Quando crianças, nossas mães ou responsáveis, no intuito de nos fazer atender alguma ordem falavam coisas como: O bicho vai te pegar, olha o homem do saco, cuidado com o homem que transforma as crianças em sabão, entre outras sandices maternas e paternas. Na minha casa, a primeira figura emblemático-visual que me chamou atenção foi O Homem Da Cartola. A essa altura do campeonato, com certeza você já sabe que se trata de Slash, o lendário guitarrista do Guns n’ Roses, que com sua imagem propositalmente desleixada fez com que milhares de garotos como eu deixassem o sonho de jogar futebol de lado para passar raiva tentando fazer música e viver nesse país de Oruans e Anittas.
A imagem em questão, trazia uma aura de liberdade, com cabelos engrenhados debaixo da cartola, um rosto quase impossível de se enxergar (o que aumentava ainda mais a admiração dos fãs e o mistério em torno de sua personalidade), a calça apertada e os tênis ou botas velhas, cigarro de canto de boca (o que eu criativamente imitava usando um palito de fósforo apagado) e o ar de bad-boy que todo garoto de 12 anos gostaria de ter em épocas onde ninguém sabia o que era bullying mas todo mundo fazia ou sofria na escola. Meu objetivo aqui é falar sobre os trabalhos de Slash fora do Guns, já que todos estão cansados de saber dos discos, curiosidades e principalmente das tretas (já superadas, graças ao bom Deus) com Axl Rose. Aproveite esse passeio pela obra do “Homem da Cartola” mais amado do mundo e aproveite pra conhecer trabalhos que talvez tenham passados desapercebidos. Boa leitura!

Os Primórdios
Slash (Saul Hudson) nasceu em Stoke-On-Trent, Inglaterra em 23 de Julho de 1965 numa família de artistas. Sua mãe era figurinista de artistas como Sylvester e David Bowie (com quem mais tarde teve um namoro) e seu pai pintor e desenhista. Sua primeira banda foi formada em 1981 e se chamava Tidus Sloan, uma banda sem vocalista, com amigos de escola fazendo versões instrumentais de músicas famosas.
Formando Outra Banda
Inspirado no Aerosmith (uma de suas maiores influências), formou em 1983 com Steven Adler (seu amigo de infância e que viria a ser o primeiro baterista do Guns) a banda Road Crew (nome tirado de uma canção do Motorhead), e após um anúncio no jornal conheceram Duff Mckagan ( futuro baixista do Guns N’ Roses). Após várias tentativas frustradas de encontrar um cantor, a banda se desfez e Slash foi tocar com uma banda local chamada Hollywood Rose. O grupo contava com Axl Rose e Izzy Stradlin (guitarrista do que viria a ser o Guns n’ Roses) e sua passagem durou pouco. Após o Hollywood Rose se fundir com o L.A.Guns. dando origem ao Guns n’ Roses, um desentendimento de Axl com seu guitarrista ( que surpresa!), trouxe Slash de volta à cena e consolidando a formação clássica da banda mais perigosa do planeta. Slash esteve no Guns de 1985 `1996 e gravou todos os discos mais importantes durante esse período.
Após as armas, rosas (ou será que não?!)
Após sua saída do Guns de uma maneira nada amistosa (pra dizer o mínimo) com troca de farpas públicas com Axl, e brigas monumentais, Slash decidiu lançar um disco com as músicas que haviam sido recusadas por Axl para um disco novo do Guns. Todos os fãs já se pegaram imaginando como seria se esse disco fosse lançado pelo Guns n’ Roses, o que provoca um misto de sensações/dúvidas: poderia o Guns ter saído ileso da fúria grunge dos anos 90 com seu hard rock competente e vigoroso? O lançamento de It’s Five O’Clock Somewhere em 95 provou que sim, pois o disco em questão vendeu 1 milhão de cópias e fez Slash embarcar em uma turnê mundial, com passagens inclusive pelo Brasil. Chamado de Slash’s Snakepi, o projeto era pra ser uma banda chamada Snakepit, mas a Geffen Records exigiu que o nome de Slash estivesse em destaque. Mais turbulências vieram, pois a formação do Snakepit contava com Mike Inez, baixista do Alice In Chains, que também atravessava um período de instabilidade por conta dos abusos de seu vocalista, Layne Staley. A banda prosseguiu em turnê com Brian Tichy e James Lomenzo, baterista e baixista do Pride And Glory de Zakk Wylde. O grupo foi desfeito devido às pressões da Geffen para que Slash trabalhasse em um novo disco do Guns e ao final de 1996 Slash se desligou oficialmente de seu antigo grupo.
O Blues Pesado de Slash
Que Slash é um arroz de festa todo mundo já sabe. Acontece que em 97 o cara surpreendeu mais uma vez e montou uma banda de Blues, o Slash’s Blues Ball, para se apresentar em um festival de Jazz na Hungria. A banda tocou um repertório incrível de blues e jazz, com B.B. King e Ottis Redding no cast, presenteando os fãs que puderam conferir ao vivo.
O Retorno Do Snakepit
Ao encerrar a turnê do Blues Ball, em 2000 Slash decidiu reformular o Snakepit e lançar mais um disco. A empreitada contou com os vocais do desconhecido Rod Jackson e apesar do excelente material, os fãs demoraram a compreender e digerir o disco, culminando no fim da banda. Apesar disso a banda embarcou numa extensa turnê com o AcDc que durou até 2002.
As Drogas Cobram Seu Preço
Antes mesmo do término da turnê do Snakepit, a saúde de Slash estava muito fragilizada. Devido aos anos de excesso, com abuso de álcool e drogas, durante um ensaio Slash teve uma parada cardíaca e acordou 2 semanas depois numa cama de hospital. Após inúmeras sessões de fisioterapia (e um desfibrilador inserido em seu coração), Slash decidiu encerrar o Snakepit permanentemente após cumprir as datas adiadas da turnê, devido ao comportamento irresponsável dos músicos envolvidos.
Velvet Revolver e os Anos 2000
Os anos 2000 trouxeram um clima de mudança para a humanidade em geral. Muitas expectativas haviam em torno do mítico ano e da virada do século. Slash juntou-se a Matt Sorum e Duff Mckagan para uma homenagem a Randy Castillo (ex baterista do Mötley Crüe) e a suposta banda deu tão certo que virou uma banda de verdade. Assim nasceu o Velvet Revolver, com Scott Weiland (ex Stone Temple Pilots) no vocal e Dave Kushner na segunda guitarra. Seua álbum de estréia foi Contraband em 2004 e em seguida, saiu em turnê mundial. Logo após um desentendimento causado por uma falsa notícia divulgada por Axl Rose, o grupo quase acabou. Resolvidos os problemas, em 2007 lançaram Libertad, o segundo e último disco do grupo. Scott anunciou que voltaria ao Stone Temple Pilots e Slash iniciou audições para vocalista, enquanto seus membros focavam em outros projetos.
Carreira Solo e Redenção
Em 2008, Slash começou a gravar canções para um álbum solo. A princípio a idéia era chama-lo de Slash and Friends, mas decidiu apenas por Slash. Com a participação de vários ícones como Ozzy, Myles Kennedy, Fergie, entre outros, o disco chamou atenção e logo Slash saiu novamente em turnê com Myles no vocal. Em 2011, com Myles efetivado no vocal e sua banda de apoio batizada de Conspirators, Slash lançou Apocaliptic Love, um trabalho coeso e pesado, mostrando que o hard rock poderia soar moderno sem perder as raízes e a essência. Em 2014, World On Fire viu a luz do dia. Um disco ainda mais pesado, trazendo excelentes canções, porém sem o mesmo brilho de seus antecessores.
O Retorno ao Guns n’ Roses
Após a saída de DJ Ashba do Guns n’ Roses, rumores indicavam um possível retorno de Slash à sua banda de origem. Os rumores ganharam força quando Slash deu uma entrevista em 2015 dizendo que “já era hora de deixar toda aquela negatividade do passado pra trás…”. Em 2016 Slash postou, ao mesmo tempo que Duff Mckagan e o perfil da banda, um logo do Guns n’ Roses com as inscrições do festival Coachella. Após 2 shows em Las Vegas, foi realizado o show no Coachella e depois a banda, já com o retorno de 2 de seus membros clássicos, seguiu em turnê para a Cidade do México.
Em 2018 Slash lançou Living The Dream, seu quarto disco solo. Posteriormente lançou 4,em 2022 e em 2024 lançou um disco de tributos a artistas do blues chamado Orgy Of The Damned.
Parcerias Famosas
As principais parcerias de Slash até hoje são:
- Em 1991, com Michael Jackson no disco Dangerous (em 2 faixas, Black or White e Give Into Me). Também participou em faixas do disco HIStory( D.S.), Blood On The Dance Floor (Morphine) e Invincible (Privacy).
- Em 93, participou de um álbum tributo a Jimi Hendrix na faixa I don’t Live Today, com Paul Rodgers e o grupo Gypsys.
- Em 2000 tocou com Ronnie Wood dos Rolling Stones na sua canção Far East Man.
- Em 2003 Slash participou do retorno dos Yardbirds, tocando a faixa Over, Under, Sideways, Down, para seu álbum de retorno.
- Em 2008 Slash tocou com Alice Cooper no disco Along Came a Spider.
- Em 2009 participou do single de Rihanna, Rockstar 101, de seu disco Rated R.
- Em 2019 Slash tocou na música Straight To Hell de Ozzy Osbourne em seu disco Ordinary Man.
Slash teve outras inúmeras particiáções em trilhas sonoras, games e filmes de terror. É praticamente impossível listar tudo que ele já participou, porém é inegável seu legado como músico, sua personalidade e carisma. Pra encerrar, deixo abaixo uma lista com indicações dos melhores trabalhos de Slash pra que os leitores conheçam mais a fundo sua carreira.
Discos Icônicos:
- Appetite For Destruction (1987)
- Use Your Illusion 1 e 2 (1991)
- It´s Five O’ Clock Somewhere (1995) com Snakepit
- Contraband (2004) com Velvet Revolver
- Apocalyptic Love (2012)
Solos Memoráveis:
- Don’t Cry (Guns n’ Roses)
- Estranged (Guns n’ Roses)
- Rocket Queen (o ultimo solo, Guns n’ Roses)
- Paradise City (Guns n’ Roses)
- Gotten (Slash)
- Bad Rain (com The Conspirators)
- Give Into Me (Michael Jackson)
- November Rain (guns n’ Roses)
- Slither (Velvet Revolver)
- Fall To Pieces (Velvet Revolver)
- Back To The Moment (Snakepit)
- Living The Alien (Snakepit)
- Sweet Child O’ Mine (guns n’ Roses)
Riffs Inesquecíveis:
- Welcome To The Jungle
- You Could Be Mine
- Paradise City
- Mr Brownstone
- My Michelle
- Speed Parade (Snakepit)
- Superhuman (Velvet Revolver)
- Back From Cali (Conspirators)
- Anastasia ( Conspirators)
- Good To Be Alive (Snakepit)
- Headspace (Velvet Revolver)
TEXTO POR DIOGO FRANCO
