A guitarrista Midori é a convidada especial

Uma banda de power metal formado por cinco mulheres japonesas, que canta, e encanta, no idioma inglês em suas músicas. Seria muito simples definir o LOVEBITES dessa forma, mas elas são muito mais do que isso.

A banda teve seu início em 2016 já conta com uma discografia respeitável com dois EPs e cinco full-length (sendo dois ao vivo) e impressiona por sua técnica em músicas cheias de passagens complexas e muito, mas muito rápidas e pesadas.

Apesar da curta carreira elas já se apresentaram em vários países do velho continente e em grandes festivais europeus como Bloodstock Open Air, Download Festival, Graspop Metal Meeting e Wacken Open Air. Por falar em Europa, o LOVEBITES foi premiado com o ‘Metal Hammer Golden Gods Award’ na categoria ‘melhor nova banda’ em 2018.

Todas as integrantes do LOVEBITES são muito acima da média em suas funções específicas. A cantora Asami possui uma voz com grande alcance, além de ser muito versátil. A cozinha composta pelos membros fundadores, Miho no baixo e Haruna na bateria, é sólida, extremamente eficaz e criativa. Já as guitarristas Midori e Miyako são verdadeiramente impressionantes, pois desferem rifes conjuntos muito rápidos e os solos são de tirar o fôlego, ora alternando as passagens, ora gêmeos, no melhor estilo eternizado pelo Judas Priest.

Nessa entrevista a virtuosa guitarrista Midori conta sobre o início de sua carreira, sobre os trabalhos do LOVEBITES, sobre a situação atual do cenário da música pesada no Japão e muitos outros assuntos e entre eles descobri que Midori é fã do Angra e gosta muito de música brasileira. 

Headbangers Brasil: Em primeiro lugar, muito obrigado pela entrevista, Midori-san. É uma honra para todos nós. Vamos lá, falando sobre o início, como foi seu primeiro contato com a música e quando você decidiu que queria ser uma guitarrista em uma banda de heavy metal? E aproveitando, quais são suas principais influências?

Midori: Eu tinha um piano em casa e aprendia a tocá-lo desde os 2 anos de idade. Quando eu tinha 8 anos, comecei a tocar órgão elétrico. Mas desisti de ambos quando entrei na universidade. Comecei a tocar guitarra quando tinha 20 anos e, ao fazer isso, queria tocar uma música mais intensa, mais técnica, e comecei a tocar metal. Eu aprendi muita teoria musical e prática no MI JAPAN em Osaka, ganhando muita experiência. Acho que foi quando comecei a querer ser uma guitarrista profissional. Eu não tinha um ponto de partida claro, mas tinha muitos amigos bons e altamente motivados ao meu redor e apenas tinha um vago desejo de me tornar profissional, então trabalhei muito em minha técnica praticando. Nunca decidi ser guitarrista de uma banda, mas acho que isso foi a melhor coisa para mim e para minha carreira musical. As influências … O Angra é definitivamente uma das minhas bandas favoritas. LOVEBITES ainda não tem nenhuma música com um toque brasileiro, mas há muitas frases nos solo inspiradas em Kiko Loureiro. Continuo a aprender o ritmo, as frases e a composição de solo de Nuno Bettencourt e Yngwie Malmsteen.

HB: “Five of a Kind – Live in Tokyo 2020” é um álbum impressionante. A banda mostra muita segurança e tudo é muito bem executado. Midori-san, como foi a recepção dos fãs para este trabalho? E você particularmente ficou 100% satisfeita?

Midori: Obrigada. Estou muito satisfeita com o trabalho. Na verdade, eu acho que foi um ótimo show, e tivemos muita sorte de poder filmar ao vivo porque, devido ao COVID-19, não poderíamos fazer shows 10 dias depois. Fizemos uma festa de visualização online antes do lançamento e, apesar das diferenças de fuso horário, muitas pessoas de todo o mundo assistiram. Recebemos muitos comentários positivos. Após o lançamento, ele alcançou o número 1 na parada, e eu fiquei muito feliz e grata em ver muitos posts nas redes sociais que os fãs estavam curtindo o DVD.

HB: O LOVEBITES, apesar de ser definida como uma banda de power metal, também arrisca muito no Hard Rock (como na música “Dancing with the Devil”). Em sua opinião, essa versatilidade, além de canções com letras em inglês, são os grandes trunfos do LOVEBITES para conquistar um público cada vez maior?

Midori: Acho que eles desempenham um grande papel. Embora o LOVEBITES seja posicionado como uma banda de power metal, cada membro é influenciado por músicas diferentes e isso reflete na qualidade musical do LOVEBITES. Acho que Thrash Metal, NWOBHM e Melodic Speed ​​Metal são o eixo do LOVEBITES junto com o power metal, e sinto que o público que gosta de vários estilos de metal está curtindo nossa música. Fizemos uma música clássica de hard rock como “Dancing with the Devil” pela primeira vez para o “Electric Pentagram“, e muitas pessoas parecem gostar dela como um gancho para o disco, então acho que foi certo incluí-la no álbum.

HB: De “Awakening from Abyss” a “Electric Pentagram”, vocês lançaram álbuns cada vez mais sólidos e complexos. Como você avalia a evolução musical da banda ao longo desses anos?

Midori: Havia muitos estilos de metal na época de “Awakening From Abyss”, os elementos clássicos foram adicionados para “Battle Against Damnation“, usamos o violão acústico e as músicas focadas na performance ao vivo aumentaram em “Clockwork Immorality” …, “Electric Pentagram” tem tudo isso, é claro, mas ficou mais rápido, mais agressivo, muito mais técnico e tem mais elementos de rock progressivo. Como era o terceiro álbum completo, colocamos muito esforço para fazê-lo e fomos capazes de fazer algo que valesse a pena ser ouvido com muitos elementos. Acho que toda vez que fazemos um álbum, tentamos criar algo mais agressivo do que o anterior e adicionar novos elementos e o que temos tentado até agora valeu a pena. Não acho que poderíamos ter feito “Electric Pentagram” no primeiro álbum.

HB: Como funciona o processo de composição em LOVEBITES, Midori-san? Cada membro traz suas ideias individualmente ou é um processo mais coletivo?

Midori: Além dos membros da banda, um tecladista e compositor, MAO esteve envolvido como músico adicional desde o primeiro álbum. Basicamente, a banda e o MAO juntam as ideias e seguem com a produção, ouvindo também a opinião do produtor. Às vezes, co-escrevemos canções entre os membros da banda e, exceto Miyako, frequentemente fazemos música com o MAO.

HB: Você é uma guitarrista muito rápida, técnica e criativa. E sua parceria com Miyako me lembra da dupla KK/Glenn do Judas Priest – especialmente quando vocês usam passagens duplas nos solos. A minha pergunta é como funciona essa parceria? Como vocês compartilham – e tão bem – o papel de cada uma?

Midori: Basicamente, eu sou responsável pelos rifes rápidos e os solos rápidos e loucos usando “dive bomb“, e Miyako é responsável pelas partes lentas e solos mais emocionais. No entanto, ambas recentemente temos abusado do ‘shred‘, e muitas vezes não me apego a quem toca rápido e lento. Costumo adicionar uma sensação flutuante “tipo fusão” e um “a jazzy taste”, e Miyako às vezes usa o pedal wah-wah e o pedal whammy.

HB: O LOVEBITES já é uma realidade de muito sucesso na Europa, com participações em grandes festivais e shows em várias cidades. Midori-san, qual é a sensação de representar o melhor da cena da música pesada japonesa atual para um público exigente e ser tão bem recebida?

Midori: Um dos nossos objetivos era tocar na Europa, que é o berço do metal, então estamos felizes de sermos aceitas. Acho que muitas pessoas já nos viram nos festivais e conhecem o nome LOVEBITES, mas ainda há muitas coisas que podemos melhorar para nos tornarmos uma banda que as pessoas procurem ver ao vivo várias vezes. Queremos nos tornar uma banda legal do tipo que muitas pessoas ouvem e assistem com frequência.

HB: Temos uma colônia japonesa muito expressiva aqui em São Paulo, sabia? E Midori-san, o que você sabe sobre nossa música? No futuro podemos esperar uma apresentação de LOVEBITES aqui no Brasil?

Midori: Eu sabia que havia descendentes que imigraram do Japão, mas não sabia que havia uma colônia. Quando penso em música brasileira, as primeiras coisas que me vêm à cabeça são o samba e a bossa nova. Quando eu era uma aluna do ensino fundamental tocando órgão elétrico, ele tinha cerca de 100 padrões de ritmo predefinidos, e eu gostava do ritmo complicado do samba entre os padrões. Não sou baterista e não estudo bateria de forma sistemática e séria, mas me interesso pelo ritmo brasileiro e às vezes assisto a vídeos. Existem ritmos baseados na dança como Baião e Xote, e ritmos baseados na Capoeira. Parece haver muitos tipos e é complicado, então não consigo me lembrar de todos (sorriso irônico). Para mim, que me interesso pela música brasileira, claro que gostaria de me apresentar no Brasil quando a situação se acalmar. É presunçoso comparar, mas é um lugar que produz bandas maravilhosas de power metal como Angra e Hibria, então espero que sejamos bem aceitas musicalmente. Espero que algum dia possamos nos apresentar no Rock in Rio!

HB: Você já pensou a respeito ou tem planos em algum momento de sua carreira de lançar um álbum solo instrumental?

Midori: Não, não estou pensando nisso agora, mas espero fazer algum dia no futuro.

HB: Não só o mundo da música, mas praticamente tudo parou em 2020, por causa dos problemas que o Corona Vírus corona nos trouxe. Midori-san, como você reagiu a este problema de pandemia? Conte-me como estão as coisas hoje na cidade onde você mora?

Midori: É verdade que o mundo tem enfrentado um problema que leva tempo para ser resolvido, então achei que deveria aceitá-lo. A influência da pandemia chegou ao Japão um pouco depois da Europa e da América, então eu esperava que a quarentena fosse prolongada olhando a situação em outros países, e eu não tive escolha a não ser obter as informações corretas e tomar as medidas apropriadas e saber o que poderia fazer nesta situação. Agora, em Tóquio, ainda temos casos de infecção confirmados todos os dias, mas as pessoas em Tóquio não parecem estar exagerando isso. Pelo que eu sei, muitas lojas estão abertas com horário reduzido. Em comparação com antes do COVID-19, parece haver menos pessoas na cidade, mas tenho a impressão de que há cada vez mais pessoas que estão começando a voltar à vida normal, indo para o trabalho e saindo com cautela. Mas a indústria do entretenimento ainda é duramente atingida. Mais do que os artistas, acho que a equipe que nos apoia nos shows ao vivo é a mais afetada e isso realmente machuca meus sentimentos.

HB: E quanto ao futuro Midori-san? Você acha que vai demorar muito para os shows voltarem a ser como estávamos acostumados? Quais são seus planos e LOVEBITES para os próximos meses?

Midori: Acho que vai demorar um bom tempo antes de poder atuar ao vivo nas mesmas condições de antes, mesmo depois da vacina ser desenvolvida. Nos últimos meses, quando não podíamos nos apresentar ao vivo, eu fiquei compondo músicas e filmado vídeos. Temos alguns anúncios para divulgar mais para frente e, por enquanto, faremos algo online e focaremos na produção.

HB: Quero muito agradecer a sua atenção Midori-san, muito obrigado. Tenho certeza que seus fãs aqui no Brasil estão ansiosos por notícias suas e de LOVEBITES Fique à vontade para deixar mensagens para os fãs e divulgar os endereços para que eles fiquem conectados com todas as novidades sobre você e LOVEBITES.

Midori: Essa foi minha primeira entrevista para a mídia brasileira. Acho que alguns de vocês nunca ouviram falar de nós antes, mas como eu sou alguém que é fascinada pelo Brasil e pela música brasileira, estou feliz por essa entrevista! Se você ainda não ouviu nossa música, confira nossos videoclipes e as nossas filmagens ao vivo no YouTube. Algum dia, eu quero me apresentar no Rock in Rio, e se você gosta de nós, por favor, apresente-nos aos metalheads ao seu redor!

Eu, pessoalmente, quero experimentar o Carnaval do Rio algum dia ~. (risos)

Para maiores informações sobre o LOVEBITES:

Oficial website (Disponível apenas em japonês, mas estamos preparando a versão em inglês)

http://lovebites.jp/

Twitter @lovebites_jp (Jpn)

Facebook @LovebitesTheBand (Eng)

Pessoal sobre Midori:

IG @midoritatematsu (Eng)

FB @midorin.gt (Eng/Jpn)

Twitter @midori_gt (Jpn)

Confiram, por favor!

Espero ver você online em breve!

(Créditos das fotos: Kitetsu Takamiya, mídias sociais de Midori e LOVEBITES)

N.R.: Em meu nome quero agradecer a atenção dispensada por Midori, que concedeu essa honra e a todos da JVCKENWOOD Victor, por tornar essa entrevista possível. Muito obrigado.

N.R.2: Curtiu a entrevista? Que legal. Então, além de conhecer mais sobre o LOVEBITES assistindo aos clipes que postamos logo ai no final dessa matéria, você sabia que também pode adquirir o álbum “Clockwork Immorality” em edição nacional? Pois é, esse trabalho do LOVEBITES, por enquanto, é o único que foi lançado aqui no Brasil. Eu já tenho o meu em minha coleção de CDs, faça o mesmo batendo um papo com seu lojista favorito e encomendando o seu, para poder conferir esse excelente disco.

 

Review do álbum Five of a Kind – Live in Tokyo 2020”:

Resenha: LOVEBITES – Five of a Kind (2020)