Fala, galera! Biel Furlaneto na área e hoje é um Além do Óbvio que eu, sinceramente, não gostaria de fazer.
Sou fã de KISS há pouco mais de 20 anos. O primeiro membro da banda que partiu se foi antes de eu nascer, e o segundo, em 2007, quando eu ainda não acompanhava tão de perto as notícias sobre o grupo.
Perder um herói de infância é algo extremamente complicado, e sendo ainda da formação original da banda da minha vida, as coisas tendem a ficar piores.
Mas, enquanto essa dor não passa, separei aqui dez músicas do legado do nosso Spaceman que vão além dos solos lendários de Deuce, Detroit Rock City, Love Gun e outros hinos eternizados pela banda mais quente do planeta.
Bora dar uma volta pelo espaço?
What’s On Your Mind – KISS: Ace Frehley (1978)
Entre os quatro álbuns solo lançados simultaneamente em 1978, o de Ace costuma disputar o posto de favorito com o de Paul Stanley. É um disco direto, “pé na porta” do começo ao fim, que ajudou Ace a perceber o quanto era subestimado, até por ele mesmo.
No meio de tanta pancada, essa faixa se destaca justamente por ter um feeling e um carisma absurdos. A guitarra mais limpa e dedilhada, os riffs delicados e o vocal leve fazem dela a minha preferida desse álbum.
Dark Light – KISS: Music From (The Elder) (1981)
Quando o KISS mergulhou no rock progressivo com o conceitual The Elder, Ace foi radicalmente contra. Mas, com a ausência de Peter e sem que Eric Carr tivesse força suficiente para equilibrar o jogo, ele perdeu a disputa para Gene e Paul.
Mesmo assim, deixou no disco uma pedrada cheia de riffs incríveis. Com sua voz inconfundível, trouxe um ar de rock’n’roll puro e juvenil no meio de tanta “arrogância” dos arranjos das faixas anteriores. E, pra fechar, um solo insano e cheio de energia, na minha opinião, a melhor música do Spaceman com os mascarados.
Rock Soldiers – Frehley’s Comet: Frehley’s Comet (1985)
Com certeza a música mais famosa da carreira solo de Ace. Porém, a menos que você seja um fã assíduo do KISS, a trajetória solo dele é inteira “além do óbvio”. Então, vamos falar desse hino.
A letra é um acerto em cheio. Ace não esconde os erros do passado, mas busca redenção com seus “rock soldiers”. Um refrão digno de arenas e só Deus sabe por que não foi cantado por multidões lotadas. E, pra variar, um solo de tirar o fôlego. “Ace is back and I told you so!”
Separate – Frehley’s Comet: Second Sighting (1988)
O segundo álbum do “Cometa Frehley” é menos inspirado que o de estreia, mas ainda tem bons momentos, e Separate é um deles.
Um ótimo rock oitentista, com aquelas entradas de bateria isoladas e potentes, seguido de um riff que só Ace sabia criar. É uma faixa mais cadenciada que o padrão “porrada espacial” da casa, mas ainda assim é um absurdo de música.
Shot Full of Rock – Ace Frehley: Trouble Walkin’ (1989)
Essência pura de Jendell! Uma pancadaria sonora cheia de atitude, com Ace simplesmente on fire na guitarra e nos vocais.
Destaque também para a bateria espetacular de Anton Fig, parceiro de longa data de Ace e figura conhecida no KISSverso. É daquelas músicas que ninguém entende por que não viraram hinos da década.
A Little Below the Angels – Ace Frehley: Anomaly (2011)
Depois de 21 anos, Ace retornava com um novo projeto. Confesso que passei a vida achando essa música brega e cafona, mas hoje, um dia após a trágica notícia, um irmão de vida chamado Carlos Augusto Monteiro escreveu em um dos grupos uma frase que me chamou atenção:
“Sabe uma coisa que eu acho bonito? Ele ter falecido sóbrio há muitos anos…”
Ouvi a música depois de ler essa frase e ela simplesmente se ressignificou. É o Ace nu, sem poderes espaciais, sem fogos de artifício, um Ace puro, arrependido e em busca de redenção.
Um homem que nunca escondeu suas cicatrizes nem culpou ninguém por elas estarem ali.
Confesso que escrevo essa parte extremamente emocionado, porque ele viveu uma felicidade plena que talvez tenha passado mais de 40 anos sem saber que existia.
Agora, ele está exatamente no título da música: “Um Pouco Abaixo dos Anjos.”
Space Invader – Ace Frehley: Space Invader (2014)
Talvez o disco que eu ache o menos inspirado da discografia, mas ainda com bons momentos. Ter uma faixa de abertura potente é algo que Ace aprendeu lá no KISS e levou para sua carreira solo.
É uma mistura de autobiografia com fantasia, regada a um instrumental simplesmente arrebatador.
Fire and Water – Ace Frehley: Origins Vol. 1 (2016)
Um bom álbum de covers, onde Ace homenageia aqueles que o tornaram a lenda que foi. No meio de tantas versões, essa se destaca.
É o grande momento do disco? Em termos técnicos, talvez não. Mas é o último registro oficial entre dois membros da formação original que não fossem Paul e Gene.
O Starchild se junta ao Spaceman mais uma vez para executar o clássico do Free.
A emoção ao ouvir a música e assistir ao clipe é indescritível.
Uma pena que o final da história entre os dois tenha sido cercado de alfinetadas e desentendimentos, mas fica o que os fãs levarão pra sempre: o maior frontman do planeta ao lado de um guitarrista tão foda que nem deste planeta era.
Your Wish Is My Command – Ace Frehley: Spaceman (2018)
Se em 2016 Ace se juntou a Paul em um dueto, aqui ele se reúne a Gene, ainda que de forma mais discreta. Nosso Demon é coautor da faixa, que tem um ótimo refrão, talvez um pouco “AC/DC demais” pro meu gosto, mas ainda assim eficiente.
Uma música agradável de ouvir, sem muitas firulas, porque Ace é rock and roll all nite desde sempre. Mais uma que merece entrar na lista de tocadas frequentes.
Back Into My Arms Again – Ace Frehley: 10,000 Volts (2024)
Encerramos com essa linda balada, baseada em uma demo de 1984.
A música, cultuada há décadas pelos fãs do Space Ace, ganhou produção nova, viu a luz do dia 40 anos depois e ficou simplesmente maravilhosa.
A voz de Ace já mostrava os sinais do tempo, então é cantada de forma um pouco mais arrastada que a versão original, o que não tira em nada o brilho da faixa.
Uma balada linda, com uma letra inspiradora. Dá até pra mandar pro seu amor sem medo de ser feliz.
As despedidas nunca são fáceis, ainda mais quando você nem lembra como era sua vida antes daquela pessoa.
Pode parecer bobo ter tanto apreço por alguém que nem sabe que você existe, mas Ace nunca precisou aparecer na minha frente pra me salvar.
Quantos dias caóticos não encontraram paz em seus solos? Quantos amores não correspondidos tiveram a demo de Back Into My Arms como trilha sonora?
Quantas vezes o solo de Love Gun não me fez esquecer uma nota ruim na escola ou uma palavra mal colocada numa discussão?
Ace se foi fisicamente, mas ainda bem que deixou uma coleção enorme de momentos épicos pra gente apreciar pra sempre.
A gente se vê no espaço um dia, Ace.
Até lá, junta com o Eric Carr e faz um puta som.
E tem um baixista irmão meu aí que vai encaixar como uma luva com essa dupla.
Um dia eu chego pra assistir vocês três
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