O que faz uma banda se tornar conhecida? O que faz um artista ser famoso e vender milhões? No hard rock muitos diriam que nos anos 80 era mais fácil, que o mercado vendia com avidez esse tipo de som. E mais ainda, bastavam ter discos lançados, possíveis hits, umas baladinhas de praxe pra agradar a mulherada, músicas com bom riff inicial, um pré-refrão, refrão chiclete e fácil de cantar junto e um solo na medida, visual bacana condizente com a época e vocal na região aguda. Essa foi a fórmula do sucesso de muitas bandas consagradas não apenas no meio hard, mas na musica em geral. Mas como música não é uma ciência exata, nem sempre as coisas saíam como esperado. Bandas como Magnum, Harem Scarem, possuíam tudo isso e mesmo assim nunca chegaram ao patamar comercial de bandas como Bon Jovi e Guns n’ Roses. A banda que irei falar hoje não obteve tanto êxito comercial mesmo preenchendo todos os possíveis requisitos, uma extensa e qualificada discografia e um cantor e compositor de excelência, Steve Overland, que escreveu hits até para a fase farofa de Ozzy Osbourne. Estamos falando do FM, uma banda britânica formada por ex-membros do Samson (aquela mesma que revelou Bruce Dickinson ao mundo).

O FM foi formado em Londres, no verão de 1984, pelos irmãos Chris e Steve Overland (Guitarras e Vocais, respectivamente), o baixista Merv Goldsworthy e o baterista Pete Jupp. Após conseguir um contrato com a CBS/Portrait, a banda excursionou abrindo shows de Meat Loaf naquele mesmo ano.
Após uma apresentação no Marquee Club em 1985, por ocasião do dia dos namorados, a banda entrou em estúdio e no ano seguinte, em 1986, lançou seu primeiro álbum intitulado Indiscreet, e Frozen Heart foi lançada como single. Nesse período a popularidade da banda explodiu na Europa, o que os levou a serem convidados a abrir shows de artistas como Tina Turner, Foreigner, Reo Speedwagon, Gary Moore, Magnum, entre outros. Ao fim do ano de 1986, a banda se juntou ao Bon Jovi para a etapa britânica da sua Slippery When Wet Tour. O FM também compôs a trilha sonora para a série animada The Adventures Of The Galaxy Rangers.
Após romper com a CBS e assinar com a Epic, a banda se mudou para os E.U.A. para compor canções com Desmond Child (uma autoridade no quesito hard rock oitentista, famoso por “enriquecer” o Bon Jovi e engordar fortunas de Aerosmith, Paul Stanley, entre outros). Duas músicas foram compostas com Desmond e os irmãos Overland, Burning My Heart Down e o mega hit Bad Luck. As músicas fazem parte do disco Though It Out, que seria lançado em 89, considerado um dos discos definitivos do aor/melodic rock.

Ainda no ano de 1986, Ozzy Osbourne lançaria seu controverso disco hard, The Ultimate Sin, que continha uma canção chamada Shot In The Dark, escrita originalmente por Steve Overland para sua banda Wastelife em 1983, e rearranjada por Ozzy em parceria com o baixista Phil Soussan. A canção em questão só seria lançada pelos seus autores originais no Ep de 2012, Only Foolin’.
Após a turnê de Tough It Out (que contou com 42 datas), Chris Overland decidiu deixar a banda, dando lugar a Andy Barnett, co autor do hit That Girl do primeiro disco e regravada pelo Iron Maiden no box chamado The First Ten Years, lançado em 1990.Com o grupo, Andy estreou de fato gravando o disco Takin’ It To The Streets em 1991.

Após mais uma mudança de gravadora (desta vez migrando para a Music For Nations), foi gravado um cover de I Heard It Through The Grapevine de Marvin Gaye, como aperitivo para o próximo disco, que se chamaria Aphrodisiac, gravado no ano seguinte em 1992. O disco representou uma mudança de sonoridade do grupo, mais calcado no blues rock de bandas como Bad Company e a fase blues do Whitesnake, mesmo que os elementos de Aor estejam presentes. Para esta empreitada a banda contou com o tecladista Jem Davis ( ex Tobruk e UFO). A parceria, no entanto durou pouco, e após o lançamento de Dead Man’s Shoes em 1995 a banda se separou.
Após 12 anos a banda foi chamada para ser a atração principal do Firefest em Minnesotta, E.U.A. e devido a excelente recepção do público, Steve decidiu tornar permanente a reunião do grupo. Andy por sua vez, não queria se comprometer a longo prazo e para seu lugar foi convidado Jim Kirkpatrick. A banda lançou o single Wildside para coincidir com uma segunda aparição no Firefest, em 2009, e apresentar o novo disco, chamado Metropolis e lançado posteriormente, em 2010, sucedendo Paraphernalia que havia sido lançado em 1996.
Após o disco Metropolis, a banda lançou 3 discos, chamados Rockville 1 e Rockville 2 em 2013, mesmo ano em que segiu turnê como banda de abertura para o Toto e o Journey. A agenda de turnês seguiu a todo vapor, com a banda abrindo para o Foreigner em 2014. No mesmo ano, o FM foi a atração principal de um dos dias do Cambridge Rock Festival e ao final de sua apresentação trouxe o ex guitarrista do Whitesnake, Bernie Marsden, para uma participação especial tocando Here I Go Again.

Apesar de aparições importantes, o FM nunca conseguiu se tornar popular na América do Sul, e suas canções, apesar de clássicos do estilo, permanecem ignoradas e desconhecidas do grande público até então. O lançamento de Heroes and Villains em 2015, uma regravação do disco Indiscreet em 2016, bem como mais 4 discos num período de 8 anos ( os excelentes Atomic Generation de 2018, Synchronized de 2020, Thirteen de 2022 e Old Habits Die Hard de 2024), mostram que o FM é uma banda que não vive de passado e continua produtiva. O reconhecimento comercial pode não ter vindo a nível mundial, já que a banda sempre esteve na segunda divisão do Aor/Melodic Rock (injustamente diga-se de passagem), já que não é tão citada em rodas de conversa como o Journey, Foreigner, Toto, entre outros medalhões do estilo, mas a qualidade e a regularidade dos caras é indiscutível. E vem mais por aí: previsto para o dia 5 de setembro, Brotherhood é o nome do novo disco, que já conta com Living On The Run lançada como primeiro single nas principais plataformas.
O Som…
O FM é a banda perfeita pra amantes de Whitesnake, Foreigner, Journey e Styx, soando pesado quando necessário, o grupo não abre mão de melodias cativantes, refrões grudentos e climas etéreos capazes de provocar saudosismo na galera 40+. Infelizmente, Chris Overland nos deixou em Agosto de 2023. Seu irmão Steve segue trabalhando com a banda, além de outros projetos como o Overland (que lançou 6 discos entre 2008 e 2023), todos aclamados pelos fãs de Aor.
