Falar de uma das maiores bandas de Thrash Metal da história não é tarefa fácil, mas a felicidade em descobrir pérolas escondidas no acervo de Mustaine e sua turma é muito mais gratificante do que trabalhoso.

Mesmo não sendo superfã do estilo, considero o Megadeth a minha banda favorita desse segmento. Riffs matadores, solos históricos, uma cozinha brutal e a voz rouca de Mustaine que, de alguma forma, se encaixa perfeitamente ali mesmo sendo péssima.

Eis a receita da sinfonia de destruição que a banda toca há mais de 40 anos.

Todo mundo lembra dos clássicos Symphony of Destruction, Peace Sells, A Tout Le Monde, Holy Wars, Tornado of Souls e por aí vai. Hoje, vamos mergulhar mais fundo.

Bora lá?

The Conjuring (Peace Sells… but Who’s Buying? – 1986)

Essa música é uma aula de thrash com pitadas de ritual. Enquanto muitos discos da época buscavam singles fáceis, Dave Mustaine mergulhou em livros de ocultismo e magia negra. O resultado é uma faixa que parece invocar forças das sombras. A letra assusta, a guitarra provoca calafrios e a bateria acelera o coração. No álbum em que a faixa-título é a mais comentada, esta merece atenção especial.

High Speed Dirt (Countdown to Extinction – 1992)

Se existe uma música que te faz sentir adrenalina pura, é esta. Velocidade absurda, riffs que grudam na cabeça e vocais afiados. É agressiva, crua, sem concessões. Quando ouvi pela primeira vez, parecia que meu cérebro estava acelerando junto com as guitarras. Pouca gente lembra dela, mas quem conhece sabe: é thrash no estado mais puro e energético. Nos momentos finais, ainda tem um solinho de violão lindo. Fica escondida atrás do furacão chamado A Tout Le Monde, mas vale demais.

Set the World Afire (So Far, So Good… So What! – 1988)

Após uma vinheta de ópera, para te assustar, essa música abre o álbum de forma explosiva. Muitos esquecem dela porque In My Darkest Hour rouba os holofotes. Set the World Afire é thrash direto, sem frescura, riffs imediatos. O refrão, com uma “voz demoníaca” acompanhando Mustaine, dá um punch extra, e os solos queimam os ouvidos. Ao ouvir pela primeira vez, senti a banda dizendo: “Aqui é Megadeth, sem rodeios”. É perfeita para quem quer sentir a força da banda nos primeiros segundos do disco.

Lucretia (Rust in Peace – 1990)

Talvez esta seja a menos “lado B” da lista, já que faz parte da Bíblia Sagrada do thrash metal, Rust in Peace. Mas ao lado de Holy Wars, Hangar 18 e Tornado of Souls, pode passar despercebida pelo ouvinte mais desatento. Thrash técnico no auge do Megadeth. Riffs rápidos e solos memoráveis, muitas vezes escondidos, mas agressivos e complexos. O que Marty Friedman faz com a guitarra aqui beira o pornográfico.

Mechanix (Killing Is My Business… – 1985)

A crueza do primeiro álbum impressiona. A música que o Metallica transformou em The Four Horsemen aqui tem muito mais riff, porrada e, principalmente, ódio. Dá para sentir a fúria de Dave em cada palavra e em cada nota dos riffs matadores.

Millennium of the Blind (Thirteen – 2011)

Aqui respiramos um pouco. O começo lembra muito a clássica House of the Rising Sun, do The Animals. Na sequência, surge um Megadeth diferente. A velocidade característica dá lugar a um peso impressionante no instrumental, enquanto o vocal é quase falado. No solo, as coisas voltam um pouco ao normal, mas os riffs remetem ao “Sabbathismo”. Está em um álbum que ninguém presta muita atenção, mas é uma joia escondida.

Recipe for Hate… Warhorse (The World Needs a Hero – 2001)

Se Millennium of the Blind era quase falada, esta é totalmente falada. A beleza que um violão pode trazer é incrível, e quando são músicos do calibre de Dave Mustaine e sua turma, o resultado se aproxima da perfeição. Mais uma música diferente do que a banda costuma fazer e de um álbum que nem está entre os mais lembrados. Na segunda metade, uma bateria “quase Sepultura” acelera o andamento, tornando-a ainda mais empolgante. Uma bela pérola escondida.

Breadline (Risk – 1999)

Risk dividiu fãs porque Dave Mustaine experimentou com som mais acessível e melodias comerciais. Breadline é um ótimo exemplo dessa fase: uma música lenta, introspectiva, que fala de dificuldades e injustiças sociais. Escutá-la é como abrir uma porta escondida no mundo do Megadeth. Você descobre uma faceta mais humana, mais vulnerável, e percebe que, mesmo nas baladas, o peso e a intensidade da banda estão presentes de outro jeito. É melodia, é reflexão, não é thrash, mas tem alma.

Promises (The World Needs a Hero – 2001)

Quem diria que dá para emocionar ouvindo Megadeth? A primeira vez que ouvi Promises, fui surpreendido pelo clima quase cinematográfico da faixa. O ritmo é mais contido, mas cada acorde transmite tensão e emoção. Mustaine explora temas de traição, frustração e promessas quebradas, de forma quase poética, sem perder a essência do metal.

Fatal Illusion (Dystopia – 2016)

Finalizando a lista com a bandeira do Brasil lá no alto! A entrada de Kiko Loureiro foi um passo importante, tanto para o país, que passou a ter um representante em uma das bandas mais cultuadas da história, quanto para a banda, que ganhou sangue novo com ele e o baterista Chris Adler, ao lado da dupla Mustaine / David Ellefson (que saiu depois).

Fatal Illusion é intensa sem ser confusa. A energia da faixa é contagiante, o solo de Kiko é preciso e explosivo, e a bateria de Chris Adler mantém tudo em movimento, quase como se você estivesse correndo atrás de algo que não pode alcançar. Uma das melhores faixas para m

ergulhar no Megadeth contemporâneo.

Bônus: Unplugged in Boston

Sim, temos um show desplugado do Megadeth! Em 2001, Dave Mustaine e sua turma (na época David Ellefson, Al Pitrelli e Jimmy DeGrasso) simplesmente desplugarem as guitarras e fizeram um show acústico. Nada mais “Além do Óbvio” que os mestres do peso e velocidade fazendo um show assim, né?

Se quiser ouvir versões únicas de clássicos como She Wolf, Symphony of Destruction, Trust e Holy Wars, este é o momento certo!

Então é isso, galera! Contem pra gente quais bandas vocês querem ver aqui no Além do Óbvio nas próximas edições.

Valeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu!