Hoje, 31 de outubro, comemoramos o Halloween, ou o dia do Saci, como nacionalistas falam (embora o dia do Folclore seja 22 de agosto). O conhecidíssimo dia de relembrar as histórias de terror e lendas que assombram o imaginário da humanidade. Claro que a data não foi criada com essa função, já que ela é uma festividade pagã com seu calendário baseado na agricultura – então plantio, cultivo, colheita, etc – mas a pauta aqui não é essa: nossa função hoje é comemorar da forma mais hollywoodiana possível. Bora falar de fantasmas?

Aqui todo mundo sabe que eu sou fascinada pelo universo da maior donzela de todos os tempos, o Iron Maiden e por isso, vamos brincar um pouquinho com as lendas desesperadoras que esses senhores tratam em suas letras, começando por um de seus maiores clássicos “The Rime of the Ancient Mariner”. Escrita pelo Boss, Steve Harris e lançada em 1984 no irretocável Powerslave (que completou 40 anos em setembro), essa pérola de 13:38 (que passam num piscar de olhos) conta a história de um marinheiro que volta de uma viagem insólita.

Homens ao mar, mulheres se despedindo no cais. A noite era escura e nebulosa. Até que algo se chocou contra o mastro do navio. Um albatroz, um gigantesco e lindo albatroz. O que fazer? Como agir? Ele ainda estava vivo, e diz a lenda que por ser tão sublime sua espécie, traz sorte, bom presságio… “Jogue-o ao mar!” – gritaram. “Deixe que morra fora do navio!” E assim foi feito. A noite foi escurecendo ainda mais e esfriando de forma cadavérica. Era um frio de morte, aquele que arrepiava os pêlos do braço e gelava o coração. Eis que um vento dentro do navio começou a fazer um alvoroço. Mas o mar estava calmo… o que seria isso? Com asas imensas abertas, o albatroz vinha buscar seus algozes e àqueles que não deram o descanso devido à sua alma. A sublime ave veio concretizar sua vingança.

Imagem reproduzida da internet

Um a um, sob a Lua rodeada de estrelas Rápido demais para gemer ou suspirar

Cada um virou o rosto, com uma pontada medonha

E me amaldiçoou com seu olhar

Quatro vezes cinquenta homens vivos

E eu não ouvi nem suspiro nem gemido

Com um baque pesado, um vulto sem vida

Eles caíram, um por um”.

Esse trecho e toda a história são tirados do poema épico homônimo de Samuel Coleridge, um escritor e dramaturgo inglês. É a única estrofe que não é cantada e descreve exatamente o que foi o horror causado pela vingança do albatroz. O marinheiro que conta a história menciona ter ficado apavorado ao ver a maldição encenada em seus olhos, mas compreendeu e aceitou o castigo, pois tanto ele quanto seus companheiros não trataram a ave com dignidade e bondade. Enquanto a vingança corria, a tripulação era estripada e jogada ao mar. Ao sentir a oração, o perdão e a abnegação do marinheiro, a noite clareou, o albatroz saiu do pescoço de uma de suas vítimas, caminhou até a água e afundou feito chumbo.

Imagem reproduzida da internet

A história é insólita, com uma temática pouco abordada pelo cinema de horror, salvo Navio Fantasma, de 2002 (que tem um enredo envolvente e com poucos elementos gore na medida certa, mas com um desfecho previsível). Iron Maiden repete o tema marítimo – fantasmagórico em Ghost of Navigator, do álbum de 2000, Brave New World, que marca o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith à formação.

Outra queridinha dos fãs é Children of the Damned, de 1982, do recheado álbum de terror The Number of the Beast. Obra que fez a banda entrar para a lista dos não recomendáveis pelo PMRC (Parents Music Resource Center) por satanismo, dando à sua capa aquele adesivo maroto Parental Advisory – Explicit Content. Mas como eu estava contando, Children of the Damned tem seu argumento escrito por Steve Harris e a letra tem alguns pitacos de Bruce Dickinson que, inicialmente, por conta do contrato com o Samson, não pôde assinar nenhuma composição para o álbum (o que durou apenas a primeira edição inglesa). Mas o chefe conta que teve a ideia dessa música ao assistir o filme “A Profecia II – Damien” (1978), onde crianças poderiam ser controladas pelo filho do demônio, fazendo com que uma nova geração de seguidores surgisse. O mais engraçado é que a letra poderia facilmente atribuída à “Colheita Maldita”, livro de 1978, de Stephen King, que foi levado ao cinema em 1984, onde crianças seguidoras de uma seita criada pelo demônio do milharal, através de Isaac matam os adultos e tomam a cidadezinha para si; ou ainda “Aldeia dos Amaldiçoados”, de 1960, onde crianças de um vilarejo são tomadas por uma força e passam a dominar tudo e todos. Esse filme foi regravado em 1995 e renomeado para Cidade dos Amaldiçoados.

Embora a temática não seja explicitamente horror, “Hallowed Be Thy Name” narra com precisão toda a sensação de saber que seu fim está próximo. Um condenado à forca conta como percebe que seu tempo está perto do fim e como é duro saber que tudo isso não é um sonho. Que ao final daquele corredor, nada mais existirá.

Capa do single gravado no show Raising Hell, 1993. Ela retrata uma brincadeira com Bruce Dickinson, que estava saindo da banda.

E você, banger. E você, blood brother. Qual seu hit de horror favorito da donzela?

Lembrando que agora em dezembro, dias 6 e 7, o sexteto desembarca em São Paulo para os dois únicos shows no Brasil, pela turnê Future Past. Já garantiu seu ingresso? Ainda não? Então não surta, porque por mais que os canais oficiais da Livepass digam que os shows estão sold out, as páginas de Instagram e Facebook dedicadas à banda estão fazendo um trabalho bem bacana na revenda de ingressos de pessoas que não poderão mais ir a esse show inesquecível. Um ano, né banger? Muita coisa aconteceu nesse tempo… muita água passou por debaixo dessa ponte. Mas, se assim como eu, você é fã de carteirinha dos caras, ainda tem ingresso para assistir ao British Lion no dia 5, no Fabrique, pertinho da Estação Barra Funda do metrô. Vai perder, blood brother? Eu acho que você não seria maluco de deixar passar a oportunidade de ver o chefe Steve Harris tão perto de você, não é mesmo? Os ingressos já estão no segundo lote e não estão mais no valor inicial.

Já viu que esse texto é parte 1, não é blood brother? Então vamos seguir nesse ritmo de terror e lembrar de mais letras e mais passagens e mais horrores que o Iron Maiden já contou em toda a sua discografia, fechado?

 

Serviço:

British Lion + Tony Moore’s Awake

Local: Espaço Fabrique

Rua Barra Funda, 1071 – Barra Funda – São Paulo – SP 

Horário: 19h (abertura da casa) 21h (show)

Ingressos: a partir de R$210,00 + Taxa de Conveniência 

https://www.livepass.com.br/event/british-lion-espaco-fabrique-19330456/?affiliate=MKN

Ingressos Livre de Taxas: Estádio Morumbis – Bilheteria 5 

Avenida Giovanni Gronchi, s/n – Morumbi – São Paulo – SP 

Horário: de segunda a sábado, das 8h às 17h, exceto dias de jogo.

 

Texto por: Amanda Basso