. Como sabemos Fabienne não chegou a trabalhar com Anna no Eluveitie, e ter as duas juntas em um mesmo projeto é um dos sonhos de qualquer fã da banda.

Bom, a pesquisa e a lição de casa foram feitas. Vamos agora para a hora da prova, ou melhor, vamos conferir faixa a faixa esse tão aguardado trabalho de Fabienne e Jonas com sua nova banda, o illumishade.

Tudo começa com uma introdução de aproximadamente dois minutos que se chama “Passage Through The Clouds”. Ela tem um som denso e atmosférico, quase tribal no início, e uma mensagem é transmitida: “Aprenda o que está diante de você, ensine o que é talentoso para você, valorize o que foi ganho, para unir todos os novos horizontes”.

Um toque do velho instrumental do Dream theater abre “The Calling Winds” chamando a atenção, pelo menos até Fabienne começar a tomar conta de tudo, daí você só terá ouvidos para sua voz. A emenda com “Tales Of Time” é perfeita, faixa que utiliza um som bem característico do prog metal na guitarra. Novamente Fabienne e sua variação de timbres cativa, uma hora quase sussurrando as palavras, para logo em seguida alcançar notas bem altas. O convidado Chrigel Glanzmann por si só já traz uma evidente lembrança do Eluveitie, mas o som é completamente diferente – mais para linha do progressivo – e a intenção de não fazer uma cópia teve sucesso.

Outra faixa instrumental, “Farewell Arcades”, com a utilização predominante de sintetizadores e orquestrações, prepara o ambiente para “Crystal Silence”. É outra faixa com características de prog metal, mas com pitadas de pop rock, principalmente no refrão, que permitiu a Fabienne mostrar uma faceta diferente em sua interpretação. Quebrando o clima chega “What Have I Become”, que é uma música calma com um belo instrumental orquestrado, que foi muito bem aproveitado para encaixar a letra em outra participação destacada de Fabienne, que se mostra a cada momento uma cantora completa.

O single “Rise”, que já possui um clipe que você deve conferir, também conta com um trabalho destacado na melodia, utilizando orquestrações de muito bom gosto. A música começa lenta e vai ganhando força com intensidade quando chega perto do refrão. Após um solo de guitarra denso e bem encaixado, Fabienne mais uma vez nos presenteia com uma interpretação magistral.

Na sequencia um interlúdio de aproximadamente dois minutos chamado “Into The Maelstrom”, que faz uma boa ponte para “Muse Of Unknown Forces”. Essa faixa é totalmente calcada nas boas características do prog metal, permitindo a Fabienne utilizar uma variação criativa de nuances com seus vocais, e com o apoio dos backing vocals, ficou a sensação dela estar por toda parte. Ela realmente consegue transmitir o sentimento que a música possui.

Após tanta intensidade, a emotiva “Golden Lands” começa tranquila e me lembrou, principalmente durante seu solo, o Queen do final dos anos 70. No final a melodia reconquista aquele vigor imposto pelos vocais marcantes de Fabienne, com a cantora subindo o tom até as nuvens.

Um novo instrumental, “Beyond The Obsidian Veil”, precede “World’s End”, que novamente explora muito o prog metal. Trata-se de outra faixa muito forte com ‘quebradas’ no rife e um refrão melódico, com o ritmo sempre sendo ditado pela interpretação segura de Fabienne. E a breve “Glowing Tides” encerra essa viagem ao fantástico mundo que o illumishade nos apresentou.

Bom, a intenção era fazer algo diferente do Eluveitie e deu certo. O prog metal com orquestrações funcionou muito bem nas partes mais heavy e a banda soube encaixar bem a melodia nas partes mais calmas. Mas o destaque é Fabienne Erni, que conseguiu mostrar o quão completa é. Eu poderia citar exemplos de cantoras que conseguiram transmitir tanto sentimento e talento em seus trabalhos ao longo dos anos, como Anneke van Giersbergen, só para citar uma, mas não consigo parar de pensar, que tamanho envolvimento com as músicas, me remete ao excepcional Roy Khan. Pois em minha opinião, Khan não se limita a cantar, ele interpreta as músicas. E acredite Fabienne não se limita a cantar nesse trabalho, ela faz sentir.

Nota: 4,5/5

– Importante: O lançamento do álbum não pode ocorrer conforme o planejado devido ao problema mundial do C-19, como todos nós já bem sabemos. Mas a banda providenciou um ‘plano B’, pois haverá uma transmissão ao vivo em 23 de maio de 2020, na qual o novo álbum será apresentado. Entre no link do evento pelo Facebook para mais informações:

https://www.facebook.com/events/612083279604654/