A espera finalmente acabou. A tão aguardada tour de 40 anos do Dream Theater teve seu pontapé inicial na mítica O2 Arena em Londres, na península de Greenwich. É lá que passa o famoso meridiano de Greenwich (lembra das aulas de Geografia na escola?), que divide a Terra em dois hemisférios, o ocidental (ou oeste) e o oriental (ou leste).

Foto por Tathy Gianotti

A tour era aguardada com sabor mais do que especial para os fãs mais antigos da banda. A lenda Mike Portnoy está de volta para assumir as baquetas da banda depois de 14 anos. Seu último show com a banda tinha sido em 08 de agosto de 2010.

20 de outubro de 2024 foi um dia histórico para os fãs da maior banda de metal progressivo. 3 horas de show em um setlist cheio de clássicos e algumas surpresas (e que surpresas!).

A atmosfera no complexo O2 era um misto de ansiedade e alegria por finalmente rever Mike Portnoy na banda. E, para coroar esse primeiro show, o DreamTheaterWorld, fã clube internacional do Dream Theater, realizou uma festa em um dos pubs do local com direito a sorteio de brindes. E claro que a Headbangers Brasil conseguiu um mimo para sortear entre os fãs da banda. Então fique ligado que logo mais contaremos como você pode participar.

Enfim, vamos ao que importa: o show. O tão aguardado setlist finalmente seria revelado. As apostas dos fãs nas redes eram diversas, mas, com certeza, algumas músicas que foram apresentadas nenhum fã teria apostado.

O show foi dividido em 2 atos e mais o encore. Começando pontualmente às 19h25, como já havia avisado Portnoy nas redes, devido ao restrito horário de funcionamento da casa (todos para fora às 22h30).

O lado cinéfilo do baterista aflorou novamente na experiência. No horário marcado para o início do concerto, começou a tocar Prelude, de Bernard Herrmann, a famosa música trilha de Psicose, de Hitchcock. Todas as pessoas da plateia que estavam sentadas automaticamente se levantaram em antecipação e as primeiras notas de Metropolis pt. I começaram a soar. A cortina se vai e o show oficialmente começa com um dos maiores clássicos da banda. Nos primeiros instantes já se percebe a alegria dos músicos em cima do palco. Realmente eles desejavam muito que a tour iniciasse, assim como todos os fãs.

Seguindo o show, mais clássicos, como não poderia deixar de ser! Act I: Scene two: I. Overture 1928 e Act I: Scene two: II. Strange Déjà Vu mostrando toda coesão da banda tocando músicas de um dos mais aclamados álbuns de metal progressivo da história, Scenes From a Memory de 1999 (comemorando 25 anos de lançamento dia 26 de outubro). Nesse momento toda a banda saúda o público e pela primeira vez James LaBrie se dirige aos fãs perguntando se reconhecem “alguém” no palco. A plateia vai à loucura, pois sabem que a referência é sobre Mike Portnoy, que estava visivelmente emocionado.

Foto por Tathy Gianotti

LaBrie então anuncia a próxima música, de um álbum que está comemorando 30 anos. Claro que ele está falando de Awake, de 1994. The Mirror. Uma música absurdamente pesada, até para os padrões da banda. Destaque para o telão, que durante todo o show foi um espetáculo à parte. Durante essa música, ele passa pelos vários elementos da capa do álbum. Outro destaque são os backing vocals do baterista que faziam muita falta, dividindo muito bem essa tarefa com o guitarrista John Petrucci. E o destaque final em The Mirror fica para a keytar de Jordan Rudess.

Nesse momento, todo mundo esperava que começasse Twelve-step Suite, saga musical em que cada uma das 5 músicas é subdividida em 12 seções (The Glass Prison tem as partes “I. Reflection”, “II. Restoration”, e “III. Revelation”, This Dying Soul tem as partes “IV. Reflections of Reality Revisited” e “V. Release”, The Root of All Evil tem as partes “VI. Ready” e “VII. Remove”, Repentance tem as partes “VIII. Regret” e “IX. Restitution” e finalmente The Shattered Fortress tem as partes “X. Restraint”, “XI. Receive” e “XII. Responsible”) e versam sobre a experiência de Mike Portnoy com o alcoolismo, pois muitos consideram The Mirror uma espécie de prologo já que também fala sobre o alcoolismo. Cada seção representa um número do Programa de 12 passos, famoso método criado nos Estados Unidos para tratamento do alcoolismo. Mas eis que a banda surpreende e toca Panic Attack, música maravilhosa do álbum Octavarium e que não era tocada ao vivo desde 2015.

E somos transportados para 2019, ano de lançamento de Distance Over Time, décimo quarto álbum de estúdio da banda. LaBrie explica que a música que estamos prestes a ouvir fala sobre 2 pessoas que são muito diferentes, mas que estão passando por momentos parecidos na vida e embora elas não saibam onde as coisas deram errado sempre há esperança de as coisas melhorarem. Ele então anuncia Barstool Warrior, música de melodia e letra belíssimas (You will become all you think, all you feel, all you dream – Você vai se tornar tudo que você pensa, tudo que você sente, tudo o que você sonha).

E se você está se perguntando como Mike Portnoy se saiu tocando pela primeira vez uma música da “era Mangini”, a resposta é maravilhosamente bem, obrigada! Embora a escolha de Barstool Warrior possa ter sido uma surpresa para muitos, ela casou muito bem com o setlist e Portnoy conseguiu colocar seu icônico estilo nela e a executou perfeitamente.

Um belíssimo e emocionante duo entre Jordan Rudess e John Petrucci tem início para introduzir outro clássico da banda: Hollow Years, executada na sua versão demo. Portnoy não brincou quando disse que o show seria cheio de surpresas! Um momento lindo de interação entre público e banda: a arena foi iluminada por celulares e o coro foi cantado em uníssono (com direito a muita emoção e choro!).

E a coisa fica pesada de novo com Constant Motion (e dá-lhe mais backing vocal de Portnoy #estavamoscomsaudades) e As I Am, que foi escrita num momento de revolta de John Petrucci (como já contamos aqui). E assim se encerra o primeiro ato.

20 minutos depois, como prometido por LaBrie, a banda está de volta. Novamente destaque para o telão, que passeia por símbolos e capas de álbuns da banda ao som de uma trilha composta por junções de clássicos da banda. E a música escolhida para abrir esse segundo ato é Night Terror, recém-lançada pela banda em 10 de Outubro desse ano e primeiro single do álbum Parasomnia que tem lançamento previsto para 07 de Fevereiro de 2025.

E a primeira impressão ao vivo foi das melhores! Essa música é um verdadeiro display do que é o Dream Theater. Destaque para nosso querido Silent Man, John Myung. Aliás, o som do baixo estava incrível durante todo o show.

E em um “Dramatic Turn of Events”, eis que LaBrie fala que a principal mensagem da próxima música é sobre ser você mesmo e sentir orgulho disso, afinal, só você é você. E então começa This is the Life do (adivinha?) A Dramatic Turn of Events, álbum de 2011 e o primeiro de Mike Mangini nas baquetas. Uma música que, com certeza, não fez parte do bolão de ninguém, mas que funcionou lindamente no set. E foi mais um momento bastante emotivo, com os celulares novamente iluminando a arena do começo ao fim da música.

Para elevar um pouco o clima, Under a Glass Moon, mais um clássico do maravilhoso álbum Images & Words de 1992, com um dos solos de guitarras mais icônicos de John Petrucci na nossa opinião.

E então, para surpresa geral, a banda segue com Vacant e destaque para o arranjo criado para substituir o violoncelo da versão original. Vacant não era tocada ao vivo desde 2006. E para balancear com a singeleza dessa música temos a poderosa instrumental Stream of Conciousness, que é acompanhada de palmas da plateia durante seus quase 12 minutos. Pura celebração.

E para coroar esse set, Octavarium. A explosão que se viu nesse momento na plateia é até difícil de descrever. Desconhecidos se abraçando e comemorando juntos, outros chorando. Definitivamente, a atmosfera era de pura alegria por ouvir um dos maiores clássicos da banda, para muitos pela primeira vez, já que a música não era tocada ao vivo desde 2006.

O destaque aqui certamente vai para o nosso Capitão Pirata James LaBrie e seu poderoso vocal, especialmente na parte “Trapped inside this Octavarium” que foi executada com maestria e força. Mais um momento para ficar na memoria e no coração desse show histórico. E assim se encerrou o segundo ato.

Passados poucos minutos, o telão passa a exibir um trecho do filme o Mágico de Oz, onde Dorothy se despede de seus amigos: o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Nesse momento, ela bate seus sapatos vermelhos 3 vezes e diz a icônica frase: “There is no place like home”! E sim, ouvimos os primeiros acordes de Act II: Scene Six: Home, do aclamado Scenes From a Memory. Mas, mais do que isso, a mensagem é clara, pois sabemos que as coisas estão definitivamente como elas deveriam estar e que nosso querido Mike Portnoy está de volta em casa!

E vem mais um momento sempre emocionante em qualquer show do Dream Theater, uma das músicas favoritas do público. Scene II: Act Eight: The Spirit Carries On. Mais um momento com muita emoção por parte do público, que chora, canta junto e acende a arena com as luzes dos celulares. E temos mais um momento icônico quando Mike Portnoy também acende a lanterna de seu celular, acompanhando os movimentos do público. Definitivamente inesquecível.

E quando os primeiros acordes de Pull Me Under invadem a arena sabemos que, infelizmente, a festa está chegando ao fim. E não tinha como ser diferente, pois foi Pull Me Under que catapultou o Dream Theater para o sucesso lá em 1992.

Se valeu a pena a ida até Londres? Absolutamente! Mas, se você não pôde ir até a terra do Charlinho, fique ligado que essa tour vai passar pelo Brasil em Dezembro.

TEXTO POR TATHY GIANOTTI

10 de Dezembro – Belo Horizonte
13 de Dezembro – Rio de Janeiro
15 de Dezembro – São Paulo
16 de Dezembro – Curitiba
17 de Dezembro – Porto Alegre