Aproveitando a celebração dos 30 anos do primeiro show do Paradise Lost no Brasil (que ocorreu durante uma edição do Monsters of Rock), onde eu estava presente, decidimos trazer essa pauta para o “Bom ou bomba?” dessa semana.

Com uma carreira tão extensa, que conta com 16 álbuns, é normal que a base de fãs tenha seus preferidos – e os seus menos preferidos, como no caso desse que é o sétimo álbum da banda, lançado em 1999. O polêmico “Host“. Amado por muitos, odiados por tantos… mas por quê? Vamos trazer um pouquinho da história desse petardo! Dá um play ai no som e vamos lá!

Quando se fala em Paradise Lost, a primeira imagem que vem à mente é de uma banda pioneira do doom e gothic metal (e foca nessa informação aqui!), com riffs pesados, climas melancólicos e uma atmosfera densa que marcou uma geração inteira. Mas, em 1999, a banda britânica resolveu trilhar um caminho inesperado, lançando Host, um álbum que dividiu fãs e críticos e até hoje é visto como o trabalho mais controverso de sua carreira. Mas… calma lá. Vamos avaliar o contexto da época, da banda, suas influências e evolução musical.

Contexto da época: fim dos anos 90 e a necessidade de mudança

Nos anos que antecederam Host, o Paradise Lost vinha explorando sonoridades cada vez mais acessíveis, saindo gradualmente do doom metal puro de álbuns como Gothic e Icon, para algo mais melódico e influenciado pelo rock alternativo, como em Draconian Times (1995) e One Second (1997).

O fim dos anos 90 também foi um período de experimentos eletrônicos no rock e metal. Bandas como Depeche Mode, The Cure, e até grupos de metal industrial estavam moldando a cena com sintetizadores, batidas programadas e produção digital. Foi nesse cenário que o Paradise Lost decidiu dar um salto ainda mais ousado — abraçar de vez uma das facetas de suas influências (a música gótica) e deixar o som mais pesado em segundo plano.

Essa mudança culminou em Host, um álbum profundamente atmosférico, marcado por sintetizadores, batidas eletrônicas e uma estética quase darkwave. Era um passo lógico na evolução sonora da banda, mas também uma ruptura com tudo que os fãs esperavam.

As guitarras distorcidas, marca registrada do Paradise Lost, haviam sido quase completamente substituídas por sintetizadores etéreos, programações eletrônicas e climas minimalistas. O peso tradicional deu lugar a uma sonoridade que lembrava Depeche Mode, New Order e até bandas do synth-pop dos anos 80. Para uma base de fãs que idolatrava a fase doom/gothic metal, isso soou como uma traição.

Na época, a recepção foi dura: Alguns acusaram a banda de ter “abandonado o metal” em busca de popularidade. Outros simplesmente não conseguiram se conectar com o novo estilo, sentindo falta da agressividade que os primeiros álbuns ofereciam. Host ganhou rapidamente a fama de álbum mais polêmico da carreira do Paradise Lost, sendo chamado por muitos de “o disco sem guitarras”.

O que muitos não perceberam na época — e que hoje se torna mais evidente — é que Host não foi apenas uma mudança de estilo, mas sim uma evolução artística corajosa.

Aqui estão alguns motivos que tornam esse álbum especial:

1. Atmosfera emocional única

Se os primeiros álbuns eram marcados pelo peso das guitarras, Host mergulha na melancolia emocional de uma forma diferente. As texturas eletrônicas criam um clima sombrio, elegante e introspectivo, que transmite tristeza e beleza em igual medida. Músicas como So Much Is Lost e Nothing Sacred mostram a capacidade da banda de contar histórias através de camadas sonoras, provando que emoção não depende de distorção.

2. Nick Holmes e uma nova fase vocal

O vocalista Nick Holmes, conhecido pelos guturais do início da carreira e pelo canto grave da fase gótica, assume aqui um estilo mais contido e suave, que combina perfeitamente com a proposta do álbum. É uma performance intimista, quase sussurrada em alguns momentos, que amplia o espectro emocional do Paradise Lost.

3. Um álbum à frente de seu tempo

O mais curioso é que, hoje, muitos álbuns de metal e rock alternativo incorporam elementos eletrônicos sem causar escândalo. Na época, porém, Host estava anos à frente, experimentando uma fusão que só se tornaria comum muito tempo depois. Ouvir esse disco agora é perceber como ele previu tendências que só se consolidariam nos anos 2000 e 2010, tornando-o uma peça visionária no catálogo da banda.

4. Coragem de se reinventar

Mudar radicalmente de estilo exige coragem — especialmente para uma banda já consolidada. Ao lançar Host, o Paradise Lost demonstrou que não tinha medo de se arriscar artisticamente, mesmo sabendo que perderia parte de seu público. E esse espírito de reinvenção é, na verdade, o que mantém a banda relevante até hoje. Host é o símbolo máximo dessa ousadia.

No momento de seu lançamento, Host foi recebido com resistência e incompreensão. Mas o tempo tem sido generoso com esse álbum. Hoje, ele é redescoberto por uma nova geração de ouvintes e visto como um clássico cult, respeitado por sua ousadia e pela beleza das composições.

Sobre as músicas

O disco se abre com “So Much Is Lost”, talvez a faixa mais icônica desse período, com um clima synthpop, como muitas das influências da banda. É uma canção sobre perda e mudança, que prepara o terreno para a jornada emocional que vem a seguir. Na sequência, “Nothing Sacred” traz uma energia mais pulsante, questionando crenças e valores em meio a uma batida eletrônica envolvente — uma das músicas mais acessíveis do álbum e ainda hoje lembrada pelos fãs mais abertos à fase experimental.

Ao longo do disco, a melancolia se aprofunda em faixas como “In All Honesty”, marcada por vocais suaves e uma construção delicada que fala sobre autoaceitação e verdade emocional, e “Harbour”, talvez uma das mais emocionais do trabalho, onde a letra evoca a busca por um refúgio em meio ao caos interno. Já “It’s Too Late” traz uma atmosfera mais densa, quase sombria, refletindo sobre arrependimentos e decisões irreversíveis, um tema recorrente na escrita de Nick Holmes.

Há também momentos mais ritmados, como “Made the Same”, que mistura uma levada quase industrial com uma crítica à conformidade social, mostrando que, mesmo em sua fase eletrônica, a banda não deixou de provocar reflexões profundas.

No conjunto, Host soa como um diário emocional em forma de música. É um álbum que pede para ser ouvido como uma experiência contínua, onde cada faixa se conecta à próxima, criando um clima introspectivo e atmosférico.

O Paradise Lost sempre foi uma banda que não se contenta em repetir fórmulas, e esse disco representa exatamente isso: a capacidade de se reinventar sem medo de críticas. Se você ainda não ouviu  — ou se o descartou na época — talvez seja hora de dar uma nova chance. Prepare-se para um mergulho em uma atmosfera sombria, eletrônica e emocional que mostra um lado diferente, mas igualmente fascinante. Host é sim, BOM e muito BOM!

E você, o que acha desse álbum??