Nossos ícones nunca deveriam partir. O hard rock novamente esteve em evidência nos últimos dias, porém não pelos motivos que nós saudosistas gostaríamos. Há pouco mais de uma semana perdíamos Ace Frehley, guitarrista original e um dos fundadores do Kiss. Hoje o mundo do hard rock/aor perdeu uma de suas figuras mais icônicas, a estupenda Marcie Free, famosa no meio por seus trabalhos com o King Kobra, Unruly Child, Signal e uma carreira solo que rendeu 2 álbuns.

Nascida com o nome de Mark Edward Free, o mundo a conheceria nos anos 80 sob o nome artístico Mark Free, após aceitar o convite de Carmine Appice para integrar o King Kobra, nova empreitada do baterista, em 1983. 2 anos depois a banda já estava lançando o clássico Ready To Strike e um ano depois lançava Thrill Of A Lifetime, que continha o clássico Never Say Die (Iron Eagle), do filme Águia de Aço, lançado no Brasil no mesmo ano. Esse seria a consolidação de Mark como uma das maiores vozes do estilo, capaz de transmitir emoção e energia de maneira ímpar, como provou ao final da década, unindo-se ao Signal e lançando o clássico do Aor Loud & Clear, em 1989. Canções como You Won’t See Me Cry, Go e a belíssima balada Could This Be Love atestavam não apenas a capacidade técnica de Mark, como também sua essência como intérprete, emocionando os ouvintes com músicas que pareciam falar direto aos corações.

Os projetos de Free seguiam a todo vapor, e em 91 o cantor fundou o Unruly Child, um pouco mais pesado que os outros trabalhos, mas com a dramaticidade Aor intacta. Assim, em 93 Mark lançaria um de seus trabalhos mais respeitados, o maravilhoso álbum solo Long Way From Love, repleto de canções emotivas, com romantismo e uma certa dose de sofrimento, presenteando o público com um dos discos mais cultuados dentro do universo Aor. O álbum em questão contém pérolas como You Do It For Love, Stranger Among Us e uma linda balada intitulada The Last Time. Em um dos maiores casos de injustiça no meio musical, Marcie nos deixou sem experimentar o sucesso merecido, dada a qualidade de seus trabalhos. Sua voz imprimiu uma marca pessoal onde quer que cantou, veja por exemplo seu trabalho no disco Rise Up, de Bobby Kimball (ex vocalista do Toto) ou até mesmo no disco Discipline, de 1991, do Hitmaker Desmond Child.
Free foi um dos artistas mais corajosos de sua época, sendo um dos primeiros a falar abertamente sobre sua condição, após realizar uma cirugia de redesignação sexual. Já assinando como Marcie, lançou o disco Tormented, em 1995. Após um período lutando contra o alcoolismo, Marcie reativou o Unruly Child em 2009, grupo do qual fazia parte até hoje.

Difícil medir o impacto de Marcie e seus trabalhos no mundo do rock, visto que a grande mídia nunca deu muita atenção ao estilo, ao passo que sua própria condição pode ter influenciado a cabeça dos mais conservadores e colaborado para que seu som não tivesse o mesmo alcance de outras bandas do mesmo estilo. O último trabalho de Marcie foi o single Say It Like You Mean It, em 2021.
O fato é que Marcie era grande demais para caber num mundo como esse. Talento indiscutível que foi silenciado pelas circunstâncias normais da vida, porém nunca é tarde para descobrir e celebrar sua obra. Hoje, pelo menos, ligue seu som, coloque alguns de seus trabalhos pra rolar no som, tome um bom vinho e homenageie um artista que merecia muito mais reconhecimento do que teve. Descanse em paz Marcie!! Nós te amamos.
