O aguardadíssimo álbum do eterno homem do espaço, Ace Frehley, está na mão e o Headbangers Brasil vai colocar em pratos limpos tudo o que achou desse disco que, segundo o próprio Frehley, faria o “Kiss passar vergonha com tudo o que eles fizeram ultimamente com a banda“. Será que isso foi cumprido? Será que essa expectativa foi superada? Será que Space Ace blefou mais uma vez, como na vez que deu pra trás ao dizer que revelaria segredos obscuros de Gene e Paul? Vamos aos próximos capítulos. Mas antes disso, uma contextualizada. 

Como todos sabem, além de seu projeto autoral solo, que data lá de 1987, com o lançamento da obra Frehley’s Comet, Ace vem encabeçando desde 2016 um projeto entitulado Origins, que nada mais é que versões de músicas, de artistas que o influenciaram em sua carreira. Já estamos no Volume 2 e Ace garantiu já estar gravando o terceiro. Acontece que em meio a tanto trabalho, o novo rei das redes sociais, como vem sendo chamado por locutores como Eddie Trunk (seu amigo de longa data) e Terrie Carr, lança no próximo sábado, 24 de fevereiro seu mais novo álbum solo, 10000 Volts, que, trocadilho à parte, promete ser eletrizante (ba dum tssss).

Sendo assim, chega de conversa e vamos ao álbum. São 11 músicas que compõem um disco que passa muito rápido. No geral são curtas, ótimas para o rádio e divertidas para as plataformas de áudio. Um ótimo álbum pra você, fã do nativo de Jendell, mostrar para o coleguinha que não conhece muito, o que este senhor tem feito de novo.

Faixa-a-Faixa: (avaliação feita de 0 a 5)

01 – 10000 VOLTS: Ótimo começo. Uma música para single, pra ser tocada em rádio a exaustão. Ponte e refrão que grudam na cabeça eternamente. Houve quem torcesse o nariz pra essa música, dizendo que Ace queria fazer alguma alusão a Shock Me (seu clássico presente em Love Gun, do Kiss, lançado em 1977), mas além do nome, nada mais se parece. É o mesmo que aludir essas duas músicas a High Voltage, do AC/DC, só por causa da eletricidade. Mas no geral é um ótimo hit. NOTA: 4,7.

02 – WALKIN’ ON THE MOON: Não, gente. Não é o cover de Walking on the Moon do Police (presente no Reggatta de Blanc, de 1979). Adianto esse fato, pois todo fã do Ace sabe que seus álbuns de estúdio ultimamente trazem um homenageado. À primeira vista, me lembrou muito Fool in the Rain, do Led Zeppelin, presente no obscuro (e lindo) In Trough the Outdoor, de 1979, mas com uma certa acidez, como se o próprio Frehley caminhasse pela Lua, com toda a sua falta de equilíbrio e atmosfera. O ritmo é constante, o que faz a gente sentir um pouco de saudade das mudanças de andamento de Anton Fig, encontradas em Wiped Out (de seu álbum solo de 1978) por exemplo, mas no geral é uma boa música. Com certeza é a que mostra que Ace é e sempre será o Spaceman. NOTA: 4,8Caso você queira comparar com o Led

03 – COSMIC HEART: Sabe aquela música que a sua namorada vai dançar pra você, ou vice versa? É essa! Um coro feminino no refrão, que se seguiu o rumo de seu antecessor, Spaceman, de 2018, tem sua namorada no backing (estamos sem ficha técnica para confirmação), dá pra deduzir, já que a senhorita Cove fez questão de transmitir todo o backstage, desde gravações de clipes a sessões de fotos de divulgação, via Instagram. Música totalmente pasteurizada, esquecível, na verdade. Embora tenha qualidade, me pareceu algo encomendado pelo mercado. NOTA: 2,0.

04 – CHERRY MEDICINE: O começo promete não entregar absolutamente nada. Monótono, até chato, diria, mas o refrão chega e explode uma bomba de felicidade. Você chega até a ter carinho pela música. Existem algumas mudanças de andamento, o que é legal, mas nada de muito complexo. Depois do refrão, toda aquela alegria passa e você começa a enxergar essa música como uma possível candidata à trilha sonora de um filme adolescente dos anos 2000. NOTA: 2,9.

VEJO NESSAS DUAS MÚSICAS, UMA TENTATIVA FORTE DE FORÇAR UM HIT. O grande problema disso é que a música vai sair pasteurizada e parecida com milhões de coisas que você já ouviu. Pode até não ser, mas parece nítido que essa duas faixas apenas foram gravadas a pedido do mercado. É triste? Sim. Mas não necessariamente é negativo, não necessariamente é uma crítica severa, até porque, muitas vezes essas músicas podem ser boas. Agora se elas se tornarão clássicos, só o tempo dirá!

05 – BACK INTO MY ARMS AGAIN: Uma balada que estreou clássica! Composta em 1987 por Ace Frehley e Arthur Stead e foi descoberta pelos fãs, graças a uma versão pirata (bootleg) do álbum de 1989, Trouble Walkin’ (+ Unreleased Tracks). Aqui em São Paulo, a gente encontrava essa cópia na Galeria do Rock, e depois de Fractured lll, começava uma tracklist de demos que continha Dancing With Danger, Back on the Streets, Rock Or Be Rocked, Give It To Me Anyway, Animal e claro, Back Into My Arms (Again). Uma curiosidade bacana sobre essa faixa: Ace revela a Terrie Carr, num programa de rádio da 105.5 WOHA, que seu vídeo de Natal, tocando essa música, um trecho, na verdade, foi o mais visualizado desde sua entrada nas redes sociais. Steve Brown, guitarrista e produtor, menciona no mesmo programa que Frehley chegou em seu estúdio com um cassete dessa música, perguntando se ele acharia legal gravá-la. Steve não pensou duas vezes! Bom, agora vamos à faixa: ela continua com a intro em violão de 12 cordas, o que traz uma sonoridade grandiosa, nada foi alterado desde a demo. A letra também se manteve intacta. Sua progressão tem um crescendo que emociona e te joga no abraço mais apertado de quem mais te faz falta. A volta do solo te faz acreditar que ele vai subir o tom, o que não acontece, mas não compromete em absolutamente nada. Essa música, senhores, como eu já disse, nasceu clássica! NOTA: 5,0.

Ace Frehley e Steve Brown com Terrie Carr em seu programa na 105.5 WOHA. Divulgação de 10000 Volts.

06 – FIGHTIN’ FOR LIFE: Sabe aquele tema que você vai ouvir pra viajar, ou se exercitar? É esse! Com certeza essa música caberia numa sequência de cenas de Rocky Balboa treinando para a luta principal do filme. Caberia em Rocky IV (que é uma das minhas referências de trilhas sonoras)? Tranquilamente! Música direta, pouca progressão, andamento e letra que empolgam. Ela parece ter saído direto de uma rádio dos anos 80. Consigo me imaginar facilmente olhando aquele céu ensolarado, com a cabeça cheia de sonhos, na janela do bom e velho Greyhound. Estranho ela não ter se tornado o principal single do álbum. NOTA: 4,8.

07 – BLINDED: Um cyber Frehley dizendo que as pessoas não se enxergam mais cara-a-cara, sem filtro. E ele está errado? Música direta, que para quem é fã e acompanha a carreira do nativo de Jendell, reconhece recortes de riffs de Too Many Faces, presente em Anomaly, de 2009. Ela começa com uma parte do refrão cantada a capella, como uma frase de atenção e efeito. Bom, embora o tema seja atual, a música em si não empolga tanto, acaba parecendo retalhos de restos de riffs de seus últimos discos autorais. O refrão é um chicletinho. NOTA: 3,6.

08 – CONSTANTLY CUTE: Música com um ritmo marcante, que se torna inusitada por abrir com uma melodia de guitarras dobradas. O andamento é típico dos hits dos anos 80, ritmo dançante, pra ficar agarradinho nos bailinhos de garagem. Uma ponte de progressão crescente de bom gosto e um refrão que não deixa a peteca cair. Uma letra fofa que combina com o nome e mostra o Bronx Boy apaixonado, mas que corta para um pré-solo de falas “bem safadinhas”. NOTA: 4,1.

09 – LIFE OF A STRANGER: E o cover apareceu. Faixa conhecida na voz da cantora Nadia, ficou famosa por aparecer no filme Hitman, de 2007. Um ar de sensualidade invade o disco. Um andamento gostoso, que faz o corpo se mexer por puro instinto, totalmente imprevisível. Poderia ser uma letra autobiográfica, com uma subida de tom pós-solo no refrão, que marca a importância do que será dito. Com certeza ela entra no meu top 5 do álbum. NOTA: 4,9.

10 – UP IN THE SKY: Ela tem uma entrada orgânica, com contagem do baterista, mas não quer dizer muita coisa. O andamento é composto por um riff constante, que lembra muito NY Groove (presente no álbum solo de 1978), só que mais rápido. Refrão digno, mas uma música esquecível, infelizmente. NOTA: 1,9.

11 – STRATOSPHERE: Vocês já assistiram àqueles vídeos da NASA, com sons gravados no espaço? Essa faixa começa assim e, rapidamente te leva para os lugares mais lindos da sua mente. Sempre achei Ace muito caprichoso em estúdio, e zeloso principalmente por suas composições instrumentais. Confesso que, embora eu goste de todas (exceto Fractured Quantum), Stratosphere foi a primeira instrumental dele que me emocionou desde Fractured III, presente em Trouble Walkin’. Solo harmônico, com doses de drama, e como sempre, camadas e mais camadas de violões para climatizar. O único defeito é que ela tem um pouco mais de 3 minutos. Muito curtinha! NOTA: 5,0.

Depois dessa primeira audição, essa foi a minha conclusão. Pode mudar depois de um tempo? Com certeza! Acontece que Ace Frehley não dormiu no ponto e, depois de ter dito que seu novo disco faria o Kiss se envergonhar do andamento das coisas, atesto que esse é o melhor trabalho do Homem do Espaço desde 1989! Enquanto Anomaly, Space Invader e Spaceman são álbuns que formam um grande greatest hits, 10000 Volts se mostrou com personalidade e com a promessa de muitos clássicos

NOTA GERAL DO DISCO: 4,8/5,0.

Divulgação do track list de 10000 Volts no Instagram oficial de Ace Frehley.