O Aerosmith é uma banda que exala intensidade, disso pouquíssima gente duvida. Por conta disso, a banda divide opiniões: amada por uns, odiada por outros, porém nunca, em hipótese alguma, pode (ou consegue) ser ignorada. Até mesmo seus discos dividem opiniões, veja o caso de Nine Lives, que causou estranhamento a época de seu lançamento (o fatídico ano de 1997), Just Push Play de 2001 (criticado por sua sonoridade digamos, mais pop) e o desnecessário disco de blues, Honkin’ On Bobo de 2004.

Capa do Disco

Como nada é tão ruim que não possa piorar, o Aerosmith levou nada menos que 11 anos para entregar um disco de inéditas, já que Honkin’ se trata de um disco de covers exceto pela canção The Grind, que não é grande coisa. A expectativa era imensa, até que Music From Another Dimension chegou às lojas. Com uma sonoridade leve e água com açúcar, o disco visava reforçar o lado pop da banda. Parece que Steven Tyler e sua gangue estavam dispostos a praticar mais alguns crimes ao lançar esse disco, como mostro a seguir numa análise faixa a faixa do disco em questão. Vamos descobrir se é de fato uma bomba ou se é um bom disco que merece mais compreensão.

Luv XXX – Começo moderninho, a abertura mais sem graça de um disco do Aerosmith, apesar do bom riff. No geral, é uma canção sem graça, com melodias que não grudam na mente. Sem criatividade e totalmente dispensável.

 Oh Yeah – Á primeira vista, levando-se em conta o nome da música, parece se tratar do Kiss, quando ouvimos, porém, não se parece nem com os piores momentos do Aerosmith. A música parece não sair do lugar, não cresce, não envolve e não contagia. Uma tentativa de ser bem humorada se tornou uma das piores coisas do disco e nem o solo de Joe Perry livra essa música da mediocridade. A letra então, melhor nem comentar, pois qualquer criança de 4 anos escreveria algo mais engraçado.

Beautiful – Riff confuso no início, refrão sem força, com a banda parecendo estar cantando de má vontade. Instrumental confuso, parecendo sobras e consequente junção de várias partes de músicas.

Tell Me – Se ao se parecer com o Aerosmith mais recente já estava ruim, imagine com esse comecinho á la Dave Matthews? Piada de mau gosto numa música que não diz nada aos fãs e não passa o que de fato é Aerosmith.

Out Go The Lights – Com um riff que Lembra o Poison em Unskinny Bop, acaba soando com uma cópia barata da banda em questão, o que  não deixa de  ser estranho já que o Aerosmith foi uma tremenda influência para o Poison. De bom aqui só a gaita, o que é muito pouco para uma banda desse calibre.

Legendary Child – Canção com bom riff e bela intro com vocais do jeito que esperamos do Aerosmith. Boa música, poderia estar facilmente em Get A Grip. Solo faiscante de Joe.

What could have Been Love – Aqui sim a coisa ficou séria. Linda balada típica do Aerosmith, instrumental cativante e refrão emocionante. Já há um bom tempo o Aerosmith tem optado por não pôr solos em suas baladas mais recentes, não se sabe o motivo (preguiça de novo?), mas há casos em que nem se faz necessário e aqui realmente estamos falando de uma das canções mais belas já compostas pelos caras.

Street Jesus – O início dá a falsa impressão que algo sensacional vai acontecer, porém o que se ouve a seguir é uma Fever mais esculhambada. O Aerosmith conseguiu plagiar a si mesmo e fazer uma música totalmente esquecível.

Can’t Stop Loving You – Dueto com Carrie Underwood. Balada que apenas tenta mostrar que a banda está antenada com o público atual. O problema é que a música é insossa, Steven parece cantar com preguiça, a banda claramente não tem o menor tesão de tocar isso e Carrie faz o de sempre: arroz com feijão, só que sem um pingo de tempero.

Lover Alot – Animadinha, começa bem e não deixa a peteca cair. Não tem “molho” de clássico, mas não é dos piores momentos do disco.

We All Fall Down – Baladinha emotiva, bonita, com a cara da banda. Nessa musica Steven Tyler rasga o coração com uma interpretação estonteante. Faltou apenas um solo arrasa quarteirão.

Freedom Fighter – Aqui a coisa parece melhorar um pouco. Joe Perry fazendo mais uma de suas intervenções vocais, mais comuns a cada disco do Aero. A voz de Joe é tipicamente de um cantor de blues, o que casa perfeitamente com a música. Riff malicioso, batida irresistível e solo na medida. Um verdadeiro cruzamento de Zz Top e Rolling Stones em uma das melhores canções do disco, que mostram que se deixarem a sonolência de lado, o Aerosmith ainda tem lenha pra queimar.

Closer – Mais uma balada. Saudades de quando balada e Aerosmith era sinônimo de boa música, porque isso aqui é tão interessante quanto levar um vegano pro churrasco.

Something – Com órgão similar ao Deep Purple no início, tudo segue se arrastando com uma morosidade que desanima qualquer ouvinte.  Instrumental xoxo, refrão sem força, e vocal extremamente baixo em relação ao instrumental.

Another Last Goodbye – bela balada no piano, com vocais acima da média. Algumas intervenções de guitarra com Joe Perry controlando o volume manualmente tornam a canção interessante, mas nada além disso. A ausência de um solo marcante soterrou a qualidade da canção. Uma tentativa de soar como Dream On.

Up On A Mountain – Bela bônus track. Riff marcante, vocal potente de Joe e clima bluesy. Uma das melhores do disco.

Oasis In The Night – Bônus track com cara de sobra de estúdio, lembrando muito as sobras que o Led Zeppelin incluiu no seu último disco, Coda. Cantada por Joe também, tem acento country, mas nada que seja marcante.

Sunny Side Of Love – Outro bônus track que não diz a que veio. Melodia e harmonia piegas, vocais sem emoção e instrumental econômico, pra não dizer mais uma vez a palavra preguiçoso.

Mas a pergunta é simples: BOM OU BOMBA??

É uma bela de uma BOMBA, já que ao terminar de ouvir esse disco a sensação de comida requentada fica evidente. O disco nem é tão ruim assim, com alguns bons momentos até. O maior problema é que esses supostos bons momentos são muito aquém de tudo que Steven e sua gangue já fizeram em sua vitoriosa carreira.

Duas coisas precisam ficar claras: o disco é superior a muita coisa lançada por outras bandas de hard rock nos anos 2000, porém por se tratar de um disco do Aerosmith esperamos sempre um nível mais alto, e nisso o disco acaba falhando miseravelmente, com canções oscilando tanto entre o previsível quanto o medíocre que até mesmo entre as boas canções apenas uma ou duas no máximo entrariam numa coletânea dos caras.

Se você começou a se irritar lá em Nine Lives e achou que Just Push Play foi uma sacanagem da banda com os fãs, isso aqui com certeza vai te dar uma dor de barriga da braba. Não que seja totalmente ruim, o problema é que não esperamos essa preguiça toda do Aerosmith, por tudo isso, esse disco é uma bomba, mas daquelas de festa junina, não chega a fazer estrago nem matar ninguém a não ser de raiva.