Segunda-feira é dia duplamente especial: celebramos o aniversário de Rob Halford, o eterno Metal God, e revisitamos um álbum que, embora não figure sempre nas listas de favoritos, merece mais respeito: Point of Entry (1981).
Para mim, ele carrega um valor sentimental enorme. Foi o segundo disco do Judas Priest que meu pai me apresentou quando eu tinha 10 anos — o primeiro foi o poderoso Screaming for Vengeance. Esse encontro precoce com o Judas me ensinou que, às vezes, o que mais fica marcado não é só o disco perfeito, mas aquele que cria memórias.
Lançado em 27 de fevereiro de 1981, Point of Entry foi o sétimo álbum de estúdio do Judas Priest, gravado nos estúdios Ibiza Sound, na Espanha. Emendando o sucesso estrondoso de British Steel (1980), que catapultou a banda ao estrelato, este disco aventurou-se por uma pegada mais leve que o anterior, com um som ao mesmo tempo mais alto, mais “vivo”, porém menos pesado.
As opiniões sobre Point of Entry são bem divididas. Ainda que tenha alcançado certificação de prata no Reino Unido e ouro nos EUA, críticos frequentemente apontam que, apesar do arroubo comercial, o álbum sofreu por falta de energia e criatividade – considerado por alguns como uma versão mais leve do que o Priest costumava entregar.

1. Heading Out to the Highway
A melhor forma possível de abrir o álbum. Um riff vibrante, refrão memorável e um clima que mistura liberdade com aventura. Halford canta com uma energia contagiante, e a base rítmica dá a sensação de estar literalmente pegando a estrada. É um dos grandes hinos “pé na estrada” do metal e resume o espírito mais solar e descontraído do álbum.
2. Don’t Go
Ritmo mais cadenciado e refrão repetitivo, com uma pegada quase dançante. Não é pesada, mas tem um balanço que mostra o lado mais “pop” que a banda queria explorar. É simpática, embora não brilhe tanto.
3. Hot Rockin’
Aqui está outro grande momento. Uma música simples, curta e direta, mas cheia de atitude. O riff é seco, a batida constante e o refrão é puro rock de bar lotado. É impossível não imaginar Halford incitando o público enquanto a banda despeja pura diversão. Funciona perfeitamente ao vivo e tem aquele sabor rebelde que só o Judas Priest consegue dar.
4. Turning Circles
Faixa pouco lembrada, mas com uma melodia interessante e guitarras limpas que dão um ar quase melancólico. Não é das mais explosivas, mas mantém o clima de estrada e diversidade sonora.
5. Desert Plains
A obra-prima do disco. Atmosférica, com um andamento mais arrastado, criando imagens de horizontes distantes e desertos sob o sol. Halford entrega uma performance inspirada, cheia de sutilezas, e as guitarras pintam paisagens sonoras com maestria. É a prova de que Point of Entry pode ser profundo e emocional quando quer. Merecia estar entre as faixas mais celebradas da carreira da banda.
6. Solar Angels
Intro misteriosa, riffs cortantes e refrão poderoso. É a ponte perfeita entre o peso clássico do Judas e a fase mais comercial deste disco. Um verdadeiro clássico “escondido”.
7. You Say Yes
Aqui está o ponto fraco. A faixa tenta ser leve e divertida, mas acaba soando deslocada e sem inspiração. É a única música que realmente destoa de forma negativa no álbum — parece mais um lado B descartável de sessão de estúdio do que algo digno de entrar no tracklist.
8. All the Way
Um rock básico, descomplicado e energético. Não é marcante como as melhores do álbum, mas tem seu charme despretensioso.
9. Troubleshooter
Com riffs bem definidos e clima descontraído, mantém a coesão da reta final, mas também não é um destaque. Funciona melhor como “trilho” para chegar ao encerramento.
10. On the Run
Fechamento veloz e pulsante, reforçando o tema de movimento e viagem que permeia o disco. É como se o álbum terminasse acelerando para um próximo destino.
Veredito final: Bom ou bomba?
Point of Entry é, sim, um disco muito bom — e um dos mais injustamente subestimados da carreira do Judas Priest. Contém alguns clássicos absolutos da banda (Heading Out to the Highway, Hot Rockin’, Desert Plains) e prova que eles sabiam inovar sem perder identidade. Não tenta repetir o impacto de British Steel nem prever o sucesso de Screaming for Vengeance; é um álbum de estrada, pensado para soar com liberdade e experimentação, alternando momentos grandiosos com passagens medianas — e um deslize real em You Say Yes.
No dia do aniversário de Rob Halford, revisitar este trabalho é também celebrar sua versatilidade. Mesmo em um disco cercado de opiniões divididas, Halford entrega interpretações memoráveis, enquanto a banda constrói músicas que grudam na memória e funcionam tão bem ao vivo quanto no estúdio.
Mais que um “patinho feio” da discografia, Point of Entry é uma obra que respira aventura e ousadia. Longe de ser a “bomba” que alguns críticos pintam, é um álbum sólido, repleto de energia, com espaço para experimentação e momentos que se tornaram parte essencial do legado do Judas Priest.
