Que as mulheres ocupavam/ocupam um papel de destaque na cena hard rock oitentista pouca gente duvida. É inegável porém, que o papel feminino muitas vezes ficou relegado à histórias pouco louváveis, com o universo feminino sendo retratado, salvo rara exceções, de maneira misógina e machista. A objetificação era tanta que bandas consagradas (né Mötley Crüe?!) chegavam ao ponto de colocar mulheres seminuas no palco, garantindo assim a atenção dos adolescentes espinhentos transbordantes de testosterona da época. Sem entrar em debates do tipo “certo ou errado”, a partir do momento que havia consenso entre as partes, sem nada que caracterizasse abuso por parte dos organizadores ou ofendesse as participantes do show estava tudo bem. Partindo desse pensamento, a indústria musical americana viu a necessidade de promover bandas com vocais femininos, como Vixen, Robin Beck, Lita Ford, Fionna Apple e a vocalista que com seu sobre nome batizou a banda que iremos conhecer hoje: Sandi Saraya.

A vocalista, em 1987, juntamente com o tecladista Gregg Munier compôs algumas canções que seriam lançadas posteriormente em seu disco de estréia. Inicialmente chamado de Alsace Lorraine, a banda fez uma pequena excursão por Los Angeles, e por sugestão do próprio tecladista adotou o nome Saraya, pois segundo Gregg, Sandi era o rosto da banda. Sua beleza logo chamou a atenção das gravadoras, e assim a Polygram, após assinar contrato com a banda, decidiu investir para que Sandi fosse o equivalente feminino do Bon Jovi, ou seja, um símbolo sexual que causasse tanto frisson nos meninos quanto Jon causava nas meninas. O fato de Sandi também ser de New Jersey tornava a comparação entre os executivos inevitável. Foi nesse cenário que em 1989, Tony “Bruno” Rey (ex guitarrista do Danger Danger) foi adicionado à banda, juntamente com o baixista Gary Taylor e o baterista Chuck Bonfante, e gravaram seu primeiro disco, autointitulado.

O disco em questão, rendeu 2 singles de sucesso: Love Has Taken Its Toll e Back To The Bullet, atingindo respectivamente as posições 64 e 63 da Billboard. Apesar do sucesso, a ganância da gravadora falou mais alto e no final de 1989 a cantora gravou (como projeto solo) a canção Timeless Love, para o filme Shocker – 100.000 Volts de Terror, atingindo uma modesta 85ª posição nas paradas. A canção composta pelo competentíssimo Desmond Child, contava ainda com Steve Lukather (Toto) nas guitarras.

Após algumas mudanças na formação, a banda gravou seu segundo disco, When The Blackbird Sings, em 1991. A sonoridade, porém, mais orientada às guitarras, deixou Gregg Munier instatisfeito com o resultado final, ocasionando assim o encerramento precoce das atividades do grupo, deixando Sandi e sua banda num imerecido ostracismo. Gregg Munier faleceu em fevereiro de 2006 e desde então, Sandi tentou uma volta para o Firefest em outubro de 2010, porém após diversos problemas com a equipe do festival, o Saraya acabou na geladeira mais uma vez.

O Som… 

Se não reinventa a roda também não compromete. A verdade é que Sandi canta muito bem, as músicas são boas, com uma pegada aor/hard gostosa de escutar, e se não fosse a tentativa de uma gravadora modificar seu som e torna-la objeto de desejo do público masculino, poderia facilmente ter uma carreira mais consistente no hard rock.

Uma pena que pouca gente, inclusive do meio hard, conheça o som do Saraya. O fato é que bandas com vocais femininos sofrem muito com o preconceito e o já citado machismo da cena, o que faz com que bandas como essa tenham vida curta e suas músicas não sejam conhecidas do grande público e não atinjam o mainstream como deveria. Indicado pra fãs de Vixen, Bon Jovi, Richard Marx (fase hard rock) e Lita Ford.

Discografia:

  • 1989 – Saraya
  • 1991 – When The Blackbird Sings