Após 32 anos sem lançar material de estúdio, o Coroner está oficialmente de volta com Dissonance Theory, seu sexto álbum de estúdio, lançado em 17 de outubro de 2025 pela Century Media Records. Longe de ser apenas um trabalho nostálgico, o disco mostra uma banda ativa, atual e artisticamente inquieta, reafirmando seu status como um dos nomes mais inteligentes e desafiadores da história do metal extremo.

Desde o final dos anos 80, o trio suíço construiu uma reputação singular ao expandir os limites do thrash metal, incorporando técnica, dissonância e estruturas progressivas quando o gênero ainda era majoritariamente direto e agressivo. Álbuns como No More Color, Mental Vortex e Grin influenciaram gerações de músicos e ajudaram a pavimentar o caminho para o metal técnico moderno.

Em Dissonance Theory, o Coroner retorna sem tentar reproduzir fórmulas do passado. O que se ouve é uma banda madura, pesada e contemporânea, que dialoga com o progressive metal, o groove metal e atmosferas mais densas, sem jamais perder sua identidade cerebral.

A produção é moderna, limpa e poderosa, valorizando cada instrumento. O baixo de Ron Broder assume papel central, as guitarras de Tommy Vetterli seguem afiadas e cheias de personalidade, enquanto a bateria de Diego Rapacchietti sustenta as constantes mudanças rítmicas com precisão impressionante.

Faixa a faixa

Oxymoron

A curta introdução instrumental não é apenas um aquecimento, mas um statement conceitual. As camadas de guitarra criam tensão sem resolução, com dissonâncias propositais e sensação de instabilidade. O título já antecipa o conceito central do disco: ideias opostas coexistindo. É uma abertura fria, calculada e desconfortável — exatamente como o Coroner sempre gostou de soar.

Consequence

Aqui o álbum realmente começa. A música se desenvolve sobre um groove pesado e controlado, com riffs que não seguem linhas óbvias de thrash tradicional. O baixo de Ron Broder guia a narrativa, enquanto a bateria trabalha variações sutis de tempo que mantêm a tensão constante. Liricamente, a faixa aborda a inevitabilidade das ações humanas e seus desdobramentos, refletindo maturidade e tom reflexivo.

Sacrificial Lamb

Uma das faixas mais densas e atmosféricas do álbum. A estrutura é construída lentamente, quase como um ritual, com riffs repetitivos e sensação de opressão crescente. A música fala sobre culpa, submissão e sacrifício imposto, tanto em níveis pessoais quanto sociais. O peso aqui não vem da velocidade, mas da insistência e da repetição hipnótica.

Crisium Bound

Tecnicamente uma das músicas mais ricas do disco. Alterna grooves pesados com seções mais intrincadas, onde guitarra e bateria dialogam de forma quase matemática. Apesar da complexidade, tudo soa orgânico. A letra evoca imagens de aprisionamento emocional e psicológico, reforçando a sensação de tensão contínua. É Coroner em estado puro: técnico, pesado e cerebral.

Symmetry

Uma das faixas mais acessíveis do álbum, mas sem perder profundidade. A ideia de simetria se reflete diretamente na música, que equilibra partes agressivas com momentos mais contidos. Os riffs são mais memoráveis e diretos, enquanto a letra discute ego, vaidade e o desejo humano por equilíbrio e controle, sempre de forma crítica.

The Law

Pesada, arrastada e opressiva, essa música se destaca pelo clima quase sufocante. Os riffs graves criam uma muralha sonora, enquanto a bateria mantém um andamento firme e ameaçador. Liricamente, aborda sistemas de poder, autoridade e imposição, soando fria e implacável — não há catarse aqui, apenas peso contínuo.

Transparent Eye

Uma das faixas mais modernas do disco em termos de sonoridade. O Coroner flerta com grooves mais contemporâneos, sem soar genérico. Os riffs são marcantes e o refrão é sutilmente memorável, ainda que distante de qualquer fórmula tradicional. A letra trata de vigilância, exposição e perda de privacidade, dialogando com temas atuais.

Trinity

Aqui a banda aposta em construção emocional. A música cresce aos poucos, alternando momentos introspectivos com explosões de peso controlado. O trabalho de guitarra se destaca não pela velocidade, mas pela escolha de notas e pela sensação narrativa do solo. A letra pode ser interpretada de forma simbólica, abordando dualidade, conflito interno e coexistência de forças opostas.

Renewal

Uma das faixas mais energéticas do álbum e símbolo claro do retorno da banda. “Renewal” tem riffs mais diretos e impacto imediato, mas ainda recheados de detalhes técnicos. A música soa como uma afirmação: o Coroner está de volta, renovado, mas fiel à sua identidade. O refrão, mesmo discreto, é um dos momentos mais marcantes do disco.

Prolonging

O encerramento foge de qualquer final explosivo. Mais curta e experimental, a faixa aposta em atmosfera, texturas e sensação de continuidade. É um final contemplativo, quase meditativo, que deixa o ouvinte em suspensão. Em vez de fechar um ciclo, Prolonging sugere que o discurso do álbum permanece ecoando.

Conclusão

Dissonance Theory é um álbum profundamente coeso, onde cada música cumpre um papel dentro de um conceito maior. Não há fillers nem concessões comerciais. As composições priorizam tensão, dissonância e densidade emocional, refletindo um mundo fragmentado e contraditório.

Musicalmente, o Coroner prova que envelhecer não significa simplificar. O trio entrega um disco tecnicamente sofisticado, pesado e relevante, dialogando com o metal moderno sem abandonar suas raízes intelectuais.

O Coroner não apenas retorna — reafirma sua relevância. É um álbum exigente, feito para audições atentas, que cresce a cada nova escuta. Um trabalho que honra o passado da banda, mas aponta para frente, mantendo vivo o espírito inquieto que sempre definiu o Coroner.

NOTA: 5 / 5

TEXTO POR RAPHAEL ARIZIO