Fala, galera, beleza?

Hoje é aquele Além do Óbvio que eu não queria fazer, mas que seria impossível ser outro. Perdemos o maior nome da história do rock pesado, e isso ainda vai demorar muito para cicatrizar. Para ler nossa homenagem ao Madman, só clicar AQUI.

Ah, temos um Além do Óbvio do Black Sabbath que tem algumas da fase Ozzy tambem. Para conferir, só clicar AQUI.

Mas, para celebrar tudo o que Ozzy fez por cada fã de rock na história, nada melhor do que celebrar a sua carreira além dos mega hinos construídos durante sua trajetória. Claro que temos que ouvir No More Tears, Bark at the Moon, Crazy Train e etc., no último volume, mas aqui eu te trago opções menos conhecidas, mas tão boas quanto as que explodiram.

Bora lá?
Aliás:
ALL ABOOOOOOOOOOOOOOOOARD HA HA HA HA HA HA

You Can’t Kill Rock and Roll – Álbum: Diary of a Madman (1981)

Presente no segundo álbum solo de Ozzy, começa com violões suaves e um ar quase místico. Aos poucos, a banda entra com força total e cria uma atmosfera intensa, com dinâmica crescente, cheia de emoção. Randy Rhoads brilha nos solos, misturando técnica absurda com feeling — é um dos pontos altos do seu legado. Com mais de 6 minutos, uma intro longa e clima crescente, não é exatamente radiofônica. É uma música de construção lenta, emocional, que exige atenção e entrega — o que a faz passar batida por ouvintes casuais.

Waiting for Darkness – Álbum: Bark at the Moon (1983)

Uma sonoridade quase pós-punk no começo chega a assustar a princípio, inclusive com sintetizadores discretos, mas que estão ali fazendo um belíssimo trabalho de dramatização do som. Um clima arrastado, denso, com um peso mais emocional do que sonoro carregando os instrumentos. Soma-se isso à performance vocal já conhecida de Ozzy, com sua voz característica de sofrimento e quase resignação. Encerra o álbum que tem como nome um dos maiores hits da carreira do Madman, natural ser pouco lembrada, apesar de ser uma pérola.

Fool Like You – Álbum: The Ultimate Sin (1986)

Em 1986, Ozzy pegou seu morcego e misturou em uma deliciosa fatofa. O álbum The Ultimate Sin é o que mais divide opiniões na sua carreira. Eu sou do time que ama! E no meio da faixa-título e do mega-hit “Shot in the Dark”, temos essa faixa que é um hard rock purinho. Destaque para Jake E Lee, que, se não é um Randy Rhoads, tem muito o seu próprio valor.

Demon Alcohol – Álbum: No Rest for the Wicked (1988)

Aqui temos uma faixa que mistura a crueza e a força do heavy metal tradicional com nuances de blues pesado, tudo isso com uma interpretação vocal que traz muita emoção e sinceridade. É uma música feita para impactar, quase uma “catarse sonora” sobre o tema difícil que trata. Ozzy soa com bastante raiva e sinceridade, quase como um desabafo. Sua voz tem um tom áspero e carregado de emoção, transmitindo o peso da letra. Zakk faz a festa com seus solos cheios de efeitos durante a música.

Mr. Tinkertrain – Álbum: No More Tears (1991)

Aqui temos um fato curioso, pois a música foi lançada como single, tem até videoclipe, mas foi simplesmente amassada na história pelos outros hinos que o álbum possui (No More Tears, Mama I’m Comin’ Home, Hellraiser, I Don’t Want to Change the World, Road to Nowhere, etc.), que eu resolvi falar sobre mesmo tendo sido trabalhada.
“Mr. Tinkertrain” tem um groove mais pesado e cadenciado, misturando elementos de hard rock e até uma pegada meio metal em certos momentos. As guitarras de Zakk Wylde são densas, com riffs repetitivos e um ritmo quase hipnótico. A bateria mantém o pulso firme, criando uma atmosfera sombria e quase opressiva. O baixo faz um trabalho sólido e marcante, deixando a música com peso extra. A voz do Ozzy tem aquele tom grave e cheio de presença, com um vocal meio arrastado, que combina com o clima quase hipnótico da faixa.

Tomorrow – Álbum: Ozzmosis (1995)

Modernizaram Planet Caravan! Pelo menos é o que parece no começo totalmente viajado, com os vocais de Ozzy um pouco esquisitos. Mas a música cresce demais e vira uma bela balada melódica que mistura rock clássico com uma vibe meio atmosférica e introspectiva. As guitarras de Zakk Wylde são suaves, com acordes limpos e solos delicados, criando um clima emocional que sustenta a letra. A bateria e o baixo mantêm o ritmo firme, mas contido, deixando espaço para a voz do Ozzy brilhar com toda a sua emoção.
A música fala sobre esperança e mudança, sobre deixar para trás os problemas e olhar para um futuro melhor — “um amanhã”. É uma mensagem otimista e pessoal, que traz um lado mais humano e vulnerável do Ozzy, contrastando com a imagem mais sombria e “maldita” que ele carrega.

No Bone Movies – Álbum: Blizzard of Ozz (1980)

O álbum é basicamente um Greatest Hits, então aqui as opções são bastante limitadas. Temos aqui uma música reta, tradicional e que, em certos momentos, até lembra o Sabbath dos últimos álbuns com Ozzy nos vocais. A guitarra de Randy Rhoads é crua e cheia de energia, trazendo solos técnicos e cheios de feeling que destacam sua genialidade precoce. O baixo de Bob Daisley e a bateria de Lee Kerslake formam uma base sólida que empurra o ritmo frenético da faixa. Ela realmente é abaixo dos 6 hinos que têm no álbum, mas está longe de ser fraca.

Time – Álbum: Scream (2010)

Mais uma baladinha. Pouco lembrada, é uma das faixas mais reflexivas da carreira do Ozzy. Com clima melancólico e introspectivo, ela foge totalmente da pancadaria tradicional ou das suas baladas quase “power” e mergulha em uma vibe quase atmosférica. A letra fala sobre envelhecer, arrependimentos e a percepção do tempo escapando — temas que ressoam ainda mais considerando a idade e trajetória do Madman. A interpretação vocal do Ozzy aqui é carregada de emoção, sem exageros, quase como uma conversa íntima com o ouvinte. É uma joia escondida num álbum que muita gente deixou passar batido. Certamente uma que vai passar a ganhar ainda mais significado agora, infelizmente.

Holy for Tonight – Álbum: Ordinary Man (2020)

Os dois últimos álbuns da carreira do Madman são cheios de momentos emocionantes, profundos e significativos, e aqui não é diferente. Com arranjos orquestrais e clima introspectivo, ela parece um adeus, quase como se ele estivesse se despedindo da vida, da carreira, do público. A interpretação vocal é cheia de sentimento e vulnerabilidade — algo que raramente se via tão escancarado nas fases anteriores dele. Tem um quê cinematográfico, como se estivesse pronta para tocar nos créditos finais de um filme.

Immortal – Álbum: Patient Number 9 (2022)

Não tinha como não encerrar essa lista com uma música que se chama IMORTAL. Ozzy em modo ataque total. As guitarras ficam a cargo de Mike McCready (Pearl Jam), e apesar de ser um guitarrista mais ligado ao grunge, aqui ele entra no clima sabbathiano, despejando bends arrastados e distorção pesada com classe. Nada virtuoso — é sentimento e sujeira, como deve ser. Aqui o Ozzy soa mais afiado e sarcástico, quase zombando da própria condição física, enquanto vocifera com a velha arrogância do Príncipe das Trevas. O refrão simplesmente define tudo:

Pessoas vêm e vão
Algumas histórias nunca são contadas
Eles me enterram a sete palmos
Mas eu nunca irei morrer
Porque eu sou imortal
Sim, imortal

Essa é mais uma das que tem que ganhar mais reconhecimento de agora em diante.

Bônus: Under Cover (2005)

Ozzy inspirou uma quantidade quase incontável de pessoas ao longo dos anos. Mas e as inspirações de Ozzy ao longo da vida? Esses estão retratados no álbum Under Cover, onde o Príncipe faz a sua própria releitura de clássicos dos Beatles, Stones, The Animals, Arthur Brown e muito mais. A versão sombria de “Sunshine of Your Love”, clássico do Cream, é arrebatadora.

Bônus 2:

Não poderíamos deixar de indicar os shows do Ozzy e do Black Sabbath no festival End of the Beginning, que encerrou a trajetória das duas carreiras de forma épica. Neles, vemos Ozzy heroicamente superando todos os seus limites físicos para poder dizer “I Love You All” pela última vez. Falei em alguns lugares: pra mim, o Ozzy é tão foda que ele conversou com Deus e fez um trato de só ir embora depois que pudesse dar adeus para os seus discípulos.

Ozzy Osbourne:

Black Sabbath:

Então é isso, pessoal. Infelizmente teremos de viver em um mundo sem a presença física de Ozzy. Mas apenas física, pois ele estará vivo no coração de cada fã que colocar sua música pra tocar no último volume.

God Bless You, Ozzy! See You on the Other Side.

TEXTO POR GABRIEL FURLANETO