É isso, chegou o momento de a gente começar a repensar uma das falas mais clássicas dentro da Cidade, ou mesmo do Estado do Rio de Janeiro que é: Rio de Janeiro é o túmulo do Rock. SERÁ MESMO?? Eu vejo querendo ter esse papo a um tempão e eu acho que o início de 2025 é o momento mais propício para iniciarmos uma boa discussão sobre essa afirmação de “Rio de Janeiro o Túmulo do Rock”.

Eu tenho visto, desde não somente o ano passado, mas de um bom tempo pra cá que diversas pessoas ficam repetindo essa frase, por conta da falta de agenda de Bandas Internacionais, ou mesmo do cancelamento de alguns eventos Internacionais na cidade, seja ele por baixa procura de ingressos, uma marcação com outro evento na mesma data e afins. Mas isso não quer dizer que, o cenário Rocker Carioca esteja realmente condenado. Eu quero começar esse bate papo trazendo os números levantados pelo Agenda Rock RJdo querido Robson Alves, que faz um serviço ímpar mapeando todos (e eu digo), TODOS os eventos do Estado do Rio de Janeiro. Quer ver isso, veja abaixo:

Vendo esses números acima, eu tendo a responder que não, é impossível o Rio de Janeiro ser o túmulo do Rock, mas, eu não posso ser o parâmetro, por isso eu perguntei a diversas pessoas a mesma coisa: O RIO DE JANEIRO É O TÚMULO DO ROCK. Vejam algumas respostas:

Robson Alves, o Agenda Rock RJ:Sobre sua pergunta, minha resposta é definitivamente não. O público em geral tende a associar o mercado local à quantidade de shows internacionais que acontecem por aqui. Nesse aspecto, sim, o Rio está atrás de outras cidades brasileiras. Diversos fatores contribuem para isso, como o alto custo da cidade, questões de logística e transporte, a falta de espaços adequados para eventos, o preço dos ingressos e até mesmo fatores comportamentais, como a tendência de deixar a compra do ingresso para a última hora. Esses aspectos, na minha opinião, reduzem o volume de shows internacionais e enfraquecem a posição do Rio na rota dessas turnês.

Por outro lado, embora meu levantamento mostre que ainda há uma grande desproporção entre shows autorais e covers, a cena local segue ativa, com novas bandas surgindo, novos eventos sendo organizados e espaços abrindo suas portas para o underground carioca. Exemplo disso são o Centro Cultural Diversa e o Espaço Redoma, ambos no Centro do Rio, que começaram a operar no final do ano passado. 

Sob essa ótica, o Rio está indo muito bem. Claro, sempre há espaço para melhorias, mas afirmar que “o Rio é o túmulo do rock” é algo com o qual discordo veementemente.”

Adriana de Almeida, frequentadora do cenário: “Não, o Rock não morreu no Rio, as pessoas pensam muito nas bandas grandes, famosas, “gringas” … O Underground do Rio tem várias bandas muito boas que não são valorizadas . Eu vejo muitos shows de bandas cover que lotam as casas, enquanto as banda autorais não enche tanto e isso vai muito também da divulgação das próprias bandas q as vezes deixam a desejar nesse ponto.”

Thiago Barbosa, produtor e músico:P****… é pra quem não está disposto a fazer acontecer. A gente que é sangue no olho e enxerga o trabalho para além da romantização da “cena” consegue trabalhar. Mas irmão, sinto muita falta dos espetáculos. Zona Oeste com o Full Metal Rock fest em Campo Grande tinha estrutura de circo voador, Bangu ainda resiste na lona com o rato no rio. Rio Metal Works no Mackenzie era lindo. Caixias tinham duas cenas, a cena do Tomarock que abrangia varias bandas do rock de diversos estilos diferentes e tinha a cena do Metal Extremo da galera do Albergue. Sem falar na galera de Sepetiba, do Terrorstorm. Tinha um evento de Metal Extremo foda no recôncavo de Sepetiba. Lotava! Não da pra comparar o que acontece hoje com o que rolava no passado. Existiam shows de verdade e com estrutura para bandas autorais. Era uma mentalidade diferente, mas antigamente era possível fazer como se faz em SP, trazer uma banda pra cá e a banda rodar em vários shows bons apenas dentro do estado. Isso não aconteceu, pq a gente não tinha essa mentalidade e o RJ é muito bairrista com relação ao metal no geral. Mas era possível.

Hugo Rosas, guitarrista da NoSunnyDayz: “Esse negócio de “túmulo do rock” é, pra mim, mais uma questão conjuntural do que geográfica. Não acho que exista “um túmulo”, mas um sistema que vai sepultando o que não é seu objetivo de negócio, pelo fato do Rock não ter nem de perto a condição financeira que outros estilos têm. O cenário atual tem como foco e permanente estímulo a esse foco outro(s) estilo(s) musical(is). Como há mais gente fomentando esses outros, fica mais fácil tocar na rádio, ter programa na tv, música na novela etc. Uma vez que toca em tudo que é canto…

Tarcício Chagas, produtor e Assessor de Imprensa na The Bridge Press BR:Minha concepção mudou. O público que não comparece é que faz a gente pensar que aqui é o túmulo do Rock porque está cheio de bandas boas pelo RJ e não é só na capital. Movimentos como o Cariocaos e N.O.R.C. fazem o Rio respirar bem forte.

André Paumgartten, produtor da Bonde Music: “O Rock no Rio vai muito bem, obrigado. Muita banda criativa, bandas novas surgindo e sempre muito criativas e preocupadas com a sua performance, as bandas antigas também bem profissionais e mantendo o propósito. O que dificulta é que o público chegue junto e por conta disso, lá nos meus eventos com o Bonde Music eu procuro sempre dar preferência a ingressos com valores bem populares e inclusivos, mas as vezes ainda faço até de graça, para que o pessoal chegue.

Pity Portugal, produtora do Akasha Rock Fest: “O Rio de Janeiro nunca foi o tumulo do rock e nunca será. Só contrário do que muitos pensam, o rock no Rio de mantém vivo e, inclusive, renovado.

Existem centenas bandas na cidade e no estado do Rio de Janeiro fazendo não só um trabalho cover de qualidade, mas também um trabalho auroral incrível.
Muitas bandas não tocam nada cover no seu repertório, o que significa que estão produzindo um rock renovado, seja em português ou em inglês, em todas as vertentes (hard, metal, indie, punk, pop rock, grunge, etc).
Ou seja, tem rock saindo do forno para todos os gostos, só não encontra quem não quer!
Tem bandas com pouco tempo de estrada, tem bandas com uma loga trajetória, todas lançando álbuns novos ou EPs.
Inclusive têm produtores engajados em fazer eventos somente com bandas independente com repertórios autorais!

Não foi o rock que morreu, os cariocas (para falar só da nossa cidade) é que não saem da sua zona de conforto, que é ouvir mais do mesmo.
Basta identificar o estilo de rock que você quer/gosta de ouvir, buscar as bandas em sites do rock, como o Headbangers Brasil e o Rockstage Br, e botar para tocar nas plataformas de streaming. Simples assim.
Quem não quiser ter um esse “trabalho”, é só chegar com a mente aberta nos eventos de rock auroral.
Para saber onde as bandas estão tocando e quais são, basta seguir perfis de festivais como o Akasha Rock Fest e de divulgadores como a Agenda Rock RJ, do Robson. Fica a dica.

Depois de tantas respostas positivas como essas e ainda me vem o pensamento: mas por quê ainda existe essa percepção do Rio de Janeiro??? Eu vejo que seja pela “escassez” de eventos Internacionais, ou a errônea comparação do Rio de Janeiro São Paulo, até mesmo porquê cada estado tem um tamanho, cada estado tem um jeito completamente diferente em se lidar, tratar, em entender como funciona a locomoção, público, entre outros.

Na semana passada tivemos o show do Baroness The Cult no Vivo Rio (cobertura aqui) e tivemos uma casa bem cheia e em contraponto, na mesma casa, tivemos o The Mission Christian Death (cobertura aqui) que foi um completo desastre!! Então, porquê uma banda tão clássica para um cenário pode ter dado errado assim?? Sem contar o insólito caso do Manowar no Rio de Janeiro.

Dentro do Estado do Rio de Janeiro, nós temos um cenário extremamente pungente e que vem mostrando a cada dia que passa, uma qualidade invejável para o Mercado Musical do Rock/Metal para o Brasil, não somente no cenário mais pesado, mas pra qualquer um dos subgêneros do Rock e não falo da Capital, falo do Estado, que tem bandas maravilhosas. Mas será que toda essa devagação responderá a minha pergunta original?

SERÁ MESMO QUE O RIO DE JANEIRO É O TÚMULO DO ROCK?

Analisando friamente, vendo tudo no qual tem acontecido nessa cidade, eu vos falo: NÃO, o Rio de Janeiro não é o túmulo do Rock, mas, não temos como negar que, trabalhar e produzir no Rio de Janeiro é difícil e complicado, não temos como advinhar a “fórmula mágica” para termos mais eventos Internacionais dentro do segmento na cidade, é um risco sempre a se correr sobre. Mas, depois dessa leitura, eu espero que, você querida e querido leitor desse portal e for Carioca (como esse que vos escreve), for perguntado ou mesmo, interpelado que o Rio de Janeiro não é pro Rock/Metal, respondam com um sonoro NÃO, é somente você que não conhece. Abaixo vou deixar uma playlist que tem a curadoria da Raíza Silva, produtora e “combatente” do Underground Carioca.