Não há quem seja fã fiel de Heavy Metal no Ceará que não conheça ou não tenha sido influenciado por Sílvio César Miranda Barros. O vocalista da BEOWULF se calou hoje, 11 de junho, como consequência da Covid 19.
A praga que já levou tantos talentos desde o ano passado venceu o gigante que foi um dos percussores no metal cearense. Se o poema épico “Beowulf” aparece como uma das bases do idioma shakespereano, talvez não por desejo consciente de seu autor ou autora (que sequer sabemos quem é), a banda BEOWULF também aparece, de forma involuntária, como base de toda a cena metálica alencarina. Aqueles estudantes em sua época não queriam ser pioneiros em nada. Para a humildade de Sílvio César uma pretensão assim era algo incabível. Aqueles estudantes só queriam se divertir tocando o Heavy Metal, gênero que os havia recentemente conquistado.
E com muita melodia, muito peso, muito sonho e inspiração em bandas como IRON MAIDEN, MANOWAR e MERCYFUL FATE, a BEOWULF lança em 1990 a primeira demo, auto-intitulada, com faixas como “Angel Hammer”, e “Destiny Visions”, que logo tornaram-se sucesso, especialmente a primeira, um hino natural no underground cearense. “Falling Race” e “Flying Free” completavam a fita cassete gravada por Sílvio, Cláudio Barros (irmão de Sílvio – guitarra) e Tales Groo (hoje líder da DARKSYDE, na outra guitarra), André Rodger (FIRELINE – baixo) e Harold Junior (bateria).
Dois anos depois, com uma nova formação (Marcelo Romcy e Hélio substituindo Tales Groo e André Rodger), a banda lança sua segunda demo, “The Black Forest” com mais quatro faixas. Infelizmente, fora uma canção, “Another Way” lançada na coletânea Projeto Mythus (1995) não há mais registros de novas composições da banda, que enfrentou um longo hiato até ser reativada por Sílvio em 2015 e participar do evento Tempestade Metalica XXX, celebrando os 30 anos de um dos primeiros festivais realizados na capital do Ceará.
Além da música, Silvio se destacava pela extrema simpatia e gentileza. “Era uma das pessoas mais gentis que eu já conheci“, posso dizer como se estivesse respondendo a uma entrevista. Sílvio recebia a todos com um sorriso acolhedor. E, calada agora, sua fala tranquila leva consigo uma infinidade de causos e relatos de como surgiu, se desenvolveu e resistiu o Heavy Metal neste estado sempre dominado por ritmos mais populares. Parabenizar cada personagem dessa cena com uma imagem personalizada por ocasião dos aniversários era também um costume que aproximava o gigante de cada um dos headbangers que o conheciam. As demos lançadas pelo BEOWULF jamais foram remasterizadas, mas não há um headbanger cearense que não tenha submetido o pescoço ao poder de “Angel Hammer”.
Sílvio César Miranda Barros se junta agora a Carlinhos Perdigão, baterista, também vítima da Covid19, e outras 533 mil brasileiros que partiram desde o ano passado (e até quando e quantos mais?). Ele se junta também a seus amigos Andre Matos (VIPER, ANGRA, SHAMAN) e Mauro Linhares (DARK AVENGER) num coro metálico sobre as nuvens. Estejam em paz, Angel Hammers.