“Muito em breve entre os grandes”

Pra quem ainda não conhece, o LOVEBITES é uma banda de power metal japonesa formada só por garotas, mas não se engane com o visual caprichado, pois elas são muito mais que apenas isso. O conjunto teve seu início em 2016 e já conta com uma discografia respeitável: dois EPs e cinco full-length (sendo dois ao vivo), seguramente se continuar no caminho atual, vai logo estar entre os grandes nomes do estilo e competindo de igual para igual, pois sobra talento e competência para o LOVEBITES, além é claro de beleza e elegância.

Five of a Kind”, segundo registro ao vivo das moças, foi gravado na Zepp DiverCity, Tóquio em 21 de fevereiro de 2020 e foi lançado via selo Victor Entertainment nos formatos duplo CD e Blu-ray, que é muito bem vindo, pois existem horas que é preciso VER para CRER no que o instrumental do LOVEBITES é capaz de fazer. A banda é formada pela vocalista Asami, pelas guitarristas Midori e Miyako, e pelas responsáveis pela criação do conjunto, as ex- Destrose, Miho e Haruna, baixista e baterista respectivamente.

Outro ponto muito positivo é que as músicas do LOVEBITES são todas em inglês, o que coloca a banda em um patamar de competitividade muito interessante, tanto que já se apresentou no palco principal do festival Bloodstock Open Air em 10 de agosto de 2018.

O último álbum de estúdio chamado “Electric Pentagram“, lançado no final de janeiro desse ano, que conta com canções muito consistentes, proporcionou uma evolução técnica que pode ser comprovada em “Five of a Kind”, com as integrantes esbanjando confiança e muito talento em um set com 19 faixas.

Os destaques? Todas as músicas e será gratificante poder pontua-las, a começar pela faixa de abertura, “Thunder Vengeance” com seus rifes cortantes e uma bateria sendo espancada sem piedade por Haruna. A vocalista Asami encaixa as frases em espaços apertados com uma facilidade absurda para quem não esta cantando em seu idioma natal. As quebras nos andamentos são um convite aos headbangers e o show só está no início.

Holy War” começa com guitarras gêmeas, uma característica da banda, e um andamento acelerado. Note que ambas as guitarristas usam e abusam de ‘shreds’ em seus rifes dando uma beleza na harmonia sensacional. Novamente a ponte e o refrão são muito bem encaixados por Asami, que dessa vez mostra mais alcance vocal. As trocas nos solos são magníficas com tudo perfeito e direito a uma passagem mais longa no melhor estilo ‘guitar twins’, que faria o Judas Priest ter orgulho.

Don’t Bite The Dust” é puro hard rock com Asami se mostrando muito versátil e com aquele ‘algo mais’ que só as cantoras pop possuem. Os solos são mais soltos pra combinar com a música. O power melódico volta com tudo em “Rising”, onde  a cozinha se destaca com uma bela linha de baixo de Miho e uma bateria progressiva. Preciso ressaltar o novo show das duas guitarristas com solos alternados e gêmeos, como se fosse a coisa mais simples do mundo.  

Raise Some Hell” é pé na tábua e velocidade com muita melodia nos arranjos, mas com um peso de trem desgovernado. Os solos dessa vez repletos de wah-wah tornam a faixa muito especial. “Break The Wall” é Destruction puro, peso e velocidade, com backings fortes, um verdadeiro convite para quebrar o pescoço de tanto bangear, um tijolo. Na sequencia um dos hits da banda, a canção “Shadowmaker”, que é muito bem recebida pela plateia, pois é daqueles power metal cheio de ganchos e melodia que tanto faz sucesso por lá, o Angra que o diga. A versão ao vivo é bem mais pesada que a de estúdio e a segurança que as moças mostram na sua execução é visível. Todas se destacam, mas para quem adora guitarras gêmeas a faixa é irresistível.

Um solo de piano te coloca na atmosfera de um concerto de música clássica e serve de intro para “Swan Song”, que é uma faixa que conta com um piano muito bem inserido na melodia. Os rifes incisivos estão lá, é claro, mas a relação do vocal de Asami com os teclados torna a faixa muito diferenciada, linda música. Dedilhados apresentam “Addicted” que ganha força com um rife poderoso e uma cozinha que garante a artilharia pesada.

Dancing with the Devil” merece um capitulo a parte e ele se chama Asami. A cantora toma conta do palco, cantando e dançando, como uma diva do Pop ou R&B, com elegância na pronúncia das frases, uma voz dominante e cheia de felling. Se tivesse que escolher uma música do LOVEBITES para tocar nas rádios mais tradicionais, eu não pensaria duas vezes em escolher essa, pois tem um instrumental envolvente e uma estrela no microfone. “Signs Of Deliverance” trás o power de volta com pontes e refrão muito bem elaborados e aquela sensação de que um rolo compressor pode passar por cima de você a qualquer momento. O solo com as guitarras se espelhando mais uma vez chama a atenção, é como se as duas tivessem nascido para tocar juntas, se complementar. “M.D.O.” é pancadaria pura e velocidade alternando com pequenas quebradas. O refrão é simples e fácil de acompanhar, o que ajuda na participação da plateia, que faz sua parte com competência.

Golden Destination” tem aquela levada positiva que algumas músicas do Helloween possuem e um ritmo muito intenso. A cozinha composta por Miho e Haruna não dão um segundo de trégua, e até por isso Midori e Miyako conseguem desfilar um incontável número de rifes e solos com muita tranquilidade. “When Destinies Align” possui um clipe muito bacana (se ainda não assistiu, precisa e vou deixar o link no final dessa resenha) e é uma música com uma letra muito forte e a banda parece que sente isso. Se eu tiver que indicar uma única música para apresentar o LOVEBITES para alguém, que não conhece nada a respeito das moças, eu indicaria essa sem hesitar. Nessa faixa algo mágico acontece e é impossível apontar um ou dois destaques, pois TODAS brilham com uma intensidade imensurável. A melodia é contagiante e solos, ora alternados, ora gêmeos, ganham uma progressão de tirar o fôlego.

Para abrir o bis uma intro cinematográfica chamada “The Awakening” com o público participando ativamente e preparando o clima para mais um tijolo, “The Hammer Of Wrath” com seus andamentos intrincados e muito rápidos. Um singelo piano faz o fundo para que Asami recite as frases de “Edge Of The World” e mostre uma pouco mais do seu alcance vocal e versatilidade. Até a metade você se convence que se trata de powerfull ballad, mas esse não é o estilo delas. O peso começa a ganhar força e intensidade, sem falar do novo show das guitarristas. “We The United” fecha o show em clima de missão cumprida, de festa e de certeza que esse trabalho não é apenas mais um ou será esquecido em breve, muito pelo contrario.

Sabe aquela sensação boa de ouvir uma banda relativamente nova fazendo um estrago no bom sentido com muita técnica, muito talento, composições sólidas e perfeccionismo? Pois é. Dá gosto ouvir (e ver) esse trabalho do LOVEBITES. E quase parafraseando o que a vocalista Asami costuma dizer no começo e no final dos shows: “They are LOVEBITES, and YES, they play HEAVY METAL!!”.

(Créditos das fotos: Kitetsu Takamiya)

Nota 4,5/5

Tracklist:

1.Thunder Vengeance

2.Holy War

3.Don’t Bite The Dust

4.Rising

5.Raise Some Hell

6.Break The Wall

7.Shadowmaker

8.Piano Solo (Etude Op.10, No.12)

9.Swan Song

10.Addicted

11.Dancing With The Devil

12.Signs Of Deliverance

13.M.D.O.

14.Golden Destination

15.When Destinies Align

16.The Awakening

17.The Hammer Of Wrath

18.Edge Of The World

19.We The United

LOVEBITES:

Asami (vocal)

Midori (guitarra)

Miyako (guitarra, piano)

Miho (baixo)

Haruna (bateria)

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