“Ódio reprimido, discurso sobre a liberdade de pensamento e denúncia do que há de pior no homem”
Os 3 (três) posts imediatamente anteriores contam o necessário sobre a mais que conhecida história da banda, portanto, daqui pra frente, seremos mais diretos em relação às obras analisadas. No Schizophrenia, com a entrada de Andreas Kisser, a banda deu um surpreendente salto qualitativo. Mas neste álbum, com uma única tacada, fez seu primeiro clássico e deu ao mundo uma mostra do estilo brasileiro de fazer Metal. Beneath the Remains é o disco que fez do Sepultura um nome conhecido no mundo. Se antes a banda era uma promessa, aqui ela consolidou seu estatus de maior banda de metal do país com suas primeiras turnês internacionais: foram quatro giros (Europa e EUA) em apenas um ano (1989). Feito surpreendente para qualquer artista brasileiro.
Neste álbum, a banda teve a oportunidade de trabalhar com Scott Burns, que mais tarde ficaria famoso como um dos maiores produtores musicais do estilo no mundo. Aqui abriremos parêntese para uma infeliz curiosidade: de acordo com a biografia, Scott teve muitos de seus pertences furtados do quarto onde se hospedara no Rio de Janeiro. Mas o produtor manteve o profissionalismo e ajudou a banda no processo de direcionamento musical e sonoro. Os relatos também dão conta de que Scott teve que alterar todo a ambientação acústica do estúdio na tentativa de reproduzir minimamente os padrões americanos dos discos de Thrash Metal. No final das contas a relação entre os músicos e o produtor se aprofundou e, juntos, conseguiram atingir a um excelente resultado. Do ponto de vista sonoro, as guitarras são estridentes e esmagadoras, a bateria é sísmica e os vocais, mais agressivos e compreensíveis. O baixo é audível, mas não com regularidade e talvez isso possa ser atribuído à brutalidade musical da banda. E aqui vai mais um fato não apenas curioso, mas também surpreendente: as partes do contra-baixo não foram feitas por Paulo Junior, como se imagina. A biografia escancara que o baixista oficial ficara nervoso e não conseguira executá-las da forma adequada. Mas, graças ao Andreas o trabalho foi feito de forma muito satisfatória. Por falar nisso, Andreas deu um upgrade no som da banda e, por isso, seu trabalho é reconhecido por músicos de bandas grandes como Anthrax, Exodus, Testament, Kreator e até mesmo do Metallica, com quem fez amizade. Claro que todos têm mérito na criação/execução da obra: liricamente, Max escreveu suas melhores letras até aquele momento. Igor fez algo simplesmente inacreditável com as baquetas e os bumbos. E Paulo, bem… Ele tem o mérito de haver sido o agregador com sua eterna “deboísse” e suas sempre bem-vindas piadas fora de hora.
Todas as músicas do álbum são petardos sonoros capazes de apaixonar qualquer true banger do planeta, mas os destaques são: 3) Stronger Than Hate, cuja letra foi escrita por Kelly Shaefer (Atheist) e tem John Tardy (Obituary) urrando no refrão, 4) Mass Hypnosis (estranha e explosiva ), Inner self (maior hit desse álbum), Slaves of Pain (composição de Andreas). A versão “expanded” do disco, lançada no começo desse fatídico 2020, trás coisas que vão interessar muito aos colecionadores. Além de uma versão rock n roll para A Hora e a Vez do Cabelo Crescer, de Os Mutantes, o ouvinte deve amar versões demos, remixes e takes alternativos de algumas músicas, além de dez faixas recortadas de um show feito pela banda em 22 de setembro de 1989 na Alemanha Ocidental.
> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo.