Poucas bandas do metal tiveram uma ascensão tão rápida e criativa quanto o Celtic Frost. Nascidos das cinzas do Hellhammer, Tom G. Warrior e Martin Ain entregaram álbuns que ajudaram a moldar o metal extremo nos anos 80. Morbid Tales (1984) e To Mega Therion (1985) são considerados clássicos inquestionáveis, enquanto Into the Pandemonium (1987) expandiu fronteiras, incorporando elementos góticos, industriais e até quase pop.
Apesar do reconhecimento da crítica, que o apontou como um disco à frente de seu tempo, Into the Pandemonium foi também o estopim de problemas sérios. As tensões entre os músicos, as dificuldades financeiras e a constante pressão da gravadora minaram o grupo. Após a desgastante “One in Their Pride Tour”, que ainda contou com Ron Marks como segundo guitarrista, o Celtic Frost acabou se dissolvendo.
Depois de um período de hiato, Thomas Gabriel Fischer decidiu ressuscitar a banda, encorajado pelo
produtor Tony Platt. O guitarrista Oliver Amberg (ex-Coroner) entrou para o time, junto com o baixista Curt Victor Bryant e o baterista Stephen Priestly, que já havia gravado Morbid Tales. A influência de Amberg foi determinante na nova sonoridade, cada vez mais inclinada ao glam metal que dominava os EUA na época. Some-se a isso o visual chamativo e alinhado ao estilo, estimulado pela então namorada de Fischer, Michelle Villanueva, e o Celtic Frost estava irreconhecível.
O resultado foi Cold Lake (1988), um disco que desagradou profundamente os fãs, causou constrangimento generalizado e até hoje é lembrado como um dos maiores equívocos da história do metal.
1-“Human 2 (Intro)”
Uma introdução sem função, fria e descartável. Nada lembra as atmosferas soturnas do passado.
2-“Seduce Me Tonight”
Primeira faixa completa e já um choque. Um hard/glam genérico, com letra pífia e refrão constrangedor. Fischer soa deslocado, tentando encarnar um vocalista de Sunset Strip.
3-“Petty Obsession”
Ritmo engessado e sem peso. A tentativa de soar sensual cai no ridículo, e a guitarra parece saída de qualquer demo descartável de hair metal.
4-“(Once) They Were Eagles”
O momento “menos ruim” do álbum. Um riff até mais encorpado aparece, mas falta identidade. Poderia ser de qualquer banda mediana dos anos 80.
5-“Cherry Orchards”
O ponto mais baixo. O refrão chiclete, a letra ridícula e o videoclipe desastroso transformaram a faixa em um ícone negativo. Um dos maiores vexames da carreira de qualquer banda consagrada.
6-“Juices Like Wine”
Glam metal em modo automático. Tentativa de ser “sedutora”, mas só entrega constrangimento. Fischer parece completamente deslocado na linha vocal.
7-“Little Velvet”
Sem peso, sem inspiração, sem força. Uma canção esquecível que não teria destaque nem em bandas de segunda linha da cena glam.
8-“Blood on Kisses”
Estrutura previsível, refrão frouxo e solos inexpressivos. Um puro filler.para encher linguiça. Tão ruim que nem os fervorozos fãs de Hard Rock gostam.
9-“Downtown Hanoi”
Tentativa de soar moderno e urbano, mas acaba sendo repetitiva e cansativa. Refrão irritante e produção plástica aumentam a sensação de artificialidade.
10-“Dance Sleazy”
Como o nome já denuncia, uma faixa que tenta ser “safada” e “descolada”. O resultado é constrangimento puro.
11-“Roses Without Thorns”
Uma balada insossa e sem impacto. Fecha o disco como um suspiro fraco, um anticlímax meloso que não condiz com a trajetória da banda.
Reação, arrependimento e esquecimento
Apesar da recepção fria na Europa, Cold Lake chegou a ter um certo desempenho comercial nos Estados Unidos, graças ao boom do glam. Mas esse relativo sucesso não durou e tampouco resgatou a imagem da banda. Para os fãs antigos, o Celtic Frost havia simplesmente se vendido.
O pior é que a guinada não foi um acidente: Fischer admitiu que, feliz por ter músicos realmente engajados ao seu lado, relaxou demais e perdeu o controle artístico. Isso permitiu que Amberg conduzisse o som para territórios cada vez mais glam, enquanto o visual colorido reforçava a traição estética.
Até hoje, Tom G. Warrior admite sentir vergonha de Cold Lake. Ele não foge das perguntas sobre o disco, mas o mantém deliberadamente fora de catálogo — inclusive ignorando sua existência quando a discografia foi relançada em 1999.
Veredito final: Bom ou bomba?
Cold Lake não é apenas um erro de percurso. É uma bomba de proporções históricas, uma mancha que quase sepultou uma das bandas mais criativas do metal. Um disco em que tudo soa artificial: as letras, os riffs, a estética e até a performance.
Em resumo, Cold Lake é um dos piores álbuns já lançados por uma banda de renome. Um registro que até o próprio autor prefere esquecer — e que os fãs só lembram como exemplo de como a busca por tendências passageiras pode arruinar uma obra sólida.
