ENTRE O BRILHO TÉCNICO E A EXPLOSÃO DE POLÊMICAS.

O último álbum da formação clássica da banda divide opiniões entre fãs: virtuosismo técnico ou perda de identidade?

 

Um Álbum Nascido Em Um Cenário De Tensão

Após o impacto de Angels Cry (1993) e a ousadia cultural de Holy Land (1996), o Angra parecia consolidado como um dos nomes mais criativos do metal mundial. Porém, por trás da vitrine, o ambiente era conturbado: havia divergências internas e pressões externas, além do desgaste natural de turnês intensas e escolhas de carreira complexas. Fireworks foi gravado em Londres, com Chris Tsangarides assumindo produção, gravação e mixagem — uma escolha que indicava, desde o início, uma nova direção estética, longe da brasilidade e da experimentação dos álbuns anteriores.

 

A Escolha Estética Que Mudou Tudo:

Enquanto Holy Land misturava metal com elementos típicos brasileiros, teatralidade e arranjos elaborados, Fireworks segue por uma via mais direta — um heavy/power metal limpo, concreto e aderente ao padrão europeu.

 

Foto do encarte do disco – Reprodução de internet

 

Para quem considera o álbum “descaracterizado”:

– há a sensação de abandono da identidade que diferenciava o Angra;

– a estética mais cautelosa e “segura” é vista como uma rendição às pressões do mercado;

– a mudança representa, para muitos, um retrocesso criativo.

 

Para quem defende o álbum como injustiçado:

– o domínio técnico da banda está evidente — arranjos precisos, músicos inspirados, performances afiadas;

– a clareza e definição sonora revelam uma nova maturidade artística;

– a proposta mais sóbria permite que a técnica e o peso falem por si.

 

Angra e Bruce Dickinson durante a Fireworks French Tour 1999 – Reprodução de Internet

 

Produção cristalina… ou clínica demais?

A mixagem de Tsangarides privilegia clareza, equilíbrio e definição: guitarras, baixo e bateria ganham destaque, criando uma sonoridade polida e coesa. Para alguns, esse é exatamente o acerto: o disco envelheceu bem, com qualidade técnica e produção sólida. Para outros, o preço foi alto: faltou textura, calor e aquele tom “vivo”, orgânico: a aura épica e emocional que muitos associavam aos trabalhos anteriores se perdeu.

Faixas que geram amor e ódio:

As diferenças entre quem ama e quem rejeita Fireworks às vezes estão nas próprias músicas.

Entre as mais celebradas:

Lisbon: dramática e intensa, marcada por vocais expressivos e arranjo impactante.

Wings of Reality: veloz, técnica e exemplar dentro do power metal.

Gentle Change: introspectiva, sensível, vista como uma joia escondida.

Rainy Nights: melancólica, atmosférica e elegante.

Entre as mais questionadas:

Speed: considerada por muitos como genérica ou excessivamente direta.

Fireworks (faixa-título): divide opiniões por sua abordagem mais convencional.

Petrified Eyes: admirada por uns, esquecida por outros, raramente causa consenso.

 

 

O peso simbólico da despedida:

Fireworks representa o fim de uma era: foi o último álbum do Angra com André Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori juntos. O que veio depois: mudanças na formação, uma nova fase, novos caminhos. Por isso, o disco carrega simbologias fortes,de despedida, de ruptura, e isso amplia a carga emocional ou crítica de quem o revisita.

Reavaliações com o tempo:

Com os anos, Fireworks passou por um processo interessante: muitas pessoas que o rejeitaram no passado revistaram o disco com outros ouvidos e reconheceram sua força. Livre da sombra dos dois primeiros álbuns, ele ressurge como uma obra madura, técnica e, em muitos momentos, injustiçada.

Conclusão:

Um disco que provoca, irrita e encanta, às vezes ao mesmo tempo.

Fireworks é um desses discos que desperta paixões opostas em ouvintes apaixonados pela banda. Ele carrega virtuosismo, precisão e momentos de brilho, mas também traz decisões estéticas que chocam com expectativas criadas pelos trabalhos anteriores. Bom ou bomba? Depende do ponto de vista de quem escuta — e do que espera do Angra. Mas há um consenso: é um álbum que não passa despercebido. E isso, por si só, já lhe confere um lugar entre os trabalhos mais importantes e debatidos da história do metal brasileiro.

 

 

Ficha técnica:

Álbum: Fireworks

Artista: Angra

Lançamento: 14 de julho de 1998

Gravação: Londres, abril a junho de 1998

Gênero: Heavy metal / Power metal / Progressive metal

Duração: 57:32

Gravadora: Lucretia / Steamhammer

Produção: Chris Tsangarides

Formação:

André Matos – vocais e teclados

Kiko Loureiro – guitarras

Rafael Bittencourt – guitarras

Luís Mariutti – baixo

Ricardo Confessori – bateria

Faixas:

1. Wings of Reality

2. Petrified Eyes

3. Lisbon

4. Metal Icarus

5. Paradise

6. Mystery Machine

7. Fireworks

8. Extreme Dream

9. Gentle Change

10. Speed

Obs: Em algumas edições (como a japonesa) existe uma faixa bônus chamada Rainy Nights.

Spotify para ouvir o álbum “ Fireworks”:

Por Cintia Seidel.

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