A noite de sábado no Carioca Clube, em São Paulo, teve como atração principal a banda holandesa Asphyx, um dos ícones do death/doom mundial. Apesar da chuva ter dado uma trégua no fim da tarde, a casa não estava tão cheia, o que pode ser atribuído ao dilema de um paulistano saturado de opções de shows em um curto espaço de tempo. Que problema bom de ter. Mas quem estava lá, sem dúvida, viveu uma tremenda experiência proporcionada pela produtora Estética Torta, que 4 dias depois traz também o Black Metal Norueguês do Satyricon à cidade.

Evil Cult e Troops of Doom: Aquecimento

O fim de tarde começou com os gaúchos do EvilCult, que infelizmente não tiveram muita sorte em termos de público. Quase ninguém estava na casa quando subiram ao palco, mas eles seguiram com a cabeça erguida, fazendo seu “Speed Black’n’Roll”, melhor definição que conseguimos para o som. Recomendado para quem é fã de Whipstriker, pois vai na mesma linha. Fala de diabo, obscuridade, tudo o que a gente aprecia. O vocalista Lucas From Hell ostentava uma camisa do Hellripper, não deixando dúvidas de onde vem. E não faltou reconhecimento, pois os membros do Asphyx estavam ali na plateia para apoiar. A humildade dos holandeses já foi palpável desde esse momento.

A segunda banda, Troops of Doom, liderada pelo lendário guitarrista Jairo Guedz, só engajou os presentes lá pelo meio da apresentação, especialmente quando começaram a tocar clássicos do Sepultura como “Morbid Visions” e “Bestial Devastation”. Ali o público, que já era consideravelmente maior, começou a agitar de verdade. O comentário geral foi que ao vivo o som do Troops superou o de estúdio, com uma energia contagiante e bastante afinada. Foi um bom esquenta para o que estava por vir.

Asphyx: Aclamado e Insano

Ali só tinha fã. Quando o Asphyx subiu ao palco, a energia do Carioca Clube finalmente explodiu. O show começou com “Vermin“, do primeiro disco, e logo em seguida já deslanchou para “Botox Implosion“, do último álbum, “Necroceros“. A transição entre clássicos e faixas mais novas funcionou perfeitamente, mantendo a intensidade lá em cima. Logo depois de “Asphyx”, onde já estava todo mundo agitando que nem louco, “Deathhammer” foi realmente uma martelada no peito. 

O vocalista Martin van Drunen, ex Pestilence, fez questão de interagir com os presentes o tempo todo. Em tempo: não faltava camisa do Pestilence no público. Van Drunen, esse de camisa da banda brasileira Divulsor, até arriscou um português, mostrando simpatia e carisma. Fez uma menção ao Pele (assim sem acento mesmo), chamando-o de maior jogador da história do futebol e dedicando a ele “Nameless Elite”.

O guitarrista Paul Baayens, que claramente nunca ouviu Black Sabbath (contém ironia), parecia ser a pessoa que estava se divertindo mais naquela noite. Durante o show ele agitava sem parar, filmava o público, sempre com um sorriso no rosto, como se estivesse vivendo o melhor momento de sua vida. Dava gosto de ver. A energia e o peso, ora arrastado, ora veloz, transformou o público numa marionete na mão dos caras.

O show seguiu com grandes clássicos, incluindo “The Rack“, mas foi na reta final, com a versão reduzida de “Last One on Earth“, que o Carioca Clube se transformou em uma verdadeira catástrofe sonora, no melhor dos sentidos. Faltou público, mas não energia.

TEXTO POR JULIANA DE ALMEIDA E FOTOS POR GUILHERME SORBELLO