No sábado passado, o Musicorum recebeu um evento no qual, eu, Augusto Hunter estava esperando demais, seria a minha chance de ver pela primeira vez o grande Vazio, banda de Black Metal Paulistana que lançou um dos melhores discos do estilo em 2020, o(pra mim) já clássico Eterno Aeon Obscuro e ainda teriam os shows do Velho, Gore, Baga e Dor Profana, mas a minha saúde não me permitiu e eu não pude ir, mas contei com uma querida amiga, a Karol Gabriel Tostoy esteve no evento e nos conta, em seu relato, como foi a noite de Lama Negra, no Musicorum.
“Cheguei às 20:15 no Musicorum para o festival, achando que ia chegar atrasada, mas nem a maioria das bandas tinham chegado ainda. A gente acaba relevando porque é o Rio e é meio cultural isso aqui, mas é f***\, porque o lugar não tinha onde sentar e tava um calor do caralho, né? Eu vim quase que direto do ato por justiça para Moise que teve na Barra e tava toda quebrada, mas já tinha uma galera lá e deu pra levar. Devem ter tido, no momento mais cheio, umas quase 100 pessoas na casa (que é beeeem pequena), o que mostra que, com todas as contradições, existe sim cena no RJ até pra black metal mesmo.
O evento foi começar mesmo pra lá de 22:00 com o Dor Profana, que toca um black metal muito interessante – é “clássico”, mas não no sentido de lembrar o quase speed de Venom e Sarcófago, nem a onda norueguesa que todo mundo conhece, e sim porque tem muitos toques (principalmente nas guitarras) de Black Sabbath, Candlemass, algo nessa linha doom quase épica dos anos 70 que eu realmente não esperava. Na sequência entrou o Gore, banda de São Gonçalo (minha terra!), tocando um Goregrind que, como todo grind, é rápido pra c*****, violentaço e pesadão, com músicas curtinhas… mas que foi surpreendentemente DIVERTIDO – você olhava em volta e tinha um monte de gente dançando e sorrindo, e os próprios músicos pareciam estar com um humor muito bom ali. O som do microfone infelizmente tava bem ruim (aliás em quase todos os shows, mais sobre isso depois), então tava mais incompreensível até do que o normal pra grindcore, mas o vocalista passava uma teatralidade impressionante, ele alternava os sorrisos com uma cara de um sofrimento que parecia que tava com a garganta pegando fogo, sensacional.
Depois de uma pausa entrou uma das bandas mais conhecidas da noite, o Velho, de Duque de Caxias que a essa altura já é um Velho (viram o que eu fiz?) conhecido dos fãs de black metal no Brasil inteiro. Tocando um speed/black clássico e sujão, com todo mundo cheio de corpsepaint na cara, eles de fato deram um senhor espetáculo e fizeram todo mundo entrar na festa. Provavelmente o momento mais apoteótico foi quando tocaram a fenomenal “Satã, Apareça!“, do “Decrepitude e Sabedoria” de 2015, que fez a casa quase cair de tanto que geral pulou. Destaque para o guitarrista e vocalista Caronte, que tava contagiante com a voz esganiçada e uma senhora presença de palco.
Depois disso passamos para os visitantes do dia, o Vazio de SP. Originários do crust e hardcore, os membros montaram esse projeto de black metal em 2016; não conversei com eles pra ver se foi o caso, mas no mundo inteiro (principalmente Alemanha e Brasil) muitos músicos dessas cenas tem migrado pro Black depois que se começou a falar de RABM nas redes sociais e ficou claro que Black Metal não é coisa só pra nazi. E senhores, que bem isso fez, porque nos legou grandes bandas, como o Pessimista de SP, o Batushka (de verdade) da Polônia, o Tristengrav da Grécia ou o Arde da Alemanha… e sem dúvida o Vazio merece entrar nessa lista, porque meu amigo, QUE SHOW! Eles tocam Black Metal Extremamente Violento e Rápido, mas também estupidamente melódico e ao mesmo tempo meio dissonante, lembrando um pouco Uada, Mgła ou o próprio Batushka, e fazem isso com uma presença de palco impressionante – o baixista Nilson e o guitarrista Eric muito concentrados em seus instrumentos (compreensivelmente, porque são partes beeem complicadas que eles fazem), mas o baterista Daniel e principalmente o vocalista e guitarrista Renato interagem muito com o público. Eu não faço idéia de como o Daniel saiu vivo depois da quantidade de blastbeat que ele meteu naquela bateria, porque sério, praticamente não parava a metralhadora, e encaixadinha. Showzaço, apoteótico, de uma banda que definitivamente tem que ser mais conhecida! O único problema é que o microfone do Renato simplesmente não funcionava direito na maior parte do tempo; me parece que tava tendo algum problema com interferência com a guitarra dele, o que levou ele no final a largar a guitarra e pegar o microfone que o Nilson usava pra fazer backing, e AÍ SIM deu pra ouvir os urros dele direito. Muito f***.
Teria ainda outra banda, a Baga, que inclusive pelo que eu entendi foi parte da organização do evento e toca grindcore, mas o Vazio parou de tocar quase às 4 da manhã e muita gente já tinha ido embora; quando o Vazio fechou o set quem ainda tava aguentando se preparou pra meter o pé (inclusive eu), e me parece que a Baga acabando não tocando. É uma pena, mas tipo… cinco bandas começando dez da noite realmente é foda, né? Nada que não se possa fazer direito da próxima vez – e tomara que tenha uma logo!”
E assim minha querida amiga me fala como foi esse evento e sabe o sentimento que eu tenho, que tristeza, queria ter ido, demais ao Musicorum na Lapa, mas infelizmente minha saúde não me permitiu e ela fez essa incrível cobertura para gente, muito obrigado.