Dizer que Fred Durst sabe como agradar seus fãs é redundante, ainda mais depois de presenciar o que aconteceu no último sábado, 20, no Allianz Parque. E não foi apenas seu show, não apenas o Limp Bizkit, mas todas as atrações foram curtidas com sucesso.

Confesso que, inicialmente, me senti um pouco “estranho no ninho”, já que o estilo nunca foi tanto a minha praia, mas sabe que eu me diverti? E muito! Acredito que se eu tivesse que encontrar uma palavra para descrever o “festival” que Fred nos deu, com certeza seria “divertido”!

Portões abertos, pontualmente às 14h, num dia escaldante de, pelo menos, 3 sóis pra casa um e nenhuma brisa pra refrescar.

Às 16:10, Slay Squad sobe ao palco para mostrar um crossover muito bom. Tinha rap, mas tinha também metalcore e um pouco de death. Esses californianos se autoentitulam “Ghetto Metal”, vendo que eles trazem muito da cultura hip-hop, esse nome faz muito sentido. Uma pena o som não estar 100% durante a apresentação deles, porque o público aceitou bem e acredito que a banda retorne ao Brasil num evento onde tenham maior destaque. Eles não ficariam ótimos com o Black Pantera

O rapper Riff Raff entrou e, não ficou mais de 15 minutos no palco. Não informaram se o show seria aquele, ou se houve algum problema em que impedisse sua continuação. 

Já a australiana Ecca Vandal mostrou seu poder e dançou, cantou, improvisou junto com o Slay Squad, além de conquistar os brasileiros com uma lindíssima camiseta do Roots (Sepultura)

Você conhece 311? Pois esse show mostrou que você deveria conhecer. Se você curte Linkin Park, é importante saber que esta banda é a responsável por colocar um DJ, um rapper e um vocal de voz melódica no mesmo palco. Esses caras começaram em 1988, o que a gente curte tanto até hoje. Eles abriram com “Beautiful Disaster”, presente em seu quarto álbum, Transistor, de 1997; chamou o Slay Squad pro palco pra improvisar antes de “Applied Science” emendar com o solo de bateria. Essas lendas fizeram as rodas abrirem na pista, marmanjos sentarem no chão e remar, para depois levantarem e pular como nunca. E o mais legal disso tudo é: a banda mereceu cada manifestação de alegria.

E agora vocês estão prontos para chorar? Prontos para voltar 20 anos no tempo, alisar o seu cabelo e borrar a sua maquiagem? Sim, agora é o momento deles, o Bullet For My Valentine. Último show da tour comemorando os 20 anos de lançamento do álbum “The Poison”, este bonitinho foi tocado NA ÍNTEGRA!

Matthew Tuck – foto por: Amanda Basso

O que eu vi de gente chorando no primeiro “Let’s Go”, não é brincadeira. Mas eu entendo completamente, porque você chora pela emoção de reviver um período da sua história e isso sempre é muito bom. Foi aqui que eu comecei a perceber o que era, realmente, um show de nu metal, ou metalcore, seja lá como vocês classifiquem essa banda. Os sinalizadores começaram a aparecer e a pista virava um inferno todas as vezes que Jamie Mathias, baixista, pedia para o público girar. Uma roda abriu ao meu lado em “4 Words”. Tomei um susto, mas fui junto em seguida. Musica após música, Matthew Tuck dizia o quanto era importante para eles estar naquele palco, comemorando com o público brasileiro todas as suas conquistas, principalmente o aniversário desse álbum que é tão querido pelos seus fãs… não cansou de mencionar o quanto ele estava feliz com a energia que sentia da plateia.

Jamie Mathias – Foto por: Amanda Basso

Foram 13 músicas que tiraram o público do chão, deixando a temperatura ainda mais quente, num dia que já começou mais quente que o inferno. “Tears Don’t Fall” foi cantada a plenos pulmões e “All These Things I Hate” iluminou o estádio com luzes de celular, emocionante. Bullet For My Valentine substituiu o Yungblud na última hora e fez um show incrível, nostálgico, alto (muito alto mesmo), encerrou com “Waking the Demon”, fazendo o público querer mais. E, assim como Ecca estava com uma camiseta do Roots, Jamie Mathias estaba com uma do Chaos AD.

Mas vocês não leram até aqui para “morrer na praia”, não é? Afinal, a Loserville é deles, Limp Bizkit estava chegando e já mostrava como. Nos pa’s, raps de todas as épocas, até eu perceber um que eu conhecia: “Pump Up the Volume”, do MARRS. Essa música ficou looping alguns minutos a mais do que ela realmente tem. Mas quando as luzes se apagaram, o telão piscou SAM RIVERS e um vídeo de quase 5 minutos foi executado, emocionando cerca de 42 mil pessoas, que também ficaram órfãos do baixista, morto aos 48 anos, por complicações de cirrose hepática. Em todo decorrer do tempo, Fred menciona fazer este show por Sam, pedia que todos cantassem para que Sam ouvisse. Foi bastante emocionante.

Fundo do Palco – foto por: Amanda Basso
Homenagem a Sam Rivers – foto por: Amanda Basso

O show realmente começa com a banda entrando no palco para tocar “Break Stuff“. Fred conversa com a plateia, cumprimenta, e pede para que naquela noite, o público faça Loserville ser inesquecível. Imediatamente Wes Borland começa o riff de Master of Puppets, do Metallica, emendando com “Hot Dog” e “Show Me What You Got”. Aceitando o pedido de Durst, o público começa a pipocar rodas em toda a pista, até formar uma gigante bem ao centro. Desta roda central surgiram personagens como Pikachu, Papai Noel e Jesus. Além de sinalizadores, como já era esperado, mas também (pasmem), rojões. Isso, rojões!

Fred mostra gostar da celebração e incentiva mais, afinal, a plateia está nas mãos dele e, nitidamente ele pode fazer o que quiser. O show é uma verdadeira festa, uma comemoração ao legado de uma banda que passou pouco por aqui, mas que mostrou ter uma fan base bem fiel.

A apresentação corre com “My Generation” e “Livin’ it Up” (que levantou o público ainda mais), até uma pequena mudança de “ato”, afinal, o DJ Lethal, solta Walk, clássico do Pantera, que fez todo o estádio cantar, como se a banda estivesse presente. E dentro de toda essa energia caótica que estava presente, chega mais um clássico que tocou a exaustão no rádio: “My Way”! O Allianz tremeu. Adolescentes pulavam, pessoas mais velhas pulavam, todos pulavam! Mas chegou a hora dela, da queridinha que tem dancinha, da música que foi (in) justamente premiada como a pior letra da história, só porque ela fala de pegar seus amigos, colocar no carro, e sair para ver as moças na rua, “Rollin’”. E nesse momento, a pista se dividia entre os moshpits e fãs emulando dirigir um volante durante o refrão. Terminando sua dança, DJ Lethal faz mais uma brincadeirinha e coloca Proud Mary e “rolling on the river…”.

Quando você ama ir aos shows, mas tem menos de 1,65m, que é o meu caso, qualquer brisa maior se torna um alívio. Porque o calor no meio do público é causticante, por isso, acabei indo para a lateral do palco, para conseguir assistir ao show com mais calma, e sem tanto ar quente.

Agora mais tranquila, de um lugar onde estava até ouvindo melhor, Fred conversa um pouco e começa a cantar “Re-Arranged”, e em seguida “Behind Blue Eyes”, clássico eterno do The Who. Confesso que como sou fã da original, sempre torci o nariz pra essa versão, mas sabe o que é legal de assistir aos shows? É que eles sempre têm a chance de te fazer mudar de ideia! De repente, o estádio inteiro parecia um céu estrelado… tinha uma certa beleza naquilo, um céu que faz tempo que não se vê, sabe?! Ok, sem divagações!

Passado o momento fofo, Fred começa “Eat You Alive”, “Nookie” (que tem uma letra muito peculiar envolvendo um “cookie”). E agora chegou a hora de chamar o fã no palco. E era a hora também de “Full Nelson”. Uma menina com uma plaquinha foi chamada. “Qual o seu nome?” Fred pergunta. “Bia!”, ela responde; e depois de perguntar de onde ela é e se ela sabia a letra, ele pergunta se ela tem certeza de que quer cantar “Full Nelson”. Fato é que esta música, assim como quase todas do Limp Bizkit tem duplo sentido, e ela não fala do golpe de imobilização do wrestling, ou luta livre, mas de uma posição sexual muito parecida… Bia confirmou que sabia e tinha certeza de querer cantar esta música, quando Fred pede para que ela fale algo em sua língua e Bia grita “vambora!”. “Full Nelson” começa e a fã se sente um pouco tímida, mas mostra que sabe o que faz, Fred indica o teleprompter, pois como ela estava sem retorno, seria mais fácil se guiar por ele, lendo a letra. Performance nota 10, Bia!

A noite começa a caminhar para o seu fim. Fred dedica várias risadas e alegrias ao seu parceiro Sam Rivers, lembra de que todos nós estávamos lá por eleGet Down Tonight, do KC and the Sunshine Band começa. DJ Lethal faz alguns scratchs em cima. “Boiler” entra e a plateia se entrega! Fred apresenta um a um o Limp Bizkit, que improvisa e brinca no palco. Sim, eles se divertem. Lethal ainda emenda Red Wine, clássico do UB40 com Careless Whisper – o sofrimento supremo – de George Michael. E a audiência dança. Faith aparece para começar a quebrar o clima, quando “Ethan Hunt” aparece para a sua Missão Impossível com “Take a Look Around”. Neste momento as rodas eram incontáveis – com rojões, personagens, sinalizadores, moças, crianças erguidas… a coisa toda. Então todo o line up da “Loserville Tour Fest” sobe ao palco para festejar; Fred Durst pede para que o Allianz acenda as luzes porque ele quer ver a maior roda que a galera conseguisse fazer. As luzes acenderam, “Break Stuff” voltou e o caos reinou soberano! Todos ficaram felizes, todos ficamos felizes. E Sam Rivers, onde quer que esteja, acredito que também tenha ficado feliz. E a mensagem da banda é clara: “don’t stop believing!”. E essa foi a última música que Lethal colocou.

 

 

Texto por: Amanda Basso

Todas as fotos do Limp Bizkit: b+ca