Olá, pessoal, tudo bem?
Aqui é a Edi Fortini com a coluna “Além do óbvio” dessa semana. O nosso querido Biel Furlaneto gentilmente me emprestou essa casinha tão importante e querida por todos nós. Espero que vocês estejam curtindo as edições. Eu, particularmente, adoro essa seção e por isso quis vir aqui falar sobre uma banda que há décadas é uma grande influência para mim: o Paradise Lost.
E não é uma missão fácil fazer jus aos textos do Biel e nem falar do nosso querido “PL”, mas tentarei fazer o meu melhor e espero que gostem! 🙂
Bora lá?
Um pouco do básico – um resumo da história
Formada em Halifax, na Inglaterra, em 1988, Paradise Lost é amplamente reconhecido como um dos grupos pioneiros do gothic metal, sendo responsável por expandir as fronteiras do metal extremo ao incorporar elementos sombrios, melancólicos e até eletrônicos à sua sonoridade. Com discos como Gothic (1991), Shades of God (1992) e Icon (1993), o grupo pavimentou um caminho próprio entre o doom/death metal e o pós-punk gótico, influenciando profundamente toda uma geração de bandas que buscavam equilibrar peso e atmosfera. O vocal característico de Nick Holmes e as guitarras densas de Greg Mackintosh se tornaram marca registrada de um som que sempre ousou evoluir — sem perder o senso de identidade melancólica que acompanha a banda desde os primeiros riffs.
Ao longo de mais de três décadas, o Paradise Lost não apenas sobreviveu às mudanças de cenário musical, mas também foi capaz de reinventar-se sem perder a alma. Do flerte com a música eletrônica em Host (1999) ao retorno ao peso gótico em álbuns como The Plague Within (2015) e Obsidian (2020), a banda se manteve relevante, desafiadora e artisticamente íntegra.
Sua importância vai além da criação de um subgênero: eles foram — e ainda são — a voz da desilusão elegante, do romantismo trágico e da introspecção profunda que moldaram a estética gótica moderna dentro do metal. Paradise Lost é, acima de tudo, um lembrete de que a dor, quando bem expressa, pode ser bela. A atual formação conta com Nick Holmes (vocal), Gregor Mackintosh e Aaron Aedy nas guitarras, Steve Edmondson (baixo) e Guido Zima (bateria). Ao todo, lançaram 16 álbuns e temos um previsto para esse ano. Ontem, a banda anunciou a saída do baterista Guido Zima da banda, o que será que espera o futuro do Paradise Lost?

Ao pensar nesse nome, quais músicas te vêm à mente?
As I die? Say just words? Forever Failure? Icon? Gothic? Embers Fire?
Ufa… são muitas! Que discografia mais parruda e bela que a banda tem, não é mesmo?
Não vamos falar de nenhuma delas! Haha
Especialmente porque a banda tem uma discografia rica, com várias faixas que passaram despercebidas pelo grande público, mas que são incrivelmente atmosféricas, densas e bem trabalhadas, vou citar aqui algumas músicas tão importantes quanto essas, mas que talvez não sejam tão óbvias para alguns! Aproveito para convidá-los a deixar nos comentários outras músicas que pra vocês também vão além do óbvio.
Sem mais delongas, às músicas:
Fase Doom/Death inicial (1990–1993)
- “Your Hand in Mine” (Shades of God, edição japonesa)
Essa raridade é uma joia escondida. Com uma estrutura minimalista, quase acústica, revisita a fragilidade humana com sussurros de solidão, destacando a capacidade da banda de emocionar mesmo sem explosões sonoras.

Fase Gótica/Eletrônica (1997–2001)
- “Mercy” (One Second, 1997)
Na guinada eletrônica de One Second, “Mercy” é um ponto de introspecção pura. É uma balada quebrada, onde a vulnerabilidade dos vocais encontra beats suaves, quase desconectados — um pedido de compaixão em meio ao caos interno.
- “Made the Same” (Believe in Nothing, 2001)
Esquecida injustamente, é uma reflexão sobre a repetição emocional da vida. A produção apagada ajuda a intensificar o tom de resignação, como se tudo estivesse condenado a se repetir, sem chance de catarse.
- “Self Obsessed” (Believe in Nothing, 2001)
Com ironia melancólica, a banda critica a superficialidade da era moderna. A sonoridade contida e sombria cria um espelho distorcido, onde a obsessão por si vira uma armadilha emocional.
- “Smalltown boy” (Symbol of Life, 2002)
Um dos meus favoritos da banda, eu me lembro “como ontem” de quando foi lançado. Dentre tantas faixas maravilhosas, gostaria de citar a cover para “Smalltown boy”, originalmente de Bronski Beat, que fala sobre um jovem forçado a abandonar sua cidade natal por medo da desaprovação. A música não apenas destacou as dificuldades e experiências compartilhadas por centenas de milhares de pessoas gays, mas também provocou um debate sério sobre essas questões.

Retorno ao peso gótico (2005–2012)
- “Grey” (Paradise Lost, 2005)
Com estrutura simples e melodia entristecida, “Grey” reflete a maturidade sombria da banda. É como se a música aceitasse o desespero com calma, sem revolta — um tipo de beleza gelada, quase confortável.
- “The Enemy” (In Requiem, 2007)
Uma das faixas mais intensas do álbum, combina guitarras afiadas com letras sobre o colapso interno. Há uma tensão constante, como um conflito entre o eu e o sistema, entre o controle e o desmoronamento.
- “Ash & Debris” (Faith Divides Us – Death Unites Us, 2009)
Melancólica e imersiva, soa como um lamento vindo de escombros emocionais. É uma paisagem sonora desolada, onde as guitarras ecoam como memórias do que foi destruído.
- “Last Regret” (In Requiem, 2007)
Com uma das letras mais sentimentais do disco, essa faixa é como uma carta nunca enviada. Sua lentidão dolorosa traduz perfeitamente o arrependimento e o peso do que não pode ser desfeito.

Era recente (2015 em diante)
- “Terminal” (The Plague Within, 2015)
Paradise Lost volta ao peso de forma magistral. “Terminal” é sufocante, como uma última respiração antes do colapso. Os vocais guturais e a atmosfera densa evocam uma sensação de fim iminente — quase apocalíptica.
Bônus: Para além do paraíso perdido
Nick Holmes e Gregor Mackintosh participaram de alguns side projects durante essas décadas e vou aqui falar sobre alguns deles:
Bloodbath
Nick se juntou à banda sueca Bloodbath, famosa por seu death metal cru e direto, ao lado de membros do Katatonia e Opeth. Ele aparece nos álbuns Grand Morbid Funeral (2014), The Arrow of Satan Is Drawn (2018) e Survival of the Sickest (2022). No Bloodbath, é onde ele explora sua veia mais brutal e gutural, em contraste com os vocais mais góticos do Paradise Lost. Destaque para a faixa “Zombie Inferno”

Vallenfyre
Projeto criado por Greg Mackintosh após a morte de seu pai. O som é cru, emocional e brutal, misturando death metal com elementos de crust punk e doom. As Letras intensamente pessoais e produção mais suja que os trabalhos do Paradise Lost. Destaque para a faixa “Splinters”
Strigoi
Após o fim do Vallenfyre, Greg criou o Strigoi, mantendo a atmosfera pesada, mas com uma abordagem mais atmosférica e experimental. O nome vem do folclore romeno — “strigoi” são espíritos malignos ou vampiros. Destaque para a faixa “Carved Into The Skin”
Host
Inspirado na minha amada fase eletrônica do Paradise Lost (Host, 1999), esse projeto, lançado em 2023, revisita aquele estilo com mais maturidade e uma sonoridade que mistura Depeche Mode com post-punk sombrio. Destaque para a faixa “Tomorrow’s Sky”.
