“Tanta mudança que você quer para o mundo, mas está disposto a mudar a si mesmo?“
NOTA: 4/5.
Quando Andréas, Igor e Paulo escolheram Derrick Green como novo vocalista do Sepultura, declararam para o mundo a sua intenção de se desvencilhar da identidade (com tudo de bom e de ruim) de Max Cavalera. Obviamente, convencer os fãs de que Derrick de que esta escolha era a certa, seria uma tarefa tão difícil quanto qualquer um dos doze trabalhos de Hércules. Na verdade, ninguém, nem mesmo a banda se sentia cem por cento segura dessa decisão, porém, os caras deram a face às tapas. Apostaram e mantiveram a convicção, apesar das desconfianças, dos questionamentos e até dos ataques do próprio Max – que durante muito tempo se importou mais com sua ex-banda do que com sua carreira solo.
Os caras fizeram uma escolha, assumiram as consequências e o tempo os abençoou. Derrick não apenas se encaixou, mas também ajudou a redefinir o som da banda. Foi um processo lento e dolorido, mas o grupo encontrou formas de se adequar e suportar as pressões, que vinham de todos os lados. Essa capacidade do grupo de resistir, nadando contra a maré e suportando a todos os tipos de ataques, foi o fator preponderante para que conseguissem se reencontrar e de ser reencontrado pelos fãs e pela indústria da música.
Hoje, nove álbuns e 23 anos depois, a banda retorna com Quadra. Um álbum cujo conceito diz mais respeito a forma do que ao conteúdo. Não há uma história sendo contada linearmente, mas as 12 canções do disco se dividem em 4 blocos de 3 faixas e cada uma enfatiza uma faceta da banda. O PRIMEIRO bloco é dedicado ao Thrash Metal que consagrou a banda em Beneath The Rimains; o SEGUNDO, ao som percussivo-tribal que remete ao Roots; o TERCEIRO, ao experimentalismo de Chaos A.D. só que mais progressivo; e o QUARTO, às composições mais sinfônicas e complexa.
Individualmente, todos os músicos têm mérito, mas uma teoria que comecei a rascunhar por ocasião do álbum anterior, parece se confirmar neste álbum: desde que perdeu a segunda guitarra, a banda simplesmente optou por simplificar sua música, passando a compor em função de uma única guitarra e, consequentemente, negligenciando os rombos escancarados nas execuções ao vivo de suas músicas antigas. Apesar de demonstrar energia nas performances, fora do palco o grupo parecia ter perdido o tesão. Nesse sentido, surge a figura do produtor Jeans Bogren, bastante conhecido por ressuscitar algumas bandas famosas e queridas por nós, brasileiros.
Com o Sepultura não foi diferente. Ele conseguiu chacoalhar os caras e extrair algo que a banda havia perdido: a motivação. Com isto não estou dizendo que a banda não tem mérito na composição da obra, mas sim, que o mérito deve ser dividido com o produtor. A técnica e a pujança sempre estiveram lá, mas Bogren soube como reativá-la. E o fez com maestria. Quadra supera Machine Messiah mais pela pompa do que pela música, mas mantém a banda num nível de alta performance. E com isto, acredito que o Sepultura teria voltado a ser cabeça de cartazes dos grandes festivais pelo mundo, não fosse pelos efeitos devastadores do “novo” Corona Vírus.
Com Quadra, o Sepultura está nova e finalmente pronto pra reocupar o seu lugar no grupo das grandes estrelas da música agressiva. Infeliz ou felizmente terá nova oportunidade para se reinventar quando os riscos de contaminação forem mínimos. Torçamos para que voltem melhores e do tamanho do nosso desejo de vê-los tocar ao vivo.
Eu, particularmente não citarei destaques neste álbum. As composições têm natureza muito particular e cada uma pode te tocar de alguma forma (ou não!). Mas, para ambos os casos é necessário que você permita.
A formação que gravou o disco conta com Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr (baixo) e Eloy Casagrande (bateria). A banda contou com a participação especial de Emmily Barreto (vocal, Far From Alaska) na faixa “Fear, Pain, Suffering, Chaos“.
>> Texto publicado originalmente no blog Esteriltipo.